segunda-feira, maio 30, 2011

Prova especial

Roriz contra Roriz

São poucos os (a)casos de colheitas de 2000 melhores que as de 2001. Sobretudo no Douro. Mas aconteceu-nos faz pouco tempo com dois Roriz Reserva. Claro que os tintos de Roriz (magnífica a quinta, dizê-lo não gasta nem cansa) nunca foram de seguir modas e sempre baralharam as contas... Por isso não se estranha que tenha saído tudo ao invés: mais duro o 2000, mais cansado o 2001; com taninos mais sólidos o 2000; menos fresco o 2001. Ambos bons (mas talvez não muito bons), mas não são vinhos de guarda. Prove-se e beba-se agora, de preferência em parelha, que darão prazer.

quinta-feira, maio 26, 2011

Troika de Brancos de 2009

A verdadeira Troika dos vinhos brancos nacionais, sem contar com um ou outro verde minhoto que poderia estar incluído. O Primus (b) 2009 é um vinho de precisão incrível, um vinho de harmonia e força, pleno de mineralidade. O Guru (b) 2009 não tem parado de melhorar em cada uma das últimas edições e está nesta versão incrivelmente fresco e complexo, sem marca de madeira. O Foz d' Arouce (b) 2009 é directo, muito saboroso e profundamente subtil.

Que bela Troika!

segunda-feira, maio 23, 2011

de França

Château Pichon Longeville
Contesse de la Lalande (T) 1988

Belíssimo Pauillac este clássico Pichon Lalande, um dos melhores "super segundos" de Bordéus (grupo restrito de vinhos que, sendo 2ème Cru-Classé, são fantásticos). E em forma também! Não sendo o '82, este '88 mostra-se a dar cartas e o preço pode compensar. Cor muito escura, nariz muito preso de início. Depois de muita decantação, mostra os pergaminhos da região: revela-se forte, potente, incrível para as mais de duas décadas que já leva! Não se consegue distinguir qual a casta mais presente, até porque o Merlot aqui não é apenas residual. Apesar do estilo potente, os anos trouxeram-lhe elegância e prolongaram-lhe o final com taninos saborosos. Um vinho (per)feito, e um vinho (per)feito para durar, pelo menos, mais meia década. Para o '82, que ainda não provámos, veja-se aqui (e pelo vistos confirma a fama).

18

quarta-feira, maio 11, 2011

de Itália

Fontodi Case Via (T) 2003

Não podemos ter meias-palavras. Há que dizê-lo: deveríamos ser capazes de fazer um Syrah assim em Portugal, mas não o fazemos ou, pelo menos, nós ainda não o provámos. É certo que este Case Via chega-nos da casa Fontodi, uma das clássicas das colinas centrais da Toscana, mais conhecida pelo seu topo de gama Sangiovese ("Flaccionello", um dos favoritos de Robert Parker), mas nunca esperámos que este Syrah fosse tão bom. 

Apesar de 2003 ter sido uma colheita muito quente na Toscana - tal como o foi em quase todas as regiões portuguesas - chega-nos um vinho muito pouco sobremaduro. Claro que é poderoso e algo rústico - fruta decadente, aromas a cogumelos e terra, a carne, algum químico e ligeiríssimo animal -, mas sempre sem perder o equilíbio e a proporção e, muito importante, sem perder frescura (coisa que parece impossível pois, no Verão de 2003, a zona central da Toscana atingiu temperaturas muito superiores a 40º durante vários dias seguidos). É certo que é um vinho bem desenhado, mas tem mais: tem carácter (apesar da casta ser importada de França) e tem outra qualidade também, a sua complexidade, qualidade tão difícil de encontrar nos "espécimes Syrah" nacionais. A boca é sedosa e sublime - a verdadeira sedução dos vinhos italianos! -, com os seus taninos maduros muito saborosos.

Não, este não é um texto de quem está desgostoso relativamente aos Syrah produzidos em Portugal. Pelo contrário! Este é um texto de quem esperança, sim esperança que alguns dos grandes produtores e enólogos nacionais provem este tinto e o tentem imitar.

17,5+

sexta-feira, maio 06, 2011

Um texto político

Meias garrafas de champagne refrescadas rapidamente num saco de plástico com muito gelo e água. Truque barato mas eficaz. Também o Mumm, não muito caro e longe de ser um nosso preferido, revelou-se eficaz na arte de agradar sem impor complexidade(s). 

Ainda há momentos assim. Haja vida para eles, mesmo com o FMI dentro de casa.

segunda-feira, maio 02, 2011

David Lopes Ramos


Conheci pessoalmente o David Lopes Ramos apenas em 2009 apesar de há muito seguir as suas crónicas gastronómicas. Primeiramente pareceu-me sereno, tímido até, e ligeiramente distante. Numa segunda volta, logo percebi que a serenidade era a sua matriz, e que a referida distância era apenas uma ilusão - na verdade, revelou-se sempre muito amável e incrivelmente cordial para mim, um seu admirador.

Lembro-me de uns rissóis de camarão que provámos no Panascal num dia de sol de Inverno. Adorei-os e disse-lhe que os achava fantásticos; respondeu-me que eram realmente bons, que tinham sido preparados pela cozinheira da quinta (que ele conhecia), e que o segredo talvez fosse o caldo (o David era louco por caldos...). Por mais do que uma ocasião voltámos a falar sobre esse dia de Inverno magnífico no Douro e, claro, sobre esses rissóis de camarão - a última circunstância em que nos lembrámos disso foi nos prémios da Revista de Vinhos faz 2 meses, quando calhámos, mais uma vez, na mesma mesa. Infelizmente, foi a última vez.

Que grande tristeza a sua morte.

Os mais sinceros pêsames à família, sobretudo a sua mulher que também conheci, e à filha.

NOG