segunda-feira, junho 30, 2008


Quinta Vale D. Maria

Os dias iam passando e o calor apertando (mas nós gostamos disso). Os dias iam passando e eram cada vez mais os vinhos provados (mas nós gostamos disso)! Não, não estamos a delirar e nem carregámos no copy/paste sem querer…

O que queremos dizer é que uma interrogação pairava sobre nós: haveria ainda uma quinta que gostaríamos de ver de perto? Por outras palavras, haveria ainda um projecto sem o qual a nossa visita ao Douro não estaria completa? Havia sim! O seu nome: Quinta Vale D. Maria.

Bem vistas as coisas, não é tanto a quinta em si – apesar de sita numa bonita encosta do vale do rio Torto – que mais nos cativa, antes os vinhos que produz e, em especial, o fantástico CV. Ora, de manhã bem cedinho, mal chegados à Quinta Vale D. Maria por um caminho que só o recurso a uma viatura 4x4 permitiu, fomos recebidos pela sempre eloquente e graciosa Sandra Tavares da Silva (o Cristiano Van Zeller estava ausente do país) que nos tratou de apresentar a propriedade.
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O facto da Quinta ser relativamente pequena, e a casa e a adega serem mesmo exíguas, permitiu-nos uma visita célere a todas as instalações e, assim, irmos quase directamente ao que interessa - às novidades! Ora, dos vários vinhos provados, alguns brancos incluídos - que, contudo, ainda não nos seduziram por completo - é, sem dúvida, o CV (T) 2005 (bem como a amostra do eventual 2007) que mais nos apaixona. Isto apesar das amostras de casco do Vale D. Maria (T) 2007 se revelem bombásticas e muito promissoras. Depois foi tempo de mais alguma conversa à volta dos vinhos da quinta e continuar viagem com a Sandra Tavares da Silva para o mais recente projecto de consultadoria (próximo texto).
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Agradecimentos justíssimos ao Cristiano Van Zeller e à Sandra. Nas fotos, a entrada para a casa da quinta em cima, as "estradas" do Douro (com a Sandra Tavares da Silva a guiar a viatura cinzenta) em baixo à esquerda, e alguns dos vinhos provados em baixo à direita.










quarta-feira, junho 25, 2008


Quinta do Vallado

É certo: a seguir à mítica Noval era difícil retomar o passeio e pensar que qualquer outra quinta podia se igualar. Mas eis que, mal chegados ao Vallado, a simpatia do Francisco Ferreira fez-nos recuperar a fé que, afinal, muita coisa boa estava para vir…

E assim foi! Na sequência de uma visita à unidade de turismo da quinta (muito bonita por sinal), à adega e ao armazém, foi vez das provas. E que provas! Iniciou-se com alguns brancos simpáticos (para mais, a tarde estava quente) dos quais surpreendeu um Vallado Reserva (B) 2007. A seguir, "contentámo-nos" com uma vertical de Quinta do Vallado Reserva, desde 1999 até 2005. De todos os vinhos provados, foram as colheitas de 2003 (este a um grande nível) e a de 2005 as que mais brilharam pela forte presença aromática e boca potente, apesar da elegância de 2000 e, sobretudo, de 2004 merecem justo destaque. Enfim, foi a prova (provada…) que o terroir da Quinta do Vallado – na fronteira entre Baixo e Cima-corgo – dá-se muito bem com anos quentes e secos.

Depois, veio o privilégio de provar o Quinta do Vallado Adelaide (T) 2005, um super topo-de-gama feito a partir das vinhas mais velhas da quinta, e com uma apresentação muito cuidada que foge ao laranja típico da marca e opta pelo azul. Em breves palavras, o melhor vinho do Vallado que provámos até hoje, mas cuidado com preço (upa upa)!

Tempo houve ainda para provar várias experiências da vindima de 2007, vinhos de vinhas específicas e/ou castas pouco conhecidas ou que raramente se misturam. No fim, um lanche ajantarado como não há memória, e sempre a simpatia do Francisco Ferreira, a quem muito se agradece, a contagiar todos os presentes.


Nas fotos, em baixo, alguns dos vinhos da vertical realizada e a imponente garrafa do Quinta do Vallado Adelaide (T) 2005. Em cima, foto do bonito edifício da quinta destinado ao turismo.

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sexta-feira, junho 20, 2008


Quinta da Sequeira Grande Reserva (T) 2004

Fazemos assim uma breve interrupção nos textos da viagem ao Douro, o que não nos impede, contudo, de nos mantermos na região, posto que a prova que vamos abordar de seguida é a de um tinto duriense.

Falamos, e não é a primeira vez, de um vinho da Quinta da Sequeira, desta feita o seu topo de gama denominado de "Grande Reserva", designativo que cada vez mais se torna comum talvez em detrimento dos "Grande Escolha". Pois bem, se os tintos "Colheita" e "Reserva" desta quinta teimam em mostrar-se sequiosos de estágio em garrafa, afim de amaciarem os seus arrasadores taninos e demais arestas pontiagudas, já este Grande Reserva 2004, apesar de potente, está como que "adormecido" e não dizemos isto no mau sentido, bem pelo contrário. A madeira, que tantas vezes marca demasiado os vinhos (até com taninos), fez neste tinto tudo o que lhe competia pois o líquido está mais calmo que outros do mesmo terroir mantendo, porém, o perfil aguerrido, seco até, e de grande comprimento.

É certo que não esconde as suas origens e revela um nariz floral no fundo, com flora florestal e fruta madura não-compotada. É, ademais, significativamente complexo, mostra camadas de fruto silvestre, e a madeira apenas se vai evidenciando, aqui e ali, num apontamento diríamos que "abaunilhado" (mas nada de fumos, ou coisas que tais). Boca poderosa mas (novamente...) mais agradável do que esperávamos à primeira vista, capaz de dar prazer e de manter uma enorme vertente gastronómica (na foto coxas de pato assadas). Bom fruto, saboroso, tudo muito bom e bastante equilíbrado - sem dúvida, o melhor tinto comercializado por esta quinta do Douro Superior e uma óptima escolha para quem já está farto das bombas do Cima Corgo (não, ainda não é o nosso caso...)!

Em suma, pode-se beber desde já, mas recompensará muito se se guardar por um par de anos. Depois, arriscamos que se possa beber até 2013-2015 em óptima forma (um desabafo: o que eu daria para ter uma magnum). Cada garrafa, de belo grafismo, imponente no tamanho e sobretudo no peso, custa cerca de € 35 nas "Coisas do Arco do Vinho" (Lisboa) ou nos Club Gourmet (Lisboa, Sintra). Não é barato, mas é bom e bonito!

17,5


Próximos vinhos: Dona Maria Reserva (T) 2003; Torais (T) 2005; Quinta do Ameal Loureiro (B) 2006

terça-feira, junho 17, 2008

Quinta do Noval

O nome Noval é capaz de fazer sonhar os apreciadores de Portos como nenhuma outra marca. Por detrás do nome existe uma quinta cheia de memórias, algumas delas dramáticas (como o incêndio das instalações em Gaia) e é, sem dúvida, um dos nomes maiores quando se fala de vintages. Mas hoje é mais do que isso, e produz igualmente alguns belos tintos como é o caso do Cedro do Noval e do Quinta do Noval.
 
A quinta em si é muito bonita, com as vinhas viradas para o Vale de Mendiz e o Douro lá bem ao fundo. No meio da quinta, bem perto da lendária vinha que dá origem ao Noval Nacional, surge uma casa senhorial de grandes dimensões que mantém respeito. Foi este o cenário ideal para o começo das provas matinais. Primeiro os tawny, depois os vintages e, já com o almoço, os vinhos de mesa Cedro e Quinta do Noval nas versões de 2005.
Do muito (e bom...) que se provou, a nossa lembrança vai direitinha para o Quinta do Noval Colheita (P) 1995 (cheio de frescura nas suas notas alaranjadas), para o Quinta do Noval Tawny (P) 40 Anos (a lembrar alguns vinhos madeiras na complexidade e untuosidade), para o Quinta do Noval Colheita (P) 1986 (perfeito na evolução, muito consensual) e, finalmente, para o recente Quinta do Noval Vintage (P) 2004 (naturalmente cheio de potência e muito saboroso).

Não é todos os dias que se consegue visitar a Quinta do Noval e nós, também por isso, agradecemos à Rute Monteiro. Nas fotografias, alguns dos Portos provados pela manhã e as vinhas da Noval (com a vinha do Nacional no patamar inferior da fotografia).

domingo, junho 15, 2008

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Quinta do Crasto


Uma visita à Quinta do Crasto é um desafio para os enófilos apaixonados! São tantas as solicitações, sobretudo as de personalidades internacionais, que a família Roquette não tem mãos a medir no que toca a receber visitas. Desta feita, foi a nossa vez, e não nos esqueceremos da maneira como fomos recebidos.

A localização da quinta é soberba e sua vista para o Douro é famosa (quase tanto quanto a piscina no topo...), mas são os vinhos que trazem a justa fama à casa. Após uma visita às instalações, e na sequência da mirada às desejadas "vinha Maria Teresa" e "vinha da ponte", foi tempo de almoço e de provar algumas novidades.

Primeiro, o Crasto (B) 2007, um branco de muito bom nível, com fruta fresca e boca cheia de classe, uma belíssima estreia (a quinta já vinha produzindo vinhos brancos mas este é o primeiro a ser lançado no mercado). De seguida, o Crasto (T) 2007, no seu perfil exuberante de fruta e muito directo na boca. Depois, o Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas (T) 2006 ao seu melhor estilo, quente e muito apelativo; um daqueles vinhos onde nem o ano de 2006 mexe com a qualidade habitual, está a tornar-se um clássico. Depois ainda, a prova de casco do futuro Quinta do Crasto Touriga Nacional (T) 2007, um monocasta de nariz fantástico mas ainda muito fechado na boca. Finalmente, um Quinta do Crasto LBV (P) 1995 a revelar uma complexidade apaixonante e a mostrar que os Porto LBV não filtrados podem evoluir muito e bem.

Em suma, um grande dia, uma grande visita. Agradecimentos ao Tomás Roquette e ao Pedro Almeida. Em baixo, as fotos da casa e da piscina "with a view".
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quinta-feira, junho 12, 2008

Prova especial

Quinta do Bomfim

Este ano, o périplo pelo Douro começou com um almoço na Quinta do Bomfim, berço de muitos vintages e, em especial, do nosso favorito Dow’s. Em ano clássico, entram no lote vinhos de outras quintas da Symington (com destaque para a Quinta da Nossa Sr.ª da Ribeira e Quinta do Santinho), mas a Quinta do Bomfim, mesmo junto ao Pinhão, é uma referência obrigatória para o enófilo posto que está carregada de história e de estórias.

Numa tarde que se iniciou quente, e no jardim de uma charmosa habitação do tipo fazenda indiana de chá, refrescaram-se umas garrafas de Dow’s 20 Anos - já se sabe, um dos melhores tawny 20 anos do mercado - e a conversa pegou fogo. Depois, descida ao rio para breve passeio de barco. Depois ainda, mais visitas à Quinta da Perdiz (Rio Torto) e à Cavadinha (Celeirós), esta última com uma deslumbrante vista para as vinhas da Noval.

Agradecimentos merecidos  à família Symington e ao incansável António Torres. As fotos infra são ambas da Quinta do Bomfim.









terça-feira, junho 10, 2008


No Douro...


A demora na colocação dos últimos textos não tem desculpa, mas tem justificação – a visita anual a alguns dos nossos spots preferidos no Douro, ou seja, aqueles que, em simultâneo, produzem os melhores néctares e revelam o melhor cenário da região.

Este ano, em conjunto com o "núcleo duro" das Coisas do Arco do Vinho, foi vez da Quinta do Bomfim (Symington) junto ao Pinhão, Castro, Noval, Vallado (Corgo), Vale D. Maria (Rio Torto) e Roriz. Poderia ter sido melhor? Não vemos como!

Contudo, uma vez que este blog não trata de reportagens, iremos apostar em brevíssimas descrições das visitas (sobretudo as nossas sensações, mais do que outras coisas) e num apontamento da selecção dos melhores vinhos provados (afinal, o principal para o enófilo). As fotos colocadas, algumas muito bonitas dado o cenário natural, contarão (assim esperamos) o resto.
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PS: Na imagem, a ponte do Pinhão ao fundo (fotografia tirada a partir da Quinta do Bomfim).

segunda-feira, junho 02, 2008



Brunheda Vinhas Velhas (T) 2001

Aquando do nosso texto do Natal deixámos a dica e o aperitivo (ver aqui). Agora abordamos um pouco mais o objecto – e que objecto!

No início é até um choque menos agradável tanto que é o ataque da excelente madeira em que o vinho estagiou. Apara de lápis, madeira de móvel antigo, espuma de café expresso, enfim de tudo um pouco. Mas este é um daqueles tintos que não pode ser julgado pelo seu ataque inicial, isso seria, aliás, extremamente injusto para o néctar e redutor para o enófilo.

Pois bem, cinco minutos de arejamento em decante (ou um pouco mais em copo largo) bastam para soltar um bouquet absolutamente fabuloso, (ainda) em plena evolução e com muita categoria balsâmica. Complexo na fruta (não muito madura), toda ela muito fresca mas saborosa. Acidez doseada na perfeição e um corpo extraordinário fechado em "apenas" 13º de álcool. Alguns taninos (até da própria madeira...) que ainda marcam uma boca ligeiramente áspera mas igualmente fresca, ampla, recompensadora no que respeita a fruta, acidez e final de boca. Arriscamos: quem não gostar deste tipo de tinto (eg., por ter quase oito anos, por ter menos álcool que o habitual, ou por revelar uma fruta não esmagadora e aromas não facilmente identificáveis) não vai gostar certamente de muitos dos melhores vinhos do Mundo!

Um conjunto que merece reflexão, um expoente do Douro que alia tipicidade da região, um toque clássico e muita patine. Esqueci-me de alguma coisa?

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Próximos vinhos: Quinta da Sequeira Grande Reserva (T) 2004; Dona Maria Reserva (T) 2003; Torais (T) 2005; Quinta do Ameal Loureiro (B) 2006