segunda-feira, junho 25, 2007


Fabre Montmayou Grand Reserva (T) Malbec 2005

A prova era cega e já muito se tinha tragado naquela tarde. Por fim, um tinto escuro com laivos sedutores azuis e purpurinos, se colocou no nosso caminho...

Grande nariz, forte e intenso, mas não monótono na força bruta. Fruta, muita fruta de excelsa qualidade, barrica perfeita (mais tarde soubemos que acertámos quando não nos parecia ter mais de 1 ano em madeira). Havia qualquer coisa no nariz que apontava para um registo não nacional... não sei bem o que era... podia ser o facto de não existir nenhuma casta nacional naquele lote. Lote? Não... era um monocasta, mas – ao princípio – nada o fazia prever.

Na boca, já podia ser um tinto nacional, talvez do Douro feito com imensa touriga nacional madura. Tem corpo, taninos elegantes e arredondados, um misto de força (sobretudo na fruta) com elegância (notas a tabaco) mas sempre com determinação na sedução do provador (chocolate guloso). Final distinto, exótico, inesquecível mesmo.

Revelou-se ser um malbec da Argentina, um Fabre Montmayou Grand Reserva com mão enológica de Rui Reguinga. Uvas colhidas entre 24 de Março e 5 de Abril, com cerca de 40 hl/ha de rendimento, produzem um retinto vinho com 14,5 % vol..Os luxos que cada vez mais vêm sendo habituais também existem aqui: apanha das uvas de modo manual em caixas de 20 kg, dupla selecção (i.é, por cacho e por uva), fermentação com leveduras indígenas e quatro remontagens diárias. Por fim, 12 meses em carvalho francês.
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Um vinho extraordinário, de vinhas com cerca de 60 anos plantadas a mais de 1000 metros de altitude. Um vinho que chega agora a Portugal na colheita de 2005 (a de 2003 ainda se vende no "winept"). Um vinho que custa menos de € 25 nas "Coisas do Arco do Vinho" em Lisboa e que em breve se esgotará.

17,5

domingo, junho 24, 2007

PRÓXIMAS INICIATIVAS:

  • É já no próximo Sábado, 30 de Junho, na Gare Marítima de Alcântara (das 15h às 20h) que a “Dão, vinhos e sabores” chega a Lisboa. A entrada é livre e todos poderão provar os vinhos desta região associando-se às celebrações do Dia do Vinho, que se assinala a 1 de Julho. Entre outros, estarão presentes os produtores Quinta da Vegia; Casa de Mouraz; Cooperativa Agrícola de Nelas; Grupo Enoport; Quinta da Falorca; Quinta da Fata; Quinta da Garrida; Quinta de Cabriz; Casa de Santar; Quinta de Lemos; Quinta de Reis; Quinta do Cerrado; Quinta dos Carvalhais e Quinta dos Roques.
  • Numa iniciativa do nosso amigo d´ O Copo de 3, decorrerá no próximo dia 7 de Julho (das 16h às 20h), nos Claustros do Convento dos Capuchos, em Vila Viçosa, o evento Vinum Callipole 2007, com a participação, entre outros, dos seguintes produtores: Herdade das Servas, Ervideira, Cortes de Cima, Herdade da Malhadinha Nova, Herdade do Portocarro, Alves de Sousa, Azamor Wines, Adega Cooperativa de Borba, Vinhos Dona Berta, Álvaro de Castro, Bago de Touriga, Quinta da Lagoalva. A entrada custa 5 € com copo Schott Din Sensus incluído. A linha de informação é o 967 344 226 e o contacto para reserva em copo_de_3@hotmail.com (reserva de entradas).

quarta-feira, junho 20, 2007

O mistério do Porto maravilha...
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No final de um jantar muito animado, e no qual muito se deu a provar e a beber, vieram uns copos de Porto para a mesa. Nada se sabia sobre aquele néctar escuro: i) se era novo ou menos novo (pela cor, velho não era certamente); ii) se Ruby, LBV ou Vintage (pela cor, tawny não era certamente); enfim iii) se era caro ou barato (neste aspecto, a cor geralmente não ajuda).
Levou-se ao nariz e logo a dúvida intensificou-se... que mistério: parecia um Vintage tão fechado que estava. Nariz fresco, ele próprio misterioso, sem dúvida havia "fruta" escondida.
Na boca era largo e generoso, doce com notas exuberantes a chocolate, e a dúvida tornou-se uma "quase-certeza": i) ou se tratava de um Vintage daqueles para "se beberem novos" de ano não vintage, com qualidade mas sem pulmão, ii) ou então um grande (mas grande mesmo) LBV de um ano neo-clássico (i.é, demasiado quente). No primeiro caso (e continuávamos às cegas) seria certamente de um ano recente - 2004 ou 2005 -, no segundo caso seria de uma colheita entre o ano 2000 até 2003.
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E não é que era mesmo um LBV, um dos melhores que já provei!
Era o Quinta Nova da Nossa Senhora do Carmo LBV 2003!

PS: O nome do vinho é quase tão longo quanto o seu final de boca.
PS2: Por outros LBV de 2003 já provados, parece que depois de ano vintage, temos um grande ano LBV.

sexta-feira, junho 15, 2007

No Dão com Quinta dos Roques
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Uma prova dos vinhos da Quinta dos Roques exige circunstância!
Por isso, o melhor é mesmo uma visita à quinta e na companhia do muito afável produtor. Dito... e feito!
Depois de visitada parte da quinta, e as instalações da mesma, o melhor é mesmo atacar na bebida que "acompanha" o almoço (do espumante ao licoroso tudo foi provado), e dar umas palavrinhas com enólogo Rui Reguinga. Dito... e feito!


Notas e referências telegráficas de alguns dos vinhos, como se impõe - por serem novidades ainda não lançadas no mercado, à excepção do malvasia fina, as notas são provisórias:


Quinta dos Roques Encruzado (B) 2006: Muito bem no nariz: é certamente o melhor que provámos (ou melhor, cheirámos) nos encruzados dos Roques. É que, a par do lado mineral, surge a fruta madura e delicada com maior intensidade do que em edições anteriores. De resto, o costume... boca cheia, bastante fresco (apenas 65% passou por madeira) e final persistente. Belo branco este, numa das suas melhores edições. 16,5 (provisório)

Quinta dos Roques Malvasia Fina (B) 2005: Ainda não estamos fãs deste malvasia fina... nariz ausente (longe, longe), boca com alguma doçura interessante, mas não (nos) chega. No fim de contas, não tirámos a dúvida se o vinho já "terminou" a sua vida útil ou ainda não a "começou". Estranho, não é? 14,5

Quinta dos Roques Touriga Nacional (T) 2005: Cor violácea forte (mas não opaca) com espuma juvenil, e nariz muito fresco do tipo floral. Ataque muito compacto na boca, cheio de corpo, redondo, só o final ainda está em construção. Poderá vir a ser um dos melhores tourigas dos Roques daqui a umas primaveras, mas o tempo o dirá. 16,5 (provisório)


Quinta dos Roques Garrafeira (T) 2003: Nariz em evolução, complexo e muito intrigante (apetece cheirar e cheirar). Boca muito trabalhada, suave, belíssimo blend de touriga nacional, t. roriz, t. cão e alfrocheiro. Muita baga vermelha, perfil do Dão elegante e gastronómico com um típico final de boca fino e delgado. 17 (provisório)

Fotos (no sentido dos ponteiros do relógio): o produtor e anfitrião Luís Lourenço; vista da Quinta dos Roques com a Serra da Estrela ao fundo; vista de parte dos vinhos provadas; vista do armazém e muitas garrafas.


segunda-feira, junho 11, 2007

Herdade Paço do Conde Reserva (T) 2004
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Cor muito escura – de imediato a noção de calor –, e perfil espesso. No nariz somos "assaltados" por compota de morango, fruta doce, rebuçado (...lá estão as bolas de neve novamente...).

Na boca, o álcool permite um ataque suave, redondo, sai mais fino do que entra e provoca um ligeiro (e muito agradável) amargo de boca. Final médio – /médio que, com algum tempo de garrafa, admitimos que possa melhorar. Como, aliás, todo o conjunto deste lote alentejano de syrah, touriga nacional, aragonês, cab. sauvignon... e muita barrica!


Vinho acetinado, veludo de álcool e fruta, peca pelo final e por um estilo demasiado guloso. O inevitável lost paradise aqui tão perto e a menos de € 10.
16,5

quarta-feira, junho 06, 2007

VALLE PRADINHOS: novidades para 2007
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Foi pena (para mim, só para mim...) que o João Paulo Martins se tenha adiantado e proposto em debut (penso eu) o Valle Pradinhos (T) 2004 no "Fugas" (Público) do passado Sábado. É que a coisa interessante dos blogs, entre outras eventualmente, é a rápida divulgação da prova de novidades. Como pouco posso acrescentar ao conhecido jornalista – para além de se tratarem de 25 mil botelhas de um tinto com 14,5% vl. e 2,0 g/l de açucares redutores – resta-me aconselhar também o Valle Pradinhos (B) 2005 e o Valle Pradinhos (R) 2006 (creio que o JPM desta não se lembrou...).

Valle Pradinhos (T) 2004: No tinto "a coisa pia" de forma muito afinada. Percebe-se que o estilo do vinho está definido e estabilizado com (a passagem d') o tempo e mestria; que qualquer alteração na "fórmula" resulta da procura por maior consistência em cada colheita. Jovem, intenso, com espessura, nariz com frutos vermelhos mas também curiosas notas a fruto tropical. Final fino e longo, é um tinto a meio caminho entre a guarda e o deleite de o beber já (neste caso para quem gosta de tintos a sério). Um produto que (me) agrada muito por (me) agradar sempre. 17

Valle Pradinhos (B) 2006: "Parece que não", mas este branco também já leva alguma tradição... nem que seja pela insistência na singular combinação entre riesling, gewürztraminer e a transmontana malvasia fina. Se a cor é citrina clarinha, e o nariz dominado por líchias e rosas (mas ainda referências a cera, avelãs, noz moscada, bem como a manga madura), também a prova de boca tem valor, e muito! Se bebido fresco, acompanhará muito bem pratos simples como saladas e peixe grelhado. A 14º, pensamos que ainda se aguenta bem para outras andanças (carnes brancas, eventualmente), mas a tal temperatura, e com os seus elevados 14% vol., as sensações e referências adocicadas a pêra em calda e a alperce exigirão atino na combinação gastronómica. 16

Valle Pradinhos (R) 2006: Depois de tudo isto, para mim... este é o ano dos rosés do Douro (é já o terceiro que me enche as medidas, depois do "Apegadas" e do "Quinta da Sequeira"). Quero dizer, este é o ano - 2007 -, e esta é a colheita - 2006 -, sendo certo que nos rosés a estória da colheita não influencia significativamente o resultado final. Clarete no copo, solta um morango silvestre e uma cereja preta deliciosos. Seco, pouco doce, manifesta uma fantástica harmonia na boca. Cheio (sim... cheio!), mantém-se fresco, é um rosé diríamos que inteligente. Explico (na medida do possível): os açúcares não procuram cansar o consumidor mas antes equilibrar a fruta da tinta roriz e as flores da touriga nacional. Corram a comprá-lo: nem que seja por serem apenas 2600 garrafas. 16

terça-feira, junho 05, 2007

Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs (T) 2005


Rolo de carne no prato, arroz de tomate e o novo tinto do Monte da Ravasqueira. Cor ruby clara (o rótulo fala de granada), laivos violeta e espuma na auréola... muita juventude, portanto! No nariz nasce o álcool e não é apenas percepção da juventude – tem 14,7% vol.!


Sentem-se demasiado as referências "alentejanas" à syrah (claramente maioritária), mas o vinho é complexo e aguenta-se no limite da doçura. Muito chocolate na boca, ataque doce, intensamente centrado no rebuçado – ora funcho, ora "bola de neve" – um pouco floral no fim de boca conjuga-se com um travo retronasal amargo... a lembrar que sempre há touriga (neste caso tourigas) neste lote. Corpo mediano, concentração igual, mas um longo e belo final surpreendem os amantes da barrica. Decididamente é um caso para guarda, a merecer nova prova talvez daqui a 2 anos.


Um bom vinho (topo de gama?) - de perfil muito jovem como que vai melhorar em garrafa - a merecer mais esforço do produtor nas próximas colheitas.

16

domingo, junho 03, 2007

O primeiro: 2 anos depois.


Chamo-me a atenção (sim, a mim próprio) pela passagem de 2 anos desde que escrevi este texto. Penso que foi o primeiro – garanto que não estou certo disso – que escrevi para o blog, e faz já algum tempo que não tenho a contagem do número de visitantes.

Escrevo este blog como se ninguém o lesse.
Por isso, a passagem destes 2 anos não me surpreendeu o espírito; escreveria mais 2 anos se ninguém o lesse verdadeiramente. Por isso também, o texto de que mais gosto ("aquele" texto) foi este; sim, o primeiro (mas disso não estou certo). Depois desse, vieram muitos outros; vieram novos vinhos; vieram novos blogs; novos amigos. Por isso, finalmente, nem sequer dei conta da passagem do tempo. É que se o primeiro texto foi realmente este – que não estou disso certo –, já passaram, então, mais de 2 anos e falhei o aniversário.