terça-feira, novembro 25, 2008


"Retaste" 1: Gouvyas (T) 2000

Durante um mês, voltámos a provar vinhos que já não provávamos faz algum tempo. O que encontrámos? Aqui vai um dos primeiros... e logo uma surpresa (ou talvez não).

No caso deste Gouvyas (T) 2000, encontrámos um dos mais surpreendentes tintos que bebemos este ano de 2008. Comprado por uma ninharia na "Lavinia" de Madrid (se o João Roseira soubesse ficaria louco...), mantém-se escuro, muito escuro no copo (podia ser de 2002 ou de 2003). Bouquet perfeitamente evoluído (evoluído, não gasto), com fruta e madeira em destaque - tudo muito presente como se os anos não tivessem passado. Está agora mais perto de um tinto universal do que regional pois o carácter rústico dos primeiros anos transmutou-se em pura elegância. Boca sedosa de entrada cordial, final pastoso e longo, muito longo.
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Nem todas as garrafas estarão como esta, e são poucos os que ainda têm este Gouvyas... Em todo o caso para os que têm exclamamos nós: Sortudos!


17,5 ++
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segunda-feira, novembro 17, 2008


Rocim (T) 2005

Já nos referimos anteriormente (ver aqui) ao projecto alentejano Herdade do Rocim. Hoje vamos defrontar-nos com o tinto de entrada de gama do respectivo produtor, Rocim de seu nome. A partir de Aragonês, Syrah e Alicante, apresenta fruta madura no nariz e uma leve "brisa amendolada". Boca polida e atraente, com taninos muito discretos a pedir consumo imediato, este é um tinto para ser bebido novo e, nessa vertente, pode constituir um best-seller, assim a distribuição o consiga (mas não deixa de ser um mistério o facto de estar para prova um tinto de 2005, quando o reserva de 2006 foi agora lançado). Um excelente vinho para o dia-a-dia, para quem quer/pode pagar cerca de €7,5 ou um pouco mais por garrafa. A mais de €9 encontrará outras opções.

15


Próximos vinhos: Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006; Herdade do Perdigão Reserva (T) 2004; Casa Burmester Reserva (T) 2006; Curva Reserva (T) 2006

sexta-feira, novembro 14, 2008


Quinta do Frei Estevão Reserva (T) 2005

Cor retinta, tonalidade cereja escura mas não opaco. Boa intensidade aromática, com as primeiras sensações a álcool, vegetal seco e ligeiro licor de amêndoa amarga, anis e noz-moscada. Indicia portanto uso de madeira e fruta próxima da sobrematuração. Desenvolve ainda um registo mais animal, lã molhada, sempre com um fundo de fruta muito madura e ligeiro floral.

Na boca voltam a surgir as notas licorosas, não apenas a amêndoa mas também em referências a compota de ameixa. Perfil arredondado, apenas com um ou outro tanino mais duro. Uma hora depois, decantado, mostra ter boa matéria-prima, carácter lácteo, chocolate amargo no final de boca. Admitimos, contudo, ser preciso mais trabalho na adega para subir de patamar.

Em suma, é um bom vinho, e logo com duas facetas. No início revela ser um duriense de gema daqueles com perfil gastronómico; depois, abre numa versão bem mais acessível e sedutora. Melhorou tanto com a oxidação que acabamos mesmo por subir meio ponto à classificação que inicialmente tínhamos pensado para ele. O preço andará por volta dos €10 sobretudo nas garrafeiras do Porto.


15,5-16


Próximos vinhos: Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006; Herdade do Perdigão Reserva (T) 2004; Casa Burmester Reserva (T) 2006; Curva Reserva (T) 2006

quarta-feira, novembro 12, 2008


NOVIDADE:
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Vila Monte Oaked Rosé 2007
(by Barranco Longo)

Por esta é que ninguém esperava! Não é uma novidade mundial, mas a nível nacional julgamos ser o primeiro caso de um rosé 100% com estágio em madeira. E logo oriundo de Algoz, (onde fica?) em pleno Algarve, outra peculiaridade num Portugal vinícola que há muito esqueceu a região mais solarenga do país… O que já não é novidade é que o projecto Barranco Longo, fruto da persistência de Rui Virgínia em "lutar contra a maré", apresenta tintos e brancos de perfil internacional, e tem no seu portefólio um rosé (que não este de que vamos falar de seguida) que tem sido um best-seller nos últimos verões.

Numa apresentação recatada, em plena noite de São Martinho e com um menu muito apropriado, provou-se então a novidade, resultado de uma colaboração entre o Vila Monte Resort e a Quinta do Barranco Longo. Desde logo, muito curioso o facto da passagem por madeira fazer com que este rosé revele uma vertente multifacetada, que tanto acompanhou com vigor as castanhas a solo no início como, já na sobremesa, mediu forças com bravura com um pudim das mesmas. O facto de ser lançado agora, em pleno Outono, denota a preocupação de colocar este produto num segmento não coincidente com a imagem de rosés frescos próprios e típicos da estação estival.

Na prova, mostrou ao olhar uma cor salmão carregada sem laivos acastanhados. O nariz apresentou-se com as típicas notas a morangos silvestres provenientes da casta Aragonês, mas apenas em segundo plano (já agora, a par do Aragonês, entra no lote Touriga Nacional). De facto, em evidência estão antes sensações a folha queimada e caruma, enfim sensações que aumentam a complexidade aromática do vinho. Tudo ainda com muita especiaria, mas sem excessos. Na boca, mostrou uma opulência única considerando que se trata de um rosé. Tudo arredondado e de cariz glicérico; enfim um rosé diferente: gordo mas não enjoativo. Só o final de boca que podia ser mais seco, mas isso seria pedir "o céu e a terra" tudo junto.

O álcool não ajuda ao consumidor, com os 14.º (vol.) que o produtor entende serem inevitáveis dada a singularidade do vinho (somos tentados a concordar, mas menos um grau era melhor, mesmo com o risco de perder algum toque glicérico). Por isso, não se esqueça de o servir um pouco menos fresco do que os rosés típicos de Verão, e não tenha receio de o acompanhar com pratos relativamente elaborados. Por fim, desconhecemos o preço mas recomendamos muito a compra e não só pela novidade. É que gostámos muito dele!


sexta-feira, novembro 07, 2008


Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005

Sem dúvida que a gama Altas Quintas tem associada a si uma imagem de vinhos frescos, elegantes, gastronómicos, complexos e especiados. Já vimos que isso se verifica nos "Crescendos", tanto na versão rosé como branco (ver aqui), e sobretudo nos tintos (aqui e ali). Mas sempre aspirámos provar um Altas Quintas que, além das referidas qualidades, tivesse alguma dose extra de "gulodice"... nada que desvirtuasse os atributos da marca, mas que lhe pudesse acrescentar algo mais. Sempre procurámos, em suma, um Altas Quintas que além da frescura mostrasse intenso calor na referência a fruta madura; que conciliasse a elegância à robustez de corpo; que fosse gastronómico mas também sedutor, sobretudo no final de boca; que continuasse a ser complexo e especiado no nariz mas fosse, simultaneamente, acessível e prazenteiro de imediato na boca.

Encontrámos, e a menos de €20! É este Mensagem Aragonês (T) 2005.

17-17,5


Próximos vinhos: Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006

terça-feira, novembro 04, 2008

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A "arte" de bem duvidar
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Não há muito tempo, num jantar bem animado entre amigos, bebemos (não foi uma prova) um belo alvarinho português a par de um também belo albarinho galego e ainda outros dois tintos. O albarinho galego assumia a passagem por madeira enquanto o minhoto indicava apenas inox. Como nós por aqui não bebemos rótulos - e muito menos provamos -, escrevemos num caderno de provas a nossa primeira impressão sobre ambos os vinhos. Alguns dias depois, após maior reflexão, desenvolvemos o escrito e colocámos no blog (ver aqui) sem atribuir nota como é habitual quando bebemos/provamos vinhos em jantares.

O mais curioso, é esta a razão do presente texto, é que ambos os vinhos nos pareciam ter passado por madeira. O galego claramente com notas amanteigadas que não podiam dever-se apenas ao batonnage. O minhoto, apesar de menos evidente, também parecia indicar isso mesmo, sobretudo no nariz, levemente fechado num ligeiro aroma eventualmente típico do uso do carvalho. Repetimos o que já dissemos, "como nós por aqui não bebemos rótulos", escrevemos no blog isso mesmo, ou seja que o nariz parecia denotar a passagem, ainda que ligeira, por madeira.
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Sucede que, nos dias seguintes à publicação do texto, dois foram os comentários no sentido de que o vinho minhoto não tinha madeira e que, assim, o mais provável é que não tínhamos provado bem (apelidou-se de "calinada" o suposto lapso). Um dos comentário insinuava que tínhamos bebido demais e que tal vinho não podia, em caso algum, ter passagem por madeira pois tinha uma mineralidade única em Portugal. Como sempre, não apagámos nenhum dos comentários, e demos o privilégio da dúvida a quem, por vezes apenas a título enciclopédico, sabe sempre (nem que seja pelas revistas) se determinado vinho tem ou não madeira. Quanto a nós, e também andamos nisto faz algum tempo, assumimos sempre o lapso e foi o que fizemos na altura.

Mais curioso é que (e já tínhamos esquecido o assunto) durante os 3 dias do EVS, foram várias as pessoas, algumas que nunca viramos antes, que nos relataram que tiveram exactamente a mesma sensação com aquele alvarinho daquela colheita. Mais ainda, outros, tanto na área da distribuição como na da crítica, confirmaram a suspeita de que o vinho tem, pelo menos, 20% de madeira. Ao invés, o produtor, que também estava no EVS, nega.

Se o vinho tem, efectivamente, 20% de madeira, então ficamos contentes pela nossa intuição. Se não tem, ficamos contentes por sabermos agora que não fomos os únicos a duvidar. Mas mais importante do que saber quem tem razão, é observar que, afinal de contas, não era assim tão certo que tal alvarinho não tivesse madeira e que, por isso, as dúvidas eram legítimas. Na prova de vinhos, aliás, quase todas as dúvidas são legítimas, e mesmo a análise a uma ficha técnica enviada pelo produtor não deve turvar a opinião (que se quer) crítica. A nosso ver, claro está.

NOG
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