sexta-feira, abril 24, 2009


Poeira (T) 2006

Depois dos (demasiados) textos sobre "novidades", sobre "visitas" e afins, voltamos às provas individuais. E voltamos a um grande nome recente do Douro. Já é bem sabido que Jorge Moreira atribui ao seu Poeira um carácter diferente daqueles tintos que mais têm marcado o Douro na última década. Já é bem sabido que o Poeira é um projecto com "pés e cabeça", e que os vinhos se vão moldando às características de cada colheita.
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Mais do que um certo excesso de presença aromática, mais do que um corpo pungente, mais do que uma sedução imediata, o Poeira tem revelado um lado mais fino no Douro, mas não menos recompensador quando guardado alguns anos na garrafeira. É, na verdade, mais fresco e mais elegante - e o estágio em garrafa aparenta fazer-lhe melhor -, do que à maioria dos outros durienses. Pelo menos, é o que podemos antever desde a sua primeira colheita em 2001. Mas tudo isto que se acabou de escrever é já, estamos certos, do conhecimento dos leitores, e em especial daqueles que, com conhecimento prático, já beberam, por exemplo, o magnífico Poeira '04 (um dos nossos predilectos). Pois bem, e o 2006? Quem já provou?

Numa pincelada breve, arriscamos a dizer que, entre alguns dos nomes maiores do Douro - neles incluindo os vários produtores que dão corpo ao projecto "Douro Boys" e os grandes nomes do Douro Superior -, este Poeira '06 é um dos tintos mais fascinantes da colheita na região. Imediatamente fresco no copo, de carácter rude, taninos muito secos, este é um vinho para durar e não apresenta tiques de excesso de maturação visíveis noutros vinhos do mesmo ano. Apesar da sua dureza, sente-se (mais ainda do que em anteriores colheitas) e muito agrada a presença da Touriga Nacional a atribuir um leve carácter floral a um conjunto que, por estar ainda bruto (o melhor é esperar um par de anos...), encontra-se por ora algo indefinido no nariz ao nível da fruta - ora mais madura, ora com matizes de fruta encarnada. Na boca, apresenta o corpo típico da marca - i.e., com muita presença mas não em amplitude -, todo ele equilibrado apesar de ligeiramente químico, e, com arejamento vigoroso, até mesmo cativante e quase saboroso.

Por enquanto, está algo "preso", mas afigura-se a um nível alto, sobretudo se tivermos em consideração os seus pares na difícil colheita de 2006 no Douro. Não se encontrando no mesmo campeonato das colheitas de '01, '04 e '05, está, todavia, bem bom! Para guardar na garrafeira já se sabe, e só para quem tiver entre €28-€35 para gastar numa garrafa (pois é, já foi mais barato...).


17,5

Próximos vinhos: VT (T) 2005; Vértice rosé (Esp) 2007; Quinta de Porrais (B) 2007; Vinha Othon Reserva (T) 2006.

segunda-feira, abril 13, 2009

Saca a Rolha na Madeira


Mal tínhamos saído do Aeroporto da Madeira e já nos dirigíamos para a "Paixão do Vinho" (Via Rápida, cota 200, Posto Repsol), garrafeira pertencente aos sócios Filipe Santos e a Francisco Albuquerque. Tudo combinado, pormenores ajustados, foi com o segundo dos consócios, enólogo da "Madeira Wine Company", que planeámos, para o dia seguinte, uma visita ao Wine Lodge da "Blandy's", outrora Convento de São Francisco, mesmo no epicentro do Funchal.


Francisco Albuquerque tem no curriculum três prémios mundiais de melhor enólogo de vinhos fortificados, mas poderia ter também vários outros prémios tanto pela gestão de um imenso stock de vinhos (milhões de litros), como pela supervisão de cerca de quatrocentos produtores (onde a parcela de maior dimensão não chega a um ¼ de hectare), ou ainda pela homérica catalogação dos aromas dos vinhos da ilha. E claro, um prémio também pela fantástica capacidade de comunicação, através da qual consegue trocar "por miúdos" qualquer matéria tecnicamente mais complexa.


Aliciante, no mínimo, foi a visita guiada ao Wine Lodge da "Blandy's" pelo próprio Francisco Albuquerque, que incluiu a entrada no cofre onde estão guardadas as últimas reservas (e no qual brilham, entre outras, as famosas garrafas 1792 Napoleão) e não dispensou a visita às várias salas onde repousam em canteiro (chama-se "canteiro" pois as pipas encontram-se fixas sobre pedras trabalhadas pela técnica de cantaria) os vinhos que irão constituir novos lançamentos e/ou enchimentos. De seguida, na Sala Frasqueira, provaram-se, da "Blandy’s", os Colheitas Malmsey de 1990 e de 1993 (ambos bons, mas mais complexo e amplo o primeiro), os Colheita Bual de 1990 e de 1992 (com este último a revelar-se vibrante e fresco) e o elegantíssimo Frasqueira Bual s/d com, pelo menos, mais de 50 anos (fino de perfil e de recorte gracioso, a notar-se o tempo de garrafa). Provaram-se ainda dois vinhos por nós já conhecidos, o Bual 1968 e o Bual 1977, ambos muito bons. Da Cossart Gordon, provou-se um explosivo Sercial 1963, um vinho de concentração máxima, absolutamente seco na boca e de final de acidez elevada e prolongadíssimo (a demonstração do que melhor a casta consegue fazer, mas poucas vezes o faz).


Tempo ainda para provas na "Barbeito", proporcionadas pelo afável staff da "Garrafeira Diogos" (Av. Arriaga, 48, Funchal), com destaque para o altivo Malvasia Lote 20 anos (doses maciças de avelãs e noz, e ainda bolo inglês como referências) e para o muito acessível Single Harvest 1997, um 100% Negra Mole que não pretende ficar na sombra das castas brancas e mostra-se em muito bom plano. Provaram-se ainda os Reserve 10 anos, quer de Bual quer de Malvasia, dois clássicos e best-sellers da marca, sempre com um óptima relação preço-qualidade.



terça-feira, abril 07, 2009


APRESENTAÇÃO de novos vinhos
José Maria da Fonseca


Foi num ambiente descontraído mas sofisticado, no restaurante "Casa da Dízima" (Paço d’Arcos), que decorreu uma apresentação dos últimos vinhos de mesa da José Maria da Fonseca. O menu estava preparado, a casa quase cheia, e os vinhos a postos. Mais do que o passado grandioso da conhecida produtora de Azeitão, importava, nas palavras de António Soares Franco (administrador da JMF) conhecer os vinhos que marcarão o futuro. Um futuro risonho diga-se, pelo que se provou.

Tudo começou com mais uma edição do DSF Moscatel Roxo Rosé, desta feita da colheita de 2008, revelando-se, uma vez mais, como um dos melhores rosé nacionais (e não só). Complexo no nariz com fruta e matizes florais (rosas) intensas, corpo mediano/encorpado e final saboroso. Uma aposta ganha por Domingos Soares Franco, um rosé que marca pela superioridade sobre os concorrentes e que revela uns nem sempre simpáticos 12.9% de álcool (17).

Depois, já com uma terrina de foie-gras no prato (com compota de figo, maça "grany smith", e "peta zetas", muito bom por sinal) provou-se o Camarate (B) 2008, um branco doce, produzido a partir de uvas Moscatel e Malvasia fina, em iguais proporções. Muito frutado, com pendor pesado para fruta cozida e referências a amêndoa amarga e anona, algo linear. Portou-se bem, todavia, no que respeitou ao "wine paring" com o foie gras (e mostrou ter apenas 11% de álcool), mas foi o vinho em apresentação que menos nos agradou (14,5).

Surgiu então uma boa surpresa, uma nova edição do Pasmados (B) 2007, com um perfil ligeiramente diferente. Mantém-se um branco sério, mas agora sente-se mais um curioso lado duriense (quase 50% de Viosinho, o resto é de Viognier e de Arinto e muito pouco de Esgana). Muito bem no nariz, apesar da evidente madeira, revelou frutos secos, pouca exuberância a fruta e algum mineral. Um óptimo acompanhamento a um belíssimo atum fresco em tataki (sobre arroz de sushi tostado, legumes frios e manteiga de manga). Belo branco, boca ampla mas fresca, à qual só faltou alguma acidez, pelo que sugere ser mais para o Inverno do que propriamente para a época estival (16).

Por fim, serviu-se o topo de gama Hexagon (T) 2005, muito mais vinho que as duas edições anteriores, mais força, mais músculo, mais taninos, enfim mais garra. A acompanhar um medalhão de javali (mimado com trouxa de chévre, maça esmolfe caramelizada e molho frio de moscatel, numa criação culinária que só pecou pela secura e dureza da carne), o Hexagnon mostrou ser dotado de um nariz intenso a fruta preta (amora e mirtilhos), folha de tabaco, e referências a carvalho novo. Boca com muita fruta, boa acidez, complexidade assinalável (são seis castas, com predomínio para a Syrah, Trincadeira e Touriga Franca) e um bom prolongamento de final de boca. Temos vinho (1717,5)!

Em suma, ficou demonstrado que a JMF tem muito para dar, para além dos seus maravilhosos moscatéis. Houve, aliás, oportunidade de provar também o Alambre 20 Anos (muito bom na relação preço-qualidade, e uma óptima entrada nos moscatéis mais sérios) e a Aguardente Espírito, uma belíssima aguardente de moscatel que já não se produz.
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quinta-feira, abril 02, 2009


NOVIDADE

Quinta dos Avidagos
Reserva (T) 2006

Não é a primeira vez que provamos vinhos da Quinta dos Avidagos e este Reserva da colheita de 2006 vem confirmar a apetência do terroir da casa Nunes de Matos, com duas quintas próximas da Régua, para fruta compotada e corpo delicado (eg., ver aqui e ali).
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É um tinto que não mostra a rusticidade que marcou alguns tintos em 2006, que está com fruta que chegue para satisfazer os mais gulosos, e que mantém contudo elegância na integração da madeira. Na boca é sedutor, com muita fruta madura, estilo quente e um "pico na boca" como que a querer dizer para não esquecermos dele na garrafeira. Sem ser profundo, apresenta complexidade e não segue o registo actual da predominância da Touriga Nacional, o que lhe confere algum grau de originalidade. Corpo mediano, mas com final saboroso a pedir acompanhamento sério à mesa.

Em suma, não chegando à qualidade apresentada pelo "Além Tanha Vinha Velhas" (o topo de gama da casa, com edições de 2001, 2003 e 2004), está, contudo, muito seguro de si e vem na linha da edição anterior. Perfil moderno, descomplicado, sedutor e sem extracção desmedida. A menos de €10 na Wine O´Clock é uma óptima opção para carnes grelhadas.


15,5