Feira do Vinho do Dão '08
(e breve reflexão sobre o presente da região)
Foi na passada semana que ocorreu mais um evento vínico, desta feita em Nelas a propósito de mais uma edição - e já é a 17ª - da Feira do Vinho do Dão. Dizem-nos que a feira conta cada vez com mais produtores (e com mais vinhos). Se assim for, o futuro deste evento está assegurado, tanto mais que a organização mostrou-se muito competente.
Os produtores "suspeitos" com bons vinhos são os do costume, mas diga-se, em abono da verdade, que também são cada vez mais os vinhos do Dão com muito valor. Para isso tem contribuído boas colheitas sucessivas - 2003 e 2005 muito boas, 2004 boa -, melhoria nos métodos de produção, e o efeito sempre positivo da concorrência de novos e dinâmicos produtores.
Acresce que, a par dos excelentes lotes tintos (a tradição da região, como aliás da generalidade do país, é de vinhos tintos loteados de várias castas), cada vez melhores monocastas são lançadas no mercado: é ver os encruzados, as tourigas e os alfrocheiros a pulularem nas estantes das garrafeiras e dos hipermercados.
Depois, a região já conta com a presença de casas com prestígio e alguma tradição, daquelas que produzem, por regra, bons vinhos independentemente da colheita. Sucede, ainda, que algumas dessas casas (eg., Global Wines e Sogrape) são autênticos gigantes o que também fortalece a região, nomeadamente a nível de dimensão. Por fim, surge o turismo que pretende emergir na região à semelhança do que hoje já vem acontecendo sobretudo no Douro, mas também no Ribatejo e no Alentejo, tendo sido apresentado o projecto do Museu do Vinho do Dão que ficará sito na bonita vila de Santar. Tudo boas notícias!
O interesse numa Feira do Vinho do Dão é, portanto, muito e multifacetado: se, por um lado, temos interesse em provar os novos vinhos das "casas clássicas", por outro lado é impossível resistir a degustar as novidades provenientes de projectos mais recentes. Quantos aos referidos suspeitos do costume, destaque nosso para os tintos da Quinta do Perdigão, todos eles equilibrados como é apanágio da casa (realce para o rosé '07 e o apelativo touriga nacional '05). Depois, não podíamos evitar em referir a Quinta dos Roques que mais uma vez produziu um excepcional encruzado na colheita de 2007 (talvez o melhor de sempre da casa) e tem no Garrafeira '03 um tinto em óptima fase de evolução (quando ao afamado Flor das Maias, gostámos dele mas pensamos que é preciso esperar para ter uma melhor ideia do seu potencial). Também muito bons os vinhos dos produtores Casa do Cello/Quinta da Vegia (mantém-se em forma os reservas '03 e '05), Quinta das Marias, este com um touriga '06 já em boa forma mas a pedir estágio em garrafa, e Vinha Paz com um excelente reserva '03 (aliás, os grandes tintos de 2003 do Dão parecem estar todos já em óptima fase para consumo, mas podem evoluir).
Nas "revelações", ainda que não sejam produtores propriamente novatos, destaque para Quinta do Margarido com mais um belo encruzados '06 (aguarda-se com expectativa o '07) e um curioso espumante 100% touriga, e para a Quinta da Fata com um touriga nacional '06 mais "sobremaduro" que o '05, mas também mais apelativo. Também interessante a Quinta Mendes Pereira que apresenta já uma gama interessante e vasta de vinhos tintos e brancos.
Para o ano, nova edição...
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