segunda-feira, dezembro 26, 2005

Termeão "pássaro branco" (T) 2003


Um dos produtores da moda, Manuel Campolargo sediado na Anadia, desafia-nos para mais um vinho de garagem (ie., com produção limitada a pequeníssimas quantidades).
Com Camarate e Touriga como castas predominantes, e um pouco de cabernet Sauvignon, todas vindas da Bairrada (terroir laboratório do produtor) só podíamos encontrar um vinho assim: forte, aroma rijo e pouco domável. Nota-se a falta do estágio de madeira que o seu irmão mais velho (Termeão "pássaro vermelho", ver rótulo) beneficia. No entanto, é um vinho capaz de surpreender qualquer um... bem diferente do que faz por todo o país.
De cor rubi, é o seu nariz intenso e complexo (mineral?) que vinga. Com notas de boca florais e sugestivas a legumes verdes. É melhor esperar um ou dois anos (mas não mais!), para ver se a “fera” acalma.
Para já, é um vinho muito interessante e que todos os enófilos devem experimentar. A menos de € 8 na Makro (€ 20 pelo Termeão "pássaro vermelho").

Esporão Garrafeira (T) 1997


Começamos no Sábado de Natal com um Esporão Garrafeira 1997 a ombrear uns filetes de polvo com arroz do dito. A expectativa era muita, não só pelo facto do vinho ser um dos melhores que a região oferece, como pela sua idade (pouco própria para um alentejano, dirá, a priori, muita gente).
Elaborado com Cabernet Sauvignon, Aragonês e Trincadeira, estagia por 18 meses em carvalho francês novo e uma parcela em carvalho americano.
Na cor, foi um vinho de cor granada, com nuances de alguma evolução, tonalidade concentrada, deu-nos imediata sensação que estaria em óptima forma. No nariz aromas a fruta madura perdidos num curioso arabesco mineral, algum “cassis” (mas pouco) e grãos de café. Madeira bem doseada a trazer aromas e sabores exóticos, boa presença da casta francesa. Taninos macios e integrados.
Um grande vinho do Alentejo a mostrar que, quando bem elaborados, estes podem descansar uma década antes de serem bebidos.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Quinta da Sequeira (T) 2001

Após um elogio rasgado do Pedro Gorjão Henriques, à primeira oportunidade fui comprar uma garrafa de "Quinta da Sequeira". Comprei-a por €13 na Garrafeira Internacional, loja recentemente inaugurada na Rua Escola Politécnica, ao Príncipe Real.
De cor vermelha escurecida, apresentou um bom porte no copo, e um belo nariz (de antemão muito complexo). Mostrou-se forte na boca, áspero, com a madeira escondida por uma fruta em decomposição (mas sem vestígios de sabores “confitados”). Algumas notas de fumo, e de tabaco.
Com um final longo, foi um vinho muito interessante, mas difícil, que tememos ter como maior virtude acompanhar uma robusta refeição. Bebê-lo sem comida poderá ser arriscado...

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Calços do Tanha Reserva (T) 2001

A poucos quilómetros de Ponte de Lima, já perdidos no verde minhoto, descansámos no Restaurante Bocados e recuperámos as forças com a sua cozinha. Com inspiração na gastronomia portuguesa, servem-se vários pratos pequenos à laia de entradas e um prato final, "bocado maior". Nada se escolhe, é tudo por conta da casa. O prato maior foi um bacalhau envolto em couve, muito bom. O bolo de noz coberto de chocolate foi uma tentação que não se evitou.
No vinho resolvemos provar o irmão maior de um néctar bebido faz semanas. Se já tínhamos gostado muito do Calços do Tanha (e aqui deixámos testemunho no texto de dia 22 de Novembro), venha agora o Calços do Tanha Reserva – foi o que pensámos e melhor fizemos. Escuro (mas não preto), muito consistente, pesado no copo, foram os brutais aromas a frutos vermelhos que mais transbordaram dos copos (próprios para apreciadores, o que mostrou o cuidado do Sr. José Pereira, o proprietário). Na boca algumas notas de couro, tabaco e novamente uma compota em decomposição. Um final longo, a título de despedida magistral.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Condado de Haza Reserva (T) 2000

Umas almôndegas primorosas esperavam em casa, envoltas num molho espesso. Juntámos, como entrada, umas fatias de veado fumado e umas tâmaras com presunto; fizemos o jantar.
Como fazia tempo que não depenava a secção espanhola da minha garrafeira, fui buscar um Ribeira del Duero. Após alguma hesitação, lá decantámos um “Condado de Haza Reserva 2000”. Esta segunda quinta de Alejandro Fernández é tida como o seu sonho, depois da muita fama obtida com os “Tinto Pesquera” (aos quais já fizémos referência num texto de 18 de Julho deste ano). Aliás, as duas quintas distam poucos quilómetros, como constatei no ano passado quando percorri toda a estrada de Peñafiel em busca das melhores bodegas.
Ora, este Condado de Haza esteve irrepreensível, em óptimo estado de maturação. Apesar da colheita de 2000 ter ficado furos atrás à de 2001, mostrou uma bonita cor de cereja (típica dos Reserva da região) e aromas equilibrados de madeira, fumo e fruta. Surpreendentemente, o tempranillo esteve repleto de sabores, numa estranha sucessão de frutas maduras diferentes, tudo com uma pouca acidez tradicional.
Um pouco distante dos melhores da região (do que melhor e mais caro se faz no mundo inteiro), mostrou-se gostoso e guloso, um vinho que apetecia beber. Pena o final, curto para o que se dele esperava.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Cartuxa Reserva (T) 2002

A cor começa a desapontar (já com evolução) e no copo mostra-se mesmo “leve”, pouco denso... um súbtil brilho coral (pálido) e pouco mais.
Na boca, já tudo é diferente: vivo, muito fruta (mas não madura), tudo a lembrar o “vinho novo” alentejano que se bebe no próprio ano da colheita. Tem um estilo contra a moda dos tintos carnudos e concentrados, é um tinto suave e ideal para acompanhar certos assados pouco fortes (peixe ou carnes brancas). Apelativo.
A menos de € 20.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Tapada de Coelheiros (B) 2004


Duas enormes postas de garoupa para três pessoas... um regalo bastante para uma despedida de comidas mais outonais.
No vinho elegeu-se um branco à teimosia de encarar o Inverno de frente. Um belo Tapada de Coelheiros. Muito elegante no nariz, notas cremosas e tostadas, algum pão fresco e chá verde, nota-se o arinto.
Na boca muito seguro, faz parte de uma nova vaga de brancos alentejanos que não envergonham o nosso país. Algo citrino, foi contudo a untuosoidade a sua maior virtude. Um branco macio como poucos, no qual sobressaíram notas de manteiga e uma leve baunilha fruto de uma (curta) fermentação em madeira.
Este branco da Tapada de Coelheiros, mais uma jóia de António Saramago e já com tradição, junta-se como uma referência a outros brancos alentejanos de grande porte como o Pêra Manca, o Monte da Penha, o Couteiro-Mor Antão Vaz, ou o JPR Antão Vaz, entre outros.
A menos de € 10 numa garrafeira. O dobro num restaurante.
N.A.: O rótulo que ilustra o texto respeita à coleita de 2002, mas são mínimas as diferenças com a versão actual.