domingo, junho 28, 2009


BRANCOS DO ESPORÃO 2008

A marca Esporão está associada a vinhos bem feitos, consistentes na qualidade, preços adequados, disponíveis tanto em garrafeiras como em restaurantes e, por vezes – caso dos tintos "Private Selection" e "Torre do Esporão" –, vinhos capazes de proporcionar do que melhor se produz na planície alentejana. São razões de sobra, aliadas a um projecto de rigor financeiro, que explicam o sucesso comercial (bem como a recente expansão para o Douro com a aquisição da Quinta dos Murças) do projecto do empresário José Roquette. E são, também, razões de sobra para que, juntamente com as excelentes condições de 2008, estejamos perante dois brancos que, apesar das centenas de milhares de garrafas que representam, não desmerecem os atributos da marca Esporão. Vejamos:

Vinha da Defesa (B) 2008: Laivos amarelos e verdes no copo, dispara notas citrinas e outras mais tropicais. A diferença para as colheitas anteriores (além do grafismo na garrafa) surge com referências vegetais curiosas, presentes no nariz e confirmadas na boca. Fresco, correcta acidez, quase vibrante, tem ligeiro "pico" mas pode ser que passe com algumas semanas em garrafa. Será amigo de gastronomia de Verão menos elaborada. Tem vários concorrentes de peso, e alguns mais baratos, mas mantém-se um boa compra a menos de € 6, disponível um pouco por todos os pontos de venda no país.
15,5

Esporão Reserva (B) 2008: Consegue revelar-se mais vegetal que o Defesa com referências a talo e caule de couve. Temos também a habitual calda de ananás e pêssego mas menos evidente que em anos anteriores, amparadas pelas tradicionais notas fumadas, e umas curiosas líchias. Boca cheia, ataque amplo marcado pela madeira, perfil internacional de agrado generalizado. Não é fácil encontrar um vinho com tanto volume de venda e, ao mesmo tempo, generoso na fruta, consistente na qualidade, e prazenteiro na hora de acompanhar pratos tão diversos como carnes brancas ou peixes com molhos. Servir em copos largos. A menos de € 10 é uma boa compra, mas é sobretudo uma excelente aposta junto da restauração mais especulativa.
16,5
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Próximos vinhos: Alain Graillot Crozes Hermitage (T) 2006; Cabriz Encruzado (B) 2007; Quinta do Boição Special Selection Old Vineyards (T) 2006; Vale d' Alagares (vários); Conventual Reserva (B) 2007

terça-feira, junho 23, 2009

NOVIDADE:

Niepoort vintage (P) 2007

Mais uma novidade. Mais um vintage de 2007 (para outros já provados ver aqui), e que vintage este da Niepoort… Logo depois de um excelente 2005 (tanto mais excelente quanto o facto do ano não ter sido "clássico"), a Niepoort volta a superar-se com este belíssimo vintage de boca carnuda, redonda, meio-doce e longo final. Nariz que surpreende por, apesar do pouquíssimo tempo em garrafa, se encontrar, desde já, muito afinado: fruta em destaque com notas de geleia doce de mirtilhos e amoras, exuberante também nas referências florais, um conjunto sedutor "quase quente", mas sem nenhuma percepção típica dos defeitos e feitios típicos em colheitas com sobre-maturação.

É um estilo este que a casa chefiada por Dirk Niepoort está a introduzir nos seus vintages Port faz já algumas colheitas, é um estilo que nos agrada e muito. Um vintage quase perfeito, com longa vida pela frente, sobretudo no equilíbrio dos seus componentes (sendo que equilíbrio não é, por norma, um atributo deste tipo de Porto). Enfim, um vinho tributário de um ano também ele equilibrado, mas um vinho fruto também de um projecto de gerações que parece não querer deixar de melhorar...

18-18,5


PS: O Pingus também o provou. E também o aprovou, aqui!

terça-feira, junho 16, 2009

NOVIDADES:

Quinta do Vesúvio (T) 2007
Pombal do Vesúvio (T) 2007

Ainda no campo das novidades (as provas em "lista de espera" terão de esperar mais um pouco), e mantendo-nos no universo Symington, provámos os recentíssimos tintos DOC da Quinta do Vesúvio. São dois tintos - i) um topo de gama: o Quinta do Vesúvio (T) 2007, e ii) um "super premium": o Pombal do Vesúvio (T) 2007. A expectativa era muita, não só pelo primeiro se situar lado a lado com o "Chryseia" (que, em rigor, nunca foi dos nossos durienses predilectos) no topo dos vinhos tintos da Symington Family, como pelo facto de ambos serem a estreia comercial de vários anos e ensaios no sentido da produção de vinhos não generosos na mítica quinta do Douro Superior. Vejamos:

Quinta do Vesúvio (T) 2007: Lote de Touriga Nacional (70%), Touriga Franca (20%) e Tinta Amarela (10%). Virtualmente opaco na cor, violácea no bordo do copo. Muito bem no nariz, com as tourigas a revelarem fruta madura para além do esperado carácter floral. Grande casamento com a madeira onde estagiou, que se sente de forma equilibrada e atenua a grande concentração do vinho. Boca mais vegetal do que o nariz faria prever, tem nervo suficiente mas não é do tipo brutal. Ao invés, tem taninos de seda, consegue mesmo trespassar uma sensação de graciosidade e manter um perfil sedoso, o que demonstra os cuidados na sua vinificação. Final médio-longo que se espera ainda melhorar em garrafa. Belíssimo, bem acima, IMHO, de algumas colheitas de "Chryseia". Entre € 42 a € 48 em boas garrafeiras.
17,518

Pombal do Vesúvio (T) 2007: Mantém uma matriz de Touriga Nacional e Touriga Franca. Como se esperava, está muito mais desabrochado que o Quinta do Vesúvio, nariz focado na fruta madura de qualidade (ameixas e cerejas pretas), mas aparece, minutos depois, também algum bret (nas duas garrafas provadas), terra húmida, mineralidade, tudo a potenciar a complexidade do conjunto. Com o passar do tempo no copo mostra ainda notas poderosas a cacau. Boca com componente de vegetal seco, taninos bem presentes, e fruta (agora vermelha) menos evidente que aquela (mais madura) que mostrava no nariz. Gostámos muito deste tinto, está uns furos acima, sobretudo em termos de complexidade, do "PS Chryseia". Acresce ainda que, ao contrário do seu "irmão mais velho", que está carote, este Pombal do Vesúvio é, a nosso ver, um achado pelo preço, a cerca de € 14 a garrafa em boas garrafeiras.
16,5 - 17


segunda-feira, junho 08, 2009


Vintages 2007 Symington

Interrupção nas provas para... pois é, leram bem o título, é dos vintag
es 2007 da casa "Symington" que vamos escrever. A imprensa especializada já escreveu quase tudo a respeito das óptimas condições proporcionadas pela colheita de 2007, com destaque para a excelente maturação da fruta (e do ciclo completo da planta) e para os benéficos efeitos do Verão suave. E já se começou a escrever também acerca dos vinhos brancos e tintos dessa colheita que têm aparecido no mercado, qualificados (genericamente) de equilibrados e elegantes. Deste contacto (e não foi o primeiro) com algumas das mais importantes marcas de Portos, podemos confirmar a grandeza da colheita (não na produção, que foi escassa como é sabido) e a excelência da Touriga Nacional que marcou os mostos um pouco por todo o país. Mas destacamos, sobretudo, a marca da elegância em detrimento da potência. Como sabemos, mesmo tratando-se de Porto vintages, vinhos quase sempre arrebatadores, podemos dividir entre colheitas clássicas onde potência e garra imperam (como sucedeu eg. com a colheita de 2003) e colheitas onde o equilíbrio parece ser a palavra-chave (tudo indica que será o caso destes 2007).

A nosso ver, e a partir do que provámos, os vintages de 2007 são assim: muito acessíveis, quase femininos no que tal adjectivo aponta para a elegância e delicadeza do conjunto, apaixonantes, profundos, mas com alguma falta de "ferocidade" (sobretudo na dimensão da fruta madura) quando comparados com grande parte dos vintages provenientes das duas últimas declarações generalizadas (2000 e 2003). Não será defeito - longe disso -, mas feitio. Vejamos:


Dow’s vintage (P) 2007: No nariz, como era de esperar, revelou-se o mais fechado e químico de toda a prova. Na boca, apesar do inconfundível estilo seco, está explosivo com muita (mas mesmo muita) fruta, à qual acrescem taninos de ferro e ligeiro etanol. O melhor do grupo, sobretudo no vigor da fruta, e um dos Dow’s clássicos mais acessíveis (leia-se pronto a beber) das últimas declarações. Vai durar como a maioria dos Dow's...
17,5 – 18,5

Quinta do Vesúvio vintage (P) 2007: A partir de Touriga Nacional (55%) e de Touriga Franca (45%) mostra-se, naturalmente, muito mais floral que os seus "irmãos Symington". Destes difere no estilo, sentindo-se menos as sensações a bolo de canela. Sólido, carnudo, está, contudo, num perfil mais "morno" do que nas edições de 2003 e de 2005, faltando um pouco de acidez. Pessoalmente, esperávamos um pouco mais deste Vesúvio, mas não deixa de ser um grande vintage com 15-30 anos pela frente. A prova do Quinta do Vesúvio Capela (P) 2007 para fica outra altura.
17 – 18

Graham’s vintage (P) 2007: Nariz típico da marca com muita fruta madura, todo ele guloso, intenso e quente. De todo o grupo, é o que está mais fácil na boca, acetinado e longo, podendo-se, sem dúvida, bebê-lo desde já com muito prazer. Um vintage intenso e consensual, muito sedutor. Vem na senda das boas edições anteriores, parecido sobretudo com o de 2000, mas sem o músculo do de 2003.
17-17,5

Warre’s vintage (P) 2007: Intermédio entre o estilo seco do Dow’s e o mais doce do Graham’s, está com muito bolo de canela no nariz e fruta madura. Na boca está mais macio do que duro, mais doce do que seco (portanto, mais Graham’s do que Dow’s) e será de fácil e generalizado agrado. Novamente, sentimo-nos perante um vintage de grande nível, que se pode beber desde já, mas ao qual parece faltar alguma garra e potência tanto de fruta como de taninos. O tempo dirá se temos razão...
17-17,5

quinta-feira, junho 04, 2009


Quinta da Sequeira Grande Reserva (T) 2005

Faz já algum tempo que não escrevíamos sobre os vinhos da Quinta da Sequeira. Depois de várias provas no passado, houve um interregno no acto de trazer ao nariz e boca os néctares desta quinta do Douro Superior. Pois bem, voltamos agora às provas e logo com o respectivo topo de gama da colheita de 2005 (também existe o de '04 provado aqui). Um topo de gama "à antiga" diga-se, ou seja pronto a beber não nos (quase) três anos que já leva de garrafa (que é agora, em 2009), mas certamente daqui por mais dois pares de anos.

Muito escuro no copo, praticamente opaco com bordo violeta. Nariz intenso com notas muito alcoólicas de fruta negra macerada. Expoente vegetal maduro e seco (típico da casa) que percorre toda a prova. Também alguma rusticidade, e madeira mais seca do que baunilhada. Na boca, tudo muito pouco redondo por enquanto, está cheio de vida, taninos literalmente brutais mas saborosos, envoltos num perfil complexo e inebriante não se descortinando, isoladamente, as castas que compõem o lote. Final de boca mais explosivo do que longo.

À semelhança da edição de 2004, temos aqui um vinho que, sendo alcoólico (15º vol.), não quer entrar na moda dos vinhos fáceis e sem arestas. Ao invés, revela-se "feroz" e muito desafiante na díficil relação entre pujança da fruta madura e frescura arrojada dos taninos. E com a grande vantagem de poder – e de se recomendar mesmo – ser guardado na garrafeira nos próximos anos.

17 +



Próximos vinhos: Vinha da Defesa (B) 2008; Esporão Reserva (B) 2008; Alain Graillot Crozes Hermitage (T) 2006; Cabriz Encruzado (B) 2007; Quinta do Boição Escolha (T) 2006