terça-feira, outubro 31, 2006

E depois digam-me qualquer coisa.

Não é a primeira vez, e não será certamente a última, que destaco a diferença de pontuação - e, assim, de opinião - atribuída a um vinho (eg., já o escrevi aqui). De acordo com Raúl Riba d’ Ave (RRA), que escreve na "Blue Wine" de Setembro a p. 111, o Quinta de Pancas Reserva Especial (T) 2003 "tem fruta pouco presente" sendo "encorpado a médio encorpado". Conclui RAA que o "final é longo e intenso, que mostra a qualidade do vinho, mas que se ressente de falta de fruta". A nota atribuída? Catrapum... 14 pontos!
Este blog não serve de contraditório do seu autor, mas este escreve com a expectativa de que sigam o seu alvitre (quem diz que só escreve para si próprio mente, como é sabido). Também não sou, nem nunca fui, accionista ou da família dos proprietários da Quinta de Pancas. Porém, alguma coisa deve ter passado de mal com a garrafa enviada para a BW. É que, entre os variadíssimos vinhos que provei nos últimos dois anos, o Quinta de Pancas Reserva Especial (T) 2003 merece mesmo um destaque especial (na Estremadura, melhor só o Pancas Premium e estou a ter em conta os da Quinta do Monte d' Oiro). Por isso, provém-no. Excepto se forem daquela clique dos "eu-não-gosto-dos-vinhos-Pancas-pois-não-estão-na-moda". Provém-no. Provém já este fim-de-semana no evento "Encontros com o vinho e sabores 2006" se lá estiver disponível. E depois digam-me qualquer coisa. Pode ser?

segunda-feira, outubro 30, 2006

Encontro com o vinho e sabores 2006


É já este fim-de-semana, na antiga FIL, que se realiza o maior festim do vinho.
Há ano atrás, este blog já sacava a rolha, e contámos como foi. Foi assim.

Os melhores vendidos pela Revista de Vinhos

No último ano e meio a Revista de Vinhos vendeu, a € 5,95, mais de quinze garrafas da gama premium (abaixo dos € 10). De todos os vinhos provados, muitos tintos da colheita de 2003, também temos aqueles que gostámos mais e os outros que gostámos menos.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Os melhores do Saca-A-Rolha

Colocamos nesta lista os vinhos nacionais que mereceram melhores pontuações – 17,5 ou mais nos tintos, 15,5 ou mais nos brancos – neste blog desde Maio de 2005 (a nossa estreia!). Vários outros vinhos foram provados, mas a sua apreciação não foi colocada no blog por questões várias. Nesta situação estão diversos vinhos de topo provados em momentos que não os do sossego do lar ou de um restaurante adequado. Por isso entendemos não atribuir-lhes nota. Outros estão ainda na garrafeira à espera dos melhores dias. Outros ainda foram provados como "novidade" ou "dica do mês" e, também por isso, não entram nesta lista. Os restantes, aqueles provados com calma e muito prazer, são os seguintes:
  • Tintos:
    Nota 18: "Quinta do Crasto Res. Vinhas Velhas 2002", "Quinta do Mouro 2001", "Quinta do Vale Meão 2003", "Tapada do Chaves 1996", "Vale do Ancho 2003".
    Nota 17,5: "Evel Grande Escolha 2003", "Luís Pato Vinha Pan 2003", "Quinta do Carmo Res. 2001", "Quinta de La Rosa Res. 2004", "Quinta de Pancas Res. Especial 2003", "Quinta do Portal Grande Res. 2001", "Quinta de Macedos 2001, "Quinta dos Roques Touriga Nacional 2003", "Quinta do Mosteirô Grande Escolha 2003", "Redoma 2001".
  • Brancos:
    Nota: 16,5: "Gouvyas Res. 2003", "Redoma Res. 2003".
    Nota: 16: "Três Bagos Sauvignon Blanc 2003", "Esporão Private Selection 2004", "Quinta dos Carvalhais 2003", "Soalheiro Alvarinho 2005", "Tapada de Coelheiros Chardonnay 2004", "Tiara 2005".
    Nota: 15,5: "Castello d’Alba Vinhas Velhas 2003", "Cova da Ursa 2004", "Luís Pato Vinha Formal 2003", "Esporão Res. 2004", "Herdade Grande Colheita Seleccionada 2003".

PS - Esta é uma selecção entre os vinhos provados, não representa uma selecção entre a totalidade dos vinhos nacionais.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Casa de Aguiar (T) 2002


Os quatro anos passados desde a colheita notam-se na cor - ligeiramente mais clara e acastanhada -, e o ano de 2002 também não ajudou a concentração. Mas fica por aqui o "mal-dizer". Belo aroma, notas selvagens a vagem-manteiga (aquelas compridas) molhada e a fruta preta muito bem integrada com a madeira (os quatro anos notam-se aqui também). Na boca inunda-nos uma sensação a fumo muito interessante, bem como gotas de especiarias várias - com destaque, no meu palato, para a pimenta branca e noz-moscada - e referências tostadas óbvias. Um tinto de Castelo Rodrigo (Beira Interior) cheio e denso. Mais um produzido pelas Caves Aliança que, todavia, se distingue dos restantes vinhos de quinta deste produtor pelo seu carácter manifestamente rústico. A mesma enologia, porventura. Diferente tipo de vinho, certamente. Eu gostei!
Bom + (16,5). A menos de € 9.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Quinta do Carmo Reserva (T) 2001


Sei que alguns dos leitores supõem que eu não me encanto por vinhos do Alentejo. Mas isso não é verdade. Uma parte significativa das notas mais altas que já atribuí (16,5 para cima) foram mesmo para vinhos alentejanos.
Ora, pouco depois do belíssimo Quinta do Mouro, foi a vez de se provar um Quinta do Carmo Reserva (T) 2001. Se bem que mais frutado do que o vinho de Miguel Viegas Louro, este Quinta do Carmo não foi, no entanto, um vinho monocórdico onde a fruta vermelha se impôs de forma dominadora. Bem pelo contrário, este Reserva 2001 tem muitos atributos. Vejamos:
A visão não é o sentido que este vinho mais estimula: no copo a cor não encanta e o corpo não nos faz suspirar. O mesmo não se diga do olfacto, posto que o nariz é trasbordante e complexo, sobretudo de fruta mesclada com notas frescas (por vezes mesmo herbáceas). No palato desenvolvem-se estas referências, perdendo a fruta o protagonismo a favor de notas minerais muito interessantes e uma madeira equilibrada. É um vinho calmo, sem camadas de fruto, gastronómico até. Alguma especiaria, notas de pimenta, azeitona de capa preta, tudo domado por uma fruta vermelha em pano de fundo (esta colheita de 2001 tem muito que se diga...). O final é fantástico, longo e muito elegante. Os taninos já estão aveludados, mas tudo indica que mais uns anos na garrafeira não lhe vão trazer mal algum.
Para quem, como eu, embirrou com os aromas do Quinta do Carmo Reserva (T) 2003, este de 2001 é um verdadeiro deleite. Um grande vinho do Alentejo, elegante e persistente, que se mostrou uma excelente companhia a uma bela massa carbonara confeccionada pelo amigo Bruno.
Bom ++ (17,5).

terça-feira, outubro 17, 2006

Dica do mês:


  • Quinta do Crasto LBV (P) 1998: A cor mostra já alguma evolução (a brincar... já lá vai quase uma década desde a colheita) com matizes suaves castanhas, mas o nariz está muito bom - no ponto! É um LBV ao qual falta uma certa garra, não sendo particularmente pujante nem encorpado. Revela, todavia, uma delicada elegância onde predomina a fruta vermelha viva sem ser excessivamente adocicado. Um final médio/longo e a certeza de um LBV harmonioso, onde o álcool e o açúcar estão muito bem equilibrados. Algo que, nestes tempos de glorificação dos vinhos concentrados, não é fácil de encontrar num Porto. Ideal, portanto, para acompanhar sobremesas. Como um leite creme com geleia de fruta. A menos de € 20.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Quinta do Mouro (T) 2001


Um regresso de um amigo, de um amigo que vive no outro lado do Mundo, deve ser saudado. Com um Quinta do Mouro de preferência. O que se bebeu foi de 2001, colheita que no Alentejo (e não só) proporcionou vinhos muito equilibrados.
O que se provou está em pleno! Na cor não demostra evolução, apenas um tom cereja muito escuro, opaco se enchermos meio copo. No nariz mostra-se camuflado: primeiro não entoa um gesto, depois revela um pouco a sua garra com notas frescas vegetais. É um vinho com personalidade que se explora devagar. As palavras que se seguem são do Rui Falcão (sobre o Quinta do Mouro 2003) e encaixam com perfeição no que senti faz já duas noites: “austero, denso e cheio, mostra logo ser um vinho muito sério, resoluto, sem pressas, um vinho que impressiona pela sobriedade e peso” - cit. Blue Wine n.º 2, p. 69.
É, agora continuo eu, um néctar que se distrai no copo, que não quer o ser o centro das atenções – todos os vinhos deviam ter esta característica! – mas não se esquece (não se consegue esquecer...). Quando o copo segue, por uma vez mais, à boca deitámos os dois um sorriso ténue e continuamos a falar; tínhamos muito que falar. As notas a azeitona são constantes, é grande a influência mineral, tudo muito carregado e polido. Também o final é longo sem ser impositivo - como eu e o Gonçalo que teimamos em não nos aborrecer. É grande a discrição do vinho com as notas herbáceas não agrestes, e o aroma não excessivamente perfumado.
Um grande vinho numa noite a recordar e na qual tudo correu bem, também graças ao António Simões que, além dos dotes culinários, abdicou da margem de lucro sob o preço da garrafa. Com vinhos destes o Alentejo tem motivos para orgulho!
Bom ++ (18). Entre € 35 - € 40 (recomendável).

quarta-feira, outubro 11, 2006

Quinta do Cidrô Chardonnay Reserva (B) 2004

Na cor é "amarelinho, inclinando-se para os torrados". No nariz mostrou "boa intensidade com alguma baunilha em conjunto com fruta tropical (alguma compota e fruta em calda) algum melão". Na boca tem "bom corpo, fresco e untuoso, redondo com fruta a marcar presença num perfil que se mostra equilibrado e bem feito, acidez presente a dar toque de frescura suficiente para não tornar o vinho pesado e enjoativo". Depois, "(peço que me dêem um desconto) ainda fui parar ao doce de gila. Tudo refrescado por lascas de verdura". O final, esse era "de boca médio/longo com leve mineralidade".
Como já repararam este post não é uma monocasta minha (alegoria à parte). É, antes, a combinação dos contributos de outros que provaram este vinho antes de mim e nos quais não encontro reparo. Assim, os créditos são do João e do Rui, com a peculiar diferença de um ano entre colheitas. De mim, só vai a nota final e indicação do preço.
Bom (15). A menos de € 7.

terça-feira, outubro 10, 2006

Pão e Mythos


Gosto de restaurantes pequenos, de preferência longe do reboliço de Lisboa, que servem refeições modernas com base na gastronomia tradicional e têm um serviço familiar. Encontramos tudo isto no “Pão e Vinho”, restaurante em pleno Vale de Santarém (a menos de 1 h. de carro de Lisboa).
Para a acompanhar uma peça de caça, pediu-se ao Sr. Luís (Luís Miravent) uma garrafa de Mythos (T) 2003, um dos novos valores ribatejanos, segundo nos dizem.
Ora bem, é um vinho produzido a partir de uvas da Quinta do Casal da Coelheira tratado com mimos difíceis de se encontrar noutros néctares da região. Composto por Touriga Nacional, Cabernet e Alicante é um vinho jovem, potente, com uma acidez muito agradável (a temperatura a 16.º também ajudou!). Na cor, salienta-se o Alicante com tons escuros violáceos. O nariz não é exuberante, despontando fruta preta sobretudo a amoras, amparada por uma madeira segura e um álcool em forma. Não o achei tanto estilo "tinta-da-china" como o meu amigo Pingus, mas é verdade que se trata de um tinto moderno de pendor internacional e que pode, por isso, tender para ser cansativo. Na boca é médio/longo, redondo (muito acima da média ribatejana), com taninos marcados e bravios. Em conclusão, não é um vinho original (quantos o são actualmente?), mas está bem feito e acompanhou bem a refeição. Resta saber se é este (também) o caminho dos vinhos do Ribatejo, com a certeza de que neste tipo de vinhos (ie., muito concentrados) são outras as regiões mais aptas.
Bom + (16,5). A menos de € 22.

domingo, outubro 08, 2006

Os vinhos que gosto / Uma aventura no Jumbo

Esta edição de 2006 da feira dos vinhos no Jumbo é, para mim, a melhor de sempre!
Não falo de forma objectiva - as melhores marcas, os melhores preços - mas do facto de conseguir encontrar alguns dos meus vinhos predilectos. Sendo predilectos, não se explicam senão subjectivamente: são vinhos que nos “dão saudades”, que nos lembram momentos e que queremos junto de nós. Uns porque foram dos primeiros que provámos, outros porque conhecemos quem os faz, outros porque adoramos o seu ("aquele mesmo") perfil, outros ainda porque admiramos a originalidade.
É o caso do "Calços do Tanha", uma marca que sigo faz anos, sempre com vinhos rubostos e gulosos (uma dica: guardem umas garrafas para evolução). Outro exemplo é o reserva da "Quinta de la Rosa", um autêntico "porto-seguro" para quem pretende um Douro concentrado mas elegante. Outra predilecção é o "Quinta do Infantado", que graças a um preço sensato já entrou na minha lista. No Alentejo não passo sem um "Francisco Nunes Garcia Reserva", um vinho quente, duro, com muita personalidade, sem dúvida um vinho especial para mim. E o que dizer do fantástico "Dona Maria Reserva", o novo devaneio de Júlio Bastos? Mudando de região, não esqueço dos "Adega de Pegões Colheita Seleccionada", uma prova que existe bom e barato, também são vinhos que acompanho faz alguns anos. Por fim temos o "Vértice Super Reserva", uns dos espumantes mais cativantes e originais que tenho provado.
São tudo manias minhas, preferências ilógicas. Não sei se gostam (ou vão gostar) tanto quanto eu... difilmente tal sucederá.
PS - Só tenho pena que as regiões da Estremadura, Algarve e dos Vinhos Verdes não estejam melhor representadas. Nas feiras dos vinhos evidenciam-se as zonas "super-produtoras" e por isso as minorias - Estremadura e Algarve - ficam uns furos atrás. Quanto aos vinhos verdes, parece-me clara a inexistência de uma aposta em promoções na gama mais alta (Soalheiro, Palácio, Muros Melgaço).

terça-feira, outubro 03, 2006

Tiara (B) 2005


Um aniversário em família é mais do que um aniversário. É nestes instantes (quem gosta de festas sabe que elas passam a correr) que se deve também celebrar o vinho, pois o vinho aproxima as pessoas (alguém duvida?). Como aliás sucede com a comida que une a família. Comecemos por esta: tomates secos guarnecidos com queijo e alcaparras, vieiras (levemente) “chambreadas” com aguardente velha, e um colossal “risotti” de camarão e amêijoas. Nem me refiro às sobremesas...
Bom, mas falemos do vinho. O “Tiara (B) 2005”, uma das últimas criações de Dirk Niepoort nos vinhos brancos (neste caso, amarelo clarinho). O nariz é algo fechado mas já muito perfumado: é uma autêntica panóplia floral sem a intensidade de outros brancos. É caso para dizer que não tem motivos para ser tímido!
A primeira impressão na boca é extraordinária pois sai fora dos parâmetros dos vinhos brancos nacionais. É tudo frescura e elegância com uma perfeita articulação entre mineralidade e uma certa doçura. É um daqueles brancos que vai directo ao assunto – é o que a doutrina estrangeira diz ser “focus” – mas sem qualquer tipo de agressividade. Notas a pêssego e a líchias dominam o palato, é verdadeiramente delicioso! O objectivo, segundo o seu criador, era fazer um “Riesling sem Riesling”. Neste caso, a Codega serviu muito bem.
É, certamente, a par de um ou dois verdes, um dos vinhos brancos portugueses mais frescos e sedutores. Que o diga o aniversariante, o senhor meu pai.
A menos de € 17. Bom (16).