Vinhos da Quinta da Nespereira
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Vineaticu (T) 2006
Sarmentu (T) 2006
Frases como "o Dão está em mudança" ou "surge uma nova vaga do Dão", têm sido escritas por mais de cem vezes nos últimos tempos… e agora por mais uma vez. Mas não são frases escritas em vão, não são apenas títulos vazios, muito menos uma mera ideia sem qualquer correspondência prática. Ao invés, revelam uma realidade palpável, a de que vários produtores do Dão têm vindo a lançar novos e atraentes produtos. Vinhos mais fáceis na maioria das vezes diz-se, mas não só… da cada vez maior quantidade produzida com rigor técnico tem surgido um incremento na qualidade geral dos vinhos, à qual não falta sequer a criatividade de um ou outro produtor mais emblemático e carismático (como seja Álvaro de Castro). Pois bem, da Quinta da Nespereira, sita bem próxima de Gouveia, surgem-nos dois tintos DOC do Dão, ambos com força, com garra, quase carnudos mesmo. São marcas jovens e modernas que, com mais algum acerto na adega, podem vir a dar que falar.
O vinho maior é o Viniaticu, que se apresenta químico, carregado, verdadeiramente cerrado nos aromas violáceos e a fruta madura com uma ponta de menta próxima do clássico after-eight. Na boca, revela-se um vinho com músculo, acidez em bom plano, novamente com apelo a fruta madura, mas não chega a convencer tanto quanto o faz no nariz: é algo plano na dimensão mais vegetal, apesar de saboroso nas especiarias; é algo sorumbático nas referências tostadas apesar de generoso na fruta. Mais algum tempo de garrafa deverá fazer-lhe bem para moldar melhor um conjunto já de si muito certinho. 15,5++
O irmão menor é o Sarmentu que, contudo, não fica atrás do Viniaticu. Como este, aquele revela uma boa dose de intensidade aromática, desta feita com uma vertente que cativa sobretudo pela fruta vermelha e ainda por um toque vegetal seco muito agradável. Difere, porém, do irmão maior na definição do estilo, posto que não passa por madeira nem entra Touriga Nacional no lote. É, portanto, um vinho mais "limpo" na dimensão da fruta, mais definido e focado com tudo o que isso tem de bom num vinho que se quer pouco complicado (e já começa a ser difícil encontrar um tinto do Dão sem Touriga Nacional...). É, porém, menos interessante na boca, sem complexidade devida. Servirá muito bem, em qualquer caso, como acompanhamento a pratos intensos típicos da região e poderá ser guardado por um par de anos. 15,5+
Em suma, mais dois bons tintos do Dão que merecem ser conhecidos e a preços comedidos, a menos de 10€ cada.
Em suma, mais dois bons tintos do Dão que merecem ser conhecidos e a preços comedidos, a menos de 10€ cada.
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