terça-feira, dezembro 04, 2007


Monte da Ravasqueira (B) 2006

Para bem do consumidor, e a bem da divulgação da marca Portugal no exterior, não devemos produzir apenas bons brancos com preços entre os 20 € e 30 €. Estes topos da pirâmide de qualidade e raridade poderão – e deverão! – sempre existir, mas suportados por outros também interessantes e muito mais baratos. A Nova Zelândia e a Argentina têm mostrado como se faz: alguns topos de gama, muitos baixa gama - todos com qualidade. Nós podemos fazer melhor, se quisermos.

Neste registo de brancos abaixo de 10 €, o Alentejo revela-se um forte player, e tem aproveitado ao máximo a sua capacidade de produzir bons vinhos a preços moderados. Acresce que a par da dupla antão vaz e arinto, os novos brancos do Alentejo têm incorporado outras castas, desde as internacionais mais conhecidas (eg., chardonnay e semillon) às nacionais (eg. verdelho e mesmo outras castas nobres de zonas nortenhas do nosso território).

É isto que sucede com este Monte da Ravasqueira (B) 2006. Provámo-lo, uma primeira vez, na sua apresentação em Lisboa e logo nos apercebemos da sua forte componente aromática, que nos remete para outras paisagens mais a norte e para outras castas… Depois, no retiro calmo do lar, voltámos a ele, uma e mais vezes. Sempre belo na sua cor pouco carregada, mostra já um bouquet marcado pela fruta e pela ausência de "peso". Tem, para nós, uma característica identificável: acidez sem vegetal. Na verdade, o vinho é fresco, com fruta complexa – são seis castas em jogo: três nacionais e três estrangeiras – pouco madura e referências tropicais (ananás, maracujá) e um ligeiro citrino. Na boca cativa e é bem saboroso; novamente a sensação a frescura que vem da própria fruta e não de elementos vegetais. Muito curioso e bem interessante, portanto.

Com o passar do tempo tem vindo a diminuir o seu frutado encanto, sofrendo alguma redução (o tal bouquet), mas o corpo está agora mais untuoso o que também é reconfortante. Pelo preço dele, inferior a 7,5 €, julgamos ser um "achado". É caso para comprar uma caixa! Foi o que fizémos.

PS: Para o tinto "vinha das romãs" (também interessante) ver aqui.

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Próximos vinhos: Herdade de São Miguel Reserva (T) 2005; La Rosa Reserve (T) 2004; Quinta do Perú (T) 2004, Vale do Ancho Reserva (T) 2004; Herdade das Servas TN (T) 2004.

7 comentários:

VinhoDaCasa disse...

"acidez sem vegetal"

Nuno, não percebi muito bem...

Por exemplo, num bom Riesling, num Auslese por exemplo, a acidez é elevada e suporta a doçura do vinho, e de vegetal não tem nada.

Acho que acidez e vegetal nada têm que ver. Pedia-te se me permites, que me esclarecesses melhor o que querias dizer.

Um abraço

João de Carvalho disse...

Duvido muito que o vinho em causa tenha aromas terciários para que possa ter o denominado Bouquet.

Quanto a acidez sem vegetal... não estaremos a misturar duas coisas diferentes ?

NOG disse...

Frexou, sucede que tenho encontrado muitos vinhos cuja acidez assenta, sobretudo, num fundo vegetal. São coisas diferentes como diz o João, mas parece-me que muitos brancos do Dão e alguns do Douro têm insistido nessa matriz.
Este, no entanto, branco não é assim (mas também não se aproxima de um Auslese) e talvez seja por causa do alvarinho que tem: dá-lhe acidez mas também fruta (o semillon ajuda na fruta). E isso nota-se no nariz (mas também na boca) onde a casta minhota está bem presente.

Provem-no...

Abs.

N.

João de Carvalho disse...

Tudo muito bem, agora gostava de saber onde foste aos aromas terciários presentes num vinho de 2006 para dizeres que tem Bouquet ?

NOG disse...

É verdade, é difícil de imaginar aromas terciários (bouquet) num vinho com um ano de garrafa. Neste caso, porém, tive as garrafas em casa desde o mês do engarrafamento e, por isso, tenho vindo a notar uma notável redução evolutiva (da qual falo no último parágrafo), isto apesar do vinho ser apenas da passada colheita. Em rigor, em alguns brancos tenho encontrado aromas terciários com pouco tempo em garrafa, mas admito que a expressão cause perplexidade num caso destes.

João de Carvalho disse...

«mostra já um bouquet marcado pela fruta»

É a isto que te referes ?
Eu a pensar que a fruta fazia parte dos aromas primários.

Na nota de prova em momento algum se colocam aromas que indiquem a presença ou desenvolvimento de Bouquet.

A redução de que falas deve ser a fruta a dizer adeus.
Penso que confundes aroma com bouquet.

NOG disse...

Não admitindo, até podia ser o caso, pois "bouquet" em francês, para além de bosque e ramo de árvore, também significa aroma. Mas, como imaginas, sei bem que anda associado a aromas terciários.

Ab.

N.