Cabe aos leitores perdoar, ou não, o perscrutador autor destas linhas por não ter escrito mais cedo o que verdadeiramente se passou - não se pode confiar nas versões oficiais (LOL) - na passada sexta-feira, dia 16. O rigor de um fim de semana de copo na mão, mais uns dias a diambular por travessas de lampreia no Mondego, obrigou o autor a descanso e algum afastamento.
Tudo tomou lugar no belíssimo edifício da Alfândega no Porto para a atribuição dos prémios "Os melhores do ano - Revista dos Vinhos". Como sempre sucede nas cerimónias desta índole, foi prémios para aqui, prémios para ali, intervenções aqui e agradecimentos acolá. A melhor demonstração do impacto dos prémios da RV surge nos dias seguintes à cerimónia. No Sábado já se discutia se A Veneza foi merecedora do prémio de Garrafeira do Ano ("aquilo é um restaurante e não uma garrafeira" - ouviu-se em cada esquina). Dois dias depois ainda se duvidava que o prémio de enoturismo assentava bem à Quinta Nova Nossa Sr.ª do Carmo ("a piscina está sempre suja" - foi um comentário comum). Quanto a nós, como é sabido, gostamos de tanto de comer n' A Veneza (ver aqui e ali) como de pernoitar na Quinta Nova Nossa Sr.ª do Carmo (ver aqui). Por nós tudo bem, prémios bem entregues.
Discussões à parte, os prémios dos vinhos foram consensuais e passearam nas mãos de gente ilustre e conhecida como Domingos Alves de Sousa, Luís Duarte, Peter e Charles Symimgton. Também as equipes por detrás dos projectos Altas Quintas, Real Companhia Velha e Coop. de Santo Isidro de Pegões foram - e bem! - premiadas. O prémio especial entregue a José Quitério foi um verdadeiro momento de emoção, pelo menos para mim que acompanho as suas crónicas faz mais de uma década. Em suma, muitos parabéns à RV pelo fulgor em organizar, uma vez mais, um evento no qual o melhor do universo dos vinhos nacionais se encontra representado.
Mas naquele jantar – belíssimo jantar, fantásticas entradas, sobretudo se pensarmos que se tratavam de mais de 800 convivas – surgiu então algo de inesperado. A normalidade habitual neste tipo de eventos foi interrompida! Como se imagina, a composição das mesas encontrava-se ditada pelos vencedores, pelos produtores mais emblemáticos, por algumas figuras da cidade do Porto e demais convidados solenes, e, evidente, pelos jornalistas e provadores da RV. Ou seja, tudo como mandam os cânones. Porém, eis que, quase no fim da sala, firme se equilibrou a mesa n.º 81 com nove bravos delegados da "imprensa mais independente do país" (a frase é de um conhecido produtor). Por isso, e talvez só por isso, a surpresa da noite não foi o prémio atribuído à Bacalhôa Vinhos como Empresa do Ano de vinhos generosos!
A surpresa da noite foi a presença de nove blogistas, tão independentes que se mostraram mesmo independentes entre si. Foi quase impossível o consenso naquela mesa. Tão independentes e pró-activos que criticaram in loco os vinhos premiados, e poucos são capazes de imaginar o mal dizer que sofreram alguns prémios de excelência... Os blogistas não tiveram descanso, foi sempre a trabalhar. Vinhos premiados, vinhos raros, vinhos de preço altíssimo, uns e outros foram - ali mesmo na mesa n.º 81 - criticados sem apelo nem agravo.