quarta-feira, janeiro 26, 2011

Provas

4 Castas (T) 2008 & 4 Castas (T) 2009

Regresso às Provas de vinhos recém lançados (mas por pouco tempo, em breve voltaremos aos vinhos "de antigamente"). Provou-se duas colheitas desta nova versão do tinto alentejano 4 Castas. Produzido pela Herdade do Esporão faz já vários anos, mantém uma postura internacional, moderna, muito frutado e de taninos macios. Todavia, apresenta uma qualidade ligeiramente acima do Esporão Reserva e, por isso, tem muitos fãs, sobretudo agora que o seu preço desceu e tornou-se mais competitivo. Um tinto sofisticado, polido, muito sedutor mas que pode acabar por cansar o enófilo que pretende algo mais gastronómico. É, todavia, um vinho de lote, como o nome indica, e isso nota-se durante a prova, com as castas mais "frescas" e taninosas (sobretudo o Alicante B.) a procurarem compensar as mais maduronas. Parte estagia em carvalho americano, parte em carvalho francês.

Das duas colheitas, a de 2009 portou-se melhor, com mais profundidade e complexidade mais vincada (16,5-17). A colheita de 2008 também se portou bem, esteve mais consensual, com menos força na prova de boca e desvios achocolatados e abaunilhados no nariz a piscar o olho para gostos mais comerciais, e a aconselhar menos uso da madeira americana (16-16,5).


Próximas provas: Quinta dos Poços Reserva (T) 2005; Bétula (B) 2009; Senhor da Adraga (T) 2008

terça-feira, janeiro 18, 2011

Novidades

Cottas do Douro

Mais um novo projecto no Douro. Mas, atenção, não apenas mais um... Apresenta-se já com um tinto e um branco, ambos reservas, e ambos muito bons, diga-se. E ambos a óptimo preço abaixo dos €13, o que sempre são boas notícias.

O tinto, da colheita de 2009, é moderno na fruta e no floral emancipado, tem estilo "vaporoso" mas não exibicionista. Revela um toque metálico na prova de boca que alguns poderão não gostar, mas a nós não nos faz confusão. Tem, apesar do carácter internacional, alguma rusticidade que nos agrada - podia ter mais corpo é certo, maior expressão aromática e, sobretudo, mais concentração, mas não deixa de ser mais um belo tinto duriense (16,5).

O branco, também da colheita de 2009, é ainda melhor que o tinto. É subtil na expressão aromática, de enorme leveza, e com forte carácter mineral. Proporciona uma prova de boca plena, sem excessos frutados (bem pelo contrário), sem taninos da madeira onde estagiou, sem untuosidade gordurosa. É um vinho sensível, que deve ser objecto de análise atenta. Saboroso na mineralidade, fresco na acidez. Muito bem (17+).

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Do antigamente (ou nem tanto)

Confradeiro (T) 1995

Não tão vetusto quanto os vinhos anteriores (ver infra), mas, em todo o caso, um vinho tinto com quase 15 anos de vida em garrafa. Denota cor ruby, profunda e muito escura. Não se dá mais do que 5 anos de evolução pela tonalidade, o que demonstra bem como é preciso ter cuidado com as referências (por vezes enganadoras) das cores/tonalidades.

Nariz subtil, está numa fase elegante e bem disposta, por oposição à pujança e rudeza que revelavam estes Confradeiros quando novos (será que outros Douros mais recentes ficarão assim com o passar dos anos?). Madeira muito bem integrada - ainda se sente mas apenas a ligar o conjunto. Boca com fruta encarnada ligeira; a fruta está lá mas não de forma bruta, sendo preciso escutá-la! Muito gastronómico, nada quente, com boa acidez também.

Foi durante bons anos um valor seguro do Douro, da casa "Sandeman" (hoje universo Sogrape), um vinho bem tratado, com boa madeira para estágio e bom acompanhamento enológico. O resultado está à vista: um vinho seguro de si, nem um pouco cansado passados 15 anos. Está numa óptima fase de consumo, aliás, mas poderá evoluir ainda favoravelmente por mais 5 anos. Depois, em princípio, é bebê-las.

terça-feira, janeiro 04, 2011

Do antigamente

Reserva Especial Ferreinha (T) 1977

Fomos longe demais? Levámos a nossa louca predilecção a um nível onde o risco é maior que o prazer? Arriscámos em demasia em troco de um eventual momento de prova da existência de Deus? Sim, fizemos tudo isso, e entrámos em 2011 com a confirmação de uma certeza (e sim, sabemos que é inexoravelmente contraditório confirmar uma certeza).

A certeza essa já aqui foi firmada: a da capacidade de evolução de alguns (poucos, é certo) néctares nacionais. Desta feita, foi caso do Ferreinha Reserva Especial (T) 1977, ou seja mais de 30 anos num vinho tinto não fortificado.

Como estava? A garrafa com nível baixo, preocupante mas não alarmante sobretudo considerando os anos que já decorreram do engarrafamento. O rótulo bastante degradado como a foto atesta. Mas a rolha, essa estava em perfeitas condições apesar de manifestar a vetustez da idade, recheada de vinho. E de que vinho…

Cor ligeira, corpo magro (da idade), ligeiro desvio avinagrado mas sem em nada atrapalhar a prova. De resto, muito bem no nariz ainda com uma ou outra nota a fruta encarnada muito fresca. Os aromas terciários dominam mas não são excessivos e por isso não desconfortam, trazendo apenas um extra na complexidade. A boca é maravilhosa, um vinho fresco, de acidez notável, com sabor subtil e final de elegante prudência.

Melhor que o FRE’84 mas menos impressionante que o BV'85 e, sobretudo, que o colossal FRE’86 (ver aqui), todos da Casa Ferreira, temos aqui um vinho muito especial. Naturalmente, está numa fase descendente (nem poderia ser de outra forma, em sanidade de espírito), mas provem-no se conseguirem por a mão numa garrafa e, se forem como nós, será grande o prazer.