Prova de tintos topos de gama do Alentejo
Não se recusa uma prova aos tintos topos de gama do Alentejo... é algo que não se faz, é um convite que não merece um "voltar costas", é uma proposta que não pode ser ignorada. Não recusámos, pois claro.
As regras eram simples: 12 tintos alentejanos topos de gama ou "super premium" de colheitas relativamente recentes (a grande maioria de 2004 e 2005), e três momentos diferentes de prova - o primeiro, imediatamente após abertos; o segundo, após uma hora sem decantar; e o terceiro, após duas horas e a acompanhar comida típica da região. Notas telegráficas, como se impõem:
Quinta do Mouro Rótulo Dourado (T) 2005: Fruta madura e muito mineral no nariz, tudo com muita potência e intensidade aromática. Boca jovem, com muita fruta mas não excessivamente madura, cheio, pleno de complexidade e de sabor. Um vinho enorme, de taninos de ferro e com um grande futuro – foi o vencedor inequívoco da prova.18++
D. Maria Reserva (T) 2005: Muito bem no nariz, complexo e sedutor, com muitos laivos florais e fruta definida. Boca acetinada, taninos doces, fruta gulosa mas não enjoativa. Ganhou ritmo durante a prova, e o tempo no copo só lhe fez bem. Acabou em grande forma!17,5+
Herdade do Esporão Garrafeira (T) 2005: Belo nariz, mesclando fruta e mineral, madeira e notas vidradas. Complexo e saboroso na boca, mais fino e elegante no estilo do que algumas bombas em prova. Melhorou muito no copo, sobretudo a acompanhar refeição onde mostra ter vocação. 17,5+
Zambujeiro (T) 2004: Muito intenso no nariz, com a Touriga em grande forma e fruto muito maduro em camadas, com creme de leite e chocolate à mistura. Grande boca, intensa mas curiosamente aveludada e de taninos doceis. Uma bomba muito sedutora, quase demolidor no sabor, para os amantes dos super-charges! 17,5
Cortes de Cima Reserva (T) 2004: Complexo e muito sedutor no nariz com fruta negra de excelsa qualidade e fumados da madeira. Mantém o perfil na boca, muito saboroso, taninos perfeitos que não se impõem, cheio e largo no copo. Só não foi perfeito por não ter melhorado com o passar do tempo. 17,5
Mouchão (T) 2003: Começa verde no nariz, com notas a couro à mistura e fruta encarnada tímida. Na boca está fresco, com boa complexidade e a fruta mostra-se mais. Melhorou muito no copo - foi o vinho que mais melhorou durante a prova -, com cambiantes mentoladas e fruta quase madura. Grande evolução durante toda a prova e fantástica aptidão gastronómica. 17++
Vale do Ancho (T) 2004: Bom nariz, mineral e vidrado, algum grafite também. Saboroso na boca, potente com taninos bravos, mas não cheio nem opulento. Óptimo final de boca com matizes mentoladas e grande apidão gastronómica. 17
Paulo Laureano Alicante Bouchet (T) 2005: Nariz original e diferente, mas algo "complicado" por ser verde e pouco expressivo, ao qual parece faltar precisão no ataque. Muito fresco e taninoso na boca, está contudo de difícil harmonização com comida. Irá evoluir bem em garrafa e agradará, por certo, aos fãs da casta. 16,5+
Casa de Santa Vitória Reserva (T) 2005: Muito floral no nariz, com fruto doce doce ligeiramente enjoativo. Na boca mostra fruta madura, taninos correctos, mas não ganhou com o passar do tempo. Evidenciou-se pouco face os restantes vinhos em prova e não marcou a diferença apesar da qualidade mostrada sobretudo na boca e na componente frutada. 16,5
+
Malhadinha (T) 2006: Nariz típico da casa, com notas a rebuçado "floco de neve", floral e fruta derivados da Touriga e da Syrah (quase não se nota o Alicante). Boca bem construída, elegante, cheia e sem falhas, mas algo monótona. Boa qualidade apresentada pelo conjunto, mas falta chama. 16,5
Monte da Cal Vinha Saturno (T) 2004: Muitas notas a verniz e alguma frescura balsâmica no nariz. De resto, muito couro, notas animais em abundância e sensação de fruta algo "queimada". Um vinho com um registo diferente, talvez num momento de forma pouco feliz, sendo certo que ambas as garrafas em prova estiveram exactamente iguais. 16
Quinta do Carmo Reserva (T) 2004: Sensações imediatas a madeira no nariz, e alguma percepção a acidez e a etanol. Boca algo "dura", com taninos secos e pouca fruta. Final de boca inexpressivo. Sem chama, e muito abaixo do esperado. 16
PS I: Esta prova inseriu-se num périplo de 3 dias e meio de provas em diversas regiões do país e só foi possível graças à Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, com destaque para a presidente Dora Simões e manager Tiago Caravana, e ao amável convite - e excelente organização - do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV).
PS II: As fotos foram tiradas e cedidas pela provadora Tamlyn Currin (Jancis Robinson Team) a quem, naturalmente, muito agradecemos.