quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Calços do Tanha Reserva (T) 2004


Mais uma colheita de Calços do Tanha Reserva, e mais um bom vinho repleto de fruta madura. O estilo dos vinhos de Manuel Pinto Hespanhol são marcados pela fruta, mas não tendem a ser agressivamente doces, bem pelo contrário. Por outro lado, a ausência da touriga nacional no lote deste Reserva (apenas existe em versão monocasta, bem boa por sinal) torna este tinto um dos poucos durienses de qualidade sem recurso à "casta rainha portuguesa".
Não por isso, mas por muito mais (incluindo o preço estável faz anos), os vinhos do referido produtor têm vindo a fazer parte das nossas preferências (ver aqui, ali e ainda ali).

No copo é marcado por uma cor cereja escura no centro, e vermelha claro na auréola - aqui não existem opacidades! Nariz marcado pela fruta vermelha, muito mirtilho e framboesa. É um daqueles tintos que "vai directo ao assunto", muito personalizado, pelo que se torna um vinho sedutor e aprazível. Com o passar dos minutos no copo algumas notas de fruta preta destacam-se e o final, de média intensidade, traz consigo uma complexidade curiosa oriundo de um leve balsâmico e notas achocolatadas.

Em suma, tem tudo aquilo por que se espera de um Calços do Tanha Reserva. Ainda bem!
A menos de 14€.

16,5

domingo, fevereiro 25, 2007

Quinta dos Avidagos (B) 2005


Por esta é que não esperávamos...

Sabíamos que os tintos da casa Nunes de Matos eram valorosos – ver aqui – mas não esperávamos tanta qualidade neste Quinta dos Avidagos (B) 2005. Tanto mais que o preço anda pelos simpáticos 5 €, ou seja muito abaixo do que se cobra actualmente por um branco sério.

Pois bem este Avidagos branco é uma pequena maravilha, resultado de um lote de malvasia fina, gouveio real e vital. É-o logo no nariz, fresco, com notas pujantes a ananás e maracujá. Depois, uma boca leve, elegante e de textura ligeira ajuda as notas levemente citrinas a chegarem a "bom porto". Belo final, vivo, persistente mas não impositivo ou untuoso. Um branco no qual se pode confiar com a subida da temperatura no copo pois mantém-se deleitoso e de acidez graciosamente teimosa.

Talvez o melhor branco do Douro a menos de 10 €, neste caso bastante abaixo desse preço. É caso para abastecer a garrafeira!

16,5

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Terrenus Reserva (T) 2004


Este é já um dos nossos tintos predilectos resultantes da colheita de 2004.
É mesmo caso para dizer que podia muito bem ser um dos melhores do ano - e é mesmo para a RV, vejo agora na edição de Fevereiro.

Carácter vinioso, tudo muito intenso mas não demasiado marcante ou carregado. Toda uma consistência só possível quando se tratam de vinhas muito velhas. É um tinto seco, que começa fechado no nariz, talvez mesmo austero, mas depois revela-se um autêntico "poço sem fundo". É uma estrada sem fim no que toca a aromas, mas também na boca. Saboroso, é um tinto absolutamente sem qualquer traço de monotonia, um daqueles vinhos que até pode passar despercebido senão lhe dermos a atenção merecida.

Madeira delicada, sem excesso, final longo, e fruta sem maçar: que combinação de luxo! Faz tempo que o "terroir" da serra S. Mamede não nos oferecia um vinho assim. Parabéns ao enólogo/produtor Rui Reguinga.

A menos de 27 €, com direito a entrada directa para os nossos favoritos.

18

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Essencialmente...

Eram muitos os vinhos que me esperavam na Essência do Vinho. Estavam anunciados cerca de 2000, mas como o devaneio vai passando com a idade, apressei-me a provar alguns brancos no Sábado e menos tintos ainda no Domingo. Uma imperiosa pré-selecção impõe-se nestes eventos.
Entre os brancos que fiz questão de provar, gostei muito do Quinta da Sequeira (B) 2006 (vai dar que falar...), dos sempre inesperados Dona Berta Rabigato (B) 2005 e Escolha Pessoal Alves de Sousa (B) 2003, e do internacional e deveras perfumado Valle Pradinhos (B) 2005. Curiosamente, muitos dos brancos que mais destaque têm merecido junto da imprensa escrita mostraram-se, na minha boca, um pouco pesados e, em alguns casos, excessivamente madeirosos (num deles, por sinal um dos brancos mais cotados do mercado, cheguei a sentir notas intensas a café).
Nos tintos, o meu gosto virou-se à descoberta de novidades ou de néctares que ainda não tinha provado: Dona Maria Reserva (T) 2004 (infelizmente mais consensual e "fácil" que o maravilhoso 2003), Herdade do Meio Garrafeira (T) 2003 (vinho cheio e gordo, muito bom), Além Tanha VV (T) 2004 (grande salto de qualidade face os anteriores), Quinta da Sequeira Reserva (T) 2003 (o mesmo estilo rústico e directo da casa, mas com fruta mais acessível).
Perguntam-me: e o que dizer dos VT 04 (T), Secret Spot (T) 2004, JM (T) 2004, Talentus (T) 2004? O que dizer desses tintos durienses? Provei-os efectivamente (alguns já os tinha provado), e são realmente bons. Porém, salvo uma ou outra excepção, mostraram um perfil muito semelhante entre eles. Esta é aliás uma característica que começei a detectar nos grande vinhos do Douro e sobre a qual espero escrever mais no futuro. Talvez seja por fugirem a esse registo que alguns vinhos distintos - como o Abandonado (T) 2004 (muito exótico) e o Poeira (T) 2004 (intenso mas com muita frescura) - têm tido merecido maior sucesso. A ausência de contraste levou-me, por vezes quando necessitava de algo diferente, a seguir para o stand da "FineWines" e beber algo diferente... um Quinta Sardónia (T) 2004, por exemplo.
Destaque inevitável para algumas provas comentadas, sobretudo a de vinhos doces, ministrada por Rui Falcão, absolutamente inesquecível entre moscatéis de montanha, "icewines" e "tokais".
É verdade que a quantidade enorme de público torna o evento cansativo, mas esse parece ser o preço da conquista do público do Porto. A Essência do Vinho está consolidada como um dos maiores eventos vinícolas de Portugal.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Os melhores do ano - RV


Cabe aos leitores perdoar, ou não, o perscrutador autor destas linhas por não ter escrito mais cedo o que verdadeiramente se passou - não se pode confiar nas versões oficiais (LOL) - na passada sexta-feira, dia 16. O rigor de um fim de semana de copo na mão, mais uns dias a diambular por travessas de lampreia no Mondego, obrigou o autor a descanso e algum afastamento.
Tudo tomou lugar no belíssimo edifício da Alfândega no Porto para a atribuição dos prémios "Os melhores do ano - Revista dos Vinhos". Como sempre sucede nas cerimónias desta índole, foi prémios para aqui, prémios para ali, intervenções aqui e agradecimentos acolá. A melhor demonstração do impacto dos prémios da RV surge nos dias seguintes à cerimónia. No Sábado já se discutia se A Veneza foi merecedora do prémio de Garrafeira do Ano ("aquilo é um restaurante e não uma garrafeira" - ouviu-se em cada esquina). Dois dias depois ainda se duvidava que o prémio de enoturismo assentava bem à Quinta Nova Nossa Sr.ª do Carmo ("a piscina está sempre suja" - foi um comentário comum). Quanto a nós, como é sabido, gostamos de tanto de comer n' A Veneza (ver aqui e ali) como de pernoitar na Quinta Nova Nossa Sr.ª do Carmo (ver aqui). Por nós tudo bem, prémios bem entregues.
Discussões à parte, os prémios dos vinhos foram consensuais e passearam nas mãos de gente ilustre e conhecida como Domingos Alves de Sousa, Luís Duarte, Peter e Charles Symimgton. Também as equipes por detrás dos projectos Altas Quintas, Real Companhia Velha e Coop. de Santo Isidro de Pegões foram - e bem! - premiadas. O prémio especial entregue a José Quitério foi um verdadeiro momento de emoção, pelo menos para mim que acompanho as suas crónicas faz mais de uma década. Em suma, muitos parabéns à RV pelo fulgor em organizar, uma vez mais, um evento no qual o melhor do universo dos vinhos nacionais se encontra representado.
Mas naquele jantar – belíssimo jantar, fantásticas entradas, sobretudo se pensarmos que se tratavam de mais de 800 convivas – surgiu então algo de inesperado. A normalidade habitual neste tipo de eventos foi interrompida! Como se imagina, a composição das mesas encontrava-se ditada pelos vencedores, pelos produtores mais emblemáticos, por algumas figuras da cidade do Porto e demais convidados solenes, e, evidente, pelos jornalistas e provadores da RV. Ou seja, tudo como mandam os cânones. Porém, eis que, quase no fim da sala, firme se equilibrou a mesa n.º 81 com nove bravos delegados da "imprensa mais independente do país" (a frase é de um conhecido produtor). Por isso, e talvez só por isso, a surpresa da noite não foi o prémio atribuído à Bacalhôa Vinhos como Empresa do Ano de vinhos generosos!
A surpresa da noite foi a presença de nove blogistas, tão independentes que se mostraram mesmo independentes entre si. Foi quase impossível o consenso naquela mesa. Tão independentes e pró-activos que criticaram in loco os vinhos premiados, e poucos são capazes de imaginar o mal dizer que sofreram alguns prémios de excelência... Os blogistas não tiveram descanso, foi sempre a trabalhar. Vinhos premiados, vinhos raros, vinhos de preço altíssimo, uns e outros foram - ali mesmo na mesa n.º 81 - criticados sem apelo nem agravo.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Quinta do Gradil (T) 2003


Não se sabe ao certo se o Marquês de Pombal chegou a ser mesmo o proprietário da Quinta do Gradil (na altura com outra denominação), mas o rumor perdura pelos suaves vales verdes da Estremadura. Perdidas na lindíssima zona do Cadaval - na qual é merecido o passeio, e aproveitem para almoçar no restaurante "O Lagar" -, ficam as vinhas de touriga nacional, alicante bouschet e syrah das quais resultam este vinho. A imagem gráfica da garrafa surge apelativa, e o néctar tem "arrancado" boas classificações um pouco por todos os anuários.
No copo a cor é muito bonita com um tom vermelho escuro curioso, é mesmo um pouco diferente do habitual: imaginem um morango muito maduro e estaremos lá perto. O nariz é intenso e provocador, mas está muito perto de tantos outros vinhos provados. Existe pouca novidade num "bouquet" vinioso, com notas de madeira nova e referências a geleia e compota.
Na boca é mais interessante, profundamente rústico, um paladar amargo de taninos marcados, balsâmico médio e uma fruta muito negra anti-doce. Final médio onde o carácter duro se mantém e realça. Uma meia hora depois surge fumo e algum couro. Sem dúvida um vinho marcante, de carácter robusto e bem feito. É um vinho que está a meio caminho entre a Estremadura de hoje e o seu futuro. Acompanhará bem queijos fortes e pratos puxavantes. A menos de 12 €.

16

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Os suspeitos do costume

Nem só vinhos portugueses nós vivemos. São também momentos de enorme prazer aqueles em que nos sentamos num bom restaurante em Espanha e nos deixamos levar pelos belos néctares do país vizinho. Parámos em Segóvia, jantámos cochinillo no Cândido e bebemos muito bem...
A primeira nota do jantar vai direita ao preço dos vinhos: nenhum vinho custava mais do que o 1/3 do seu preço em garrafeira! Se a restauração nacional fosse assim, talvez o país não tivesse excedente de vinho e talvez a restauração não fosse um sector onde se apregoa sempre a maldita crise.
A segunda nota foi a diversidade das regiões visitadas. Começamos em Rueda com o belíssimo Palacio del Bornos Barrica (B) 2001, um branco sumptuoso, de cor carregada, com um verdelho menos fresco do que o habitual na região mas de patine excelsa, um branco aristocrata. Depois os tintos e entre estes, alguns dos suspeitos do costume que encontramos quando visitamos Espanha. O muito saboroso San Roman (T) 2003 a mostrar a força e a cor dos vinhos de Toro, carregado de fruta, verniz e "after-eight". Mas também o sempre gastronómico e mui complexo Allion (T) 2001, um tinto feito para a mesa que revelou notas vegetais majestosas provando que Ribera del Duero não é só (ou não é sobretudo) novo-mundo. E claro, o poder de atracção do magnífico Clos Martinet (T) 2001, um Priorat de respeito, ainda jovem com notas fortes a madeira, uma fruta doce muito impudica e um final interminável.
Uma noite imperdível.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Próximos prazeres


Já não se pode aceitar que alguém diga que o vinho português não tem momentos de exposição onde pode ser livremente valorado e apreciado. Em Portugal os certames de vinho estão na moda e ainda bem. Cada vez mais bem organizados, cada vez com mais público (importa, contudo, saber se se trata de um verdadeiro movimento de massas ou apenas uma minoria em cada vez maior número), cada vez com mais expositores, enfim cada vez mais apelativos.
Nos próximos dias 16, 17 e 18 de Fevereiro é a vez da Essência do Vinho (ver programa no site oficial aqui) mostrar o seu valor com um programa ambicioso que promete muita actividade. O local é o do costume, no Palácio da Bolsa, cabendo ao mercado Ferreira Borges receber um verdadeira feira "gourmet". O preço dos bilhetes, como sucede noutros certames, é praticamente simbólico tendo em conta o que pode beber, aprender e conviver. Existirão convidados especiais, provas comentadas, jantares temáticos, descontos, etc. Não existem desculpas para não ir...
Na noite de 16 de Fevereiro, também no Porto, será feita a entrega dos prémios da Revista dos Vinhos, também conhecida pela noite dos "Óscares" no que toca à enofilia nacional. Uma noite sempre especial – já vai na décima edição, é obra! – que irá premiar os melhores néctares, produtores, enólogos e restaurantes, entre muitos outros.
Posto que vamos marcar presença em ambos os eventos, na nossa querida cidade do Porto – é que não existem mesmo razões para não ir... – procuraremos dar o "feedback" de tanta animação e convívio à volta do vinho. Estamos a viver talvez o momento mais activo no que toca a certames e feiras sobre vinho em Portugal. Por isso, toca a aproveitar, "penso eu de que" (cit.)!

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Casa de Aguiar (T) 2004


Já não era a primeira vez que tamanha força nos passara pelo estreito. A anterior foi com a colheita de 2002 (ver aqui) e apreciámos tanto que tivemos que repetir, mas agora com as uvas de 2004. Como gostámos ainda mais deste, foi nossa escolha para representar as Beiras no texto "2006 em revista".

Muito vivo na cor carmim intensa. Vivo e vibrante também no copo, nariz algo reduzido, sensação a álcool e a percepção de uma acidez muito interessante. Forte concentração num corpo já perto de se tornar retinto. Apimentado, com notas vegetais, é um tinto forte, que merece um prato robusto a preceito. Final balsâmico de média-longa intensidade. Com um estilo menos rústico que o 2002, apresenta-se mais redondo, gordo... e eu agradeço.
De mim para mim, teremos de esperar um pouco para que a força descanse. A garrafa fará certamente o resto, guarde 1 ou 2 anos. Mais um belo tinto do universo das "
Caves Aliança"! Quando o bebi pensei num cozido das beiras sem couves, mas não o estava a comer. A menos de 10 €.

17

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Pedra Basta (T) 2005


Faz hoje uma exacta semana que provámos, em "estreia mundial", o mais recente fruto da colaboração entre Richard Mayson e Rui Reguinga (ver foto à direita). Ambos dispensam apresentações cabendo apenas referir que o primeiro, antigo crítico da revista "Decanter", é o novo proprietário da Quinta do Centro bem próximo de Portalegre e da Serra de São Mamede, e o segundo dá o respectivo apoio enológico. A prova decorreu em mais um jantar brilhantemente organizado pelas Coisas do Arco do Vinho no restaurante "A Commenda" em Belém.
Mas vamos ao vinho, o Pedra Basta (T) 2005: é um lote de trincadeira, aragonês, alicante bouschet e cabernet sauvignon que se apresenta correcto na cor, viva e saudável. Nariz jovem, com intensidade, mas é madeira que mais se sente "narinas a fora". O conjunto é doce com a fruta saborosa que não chega a ser sobremadura. Pareceu-nos novo, a precisar muito de garrafa pois a madeira (que é de boa qualidade) está para um lado, e o resto - por enquanto só fruta e um breve balsâmico... - está para o outro.
O final é consensual, do tipo novo mundo, mas não é um espanto. No fim ficámos satisfeitos ao saber que este será o vinho de entrada na gama de Richard Mayson que irá lançar mais dois vinhos. Para estreia e vinho de base está muito bem.
15,5