terça-feira, março 16, 2010

Surpresa


Compota Tinta Roriz (T) 2007

Uma surpresa efectivamente... mas não por duvidar do qualidade do "projecto pessoal" de Pedro Carvalho (e referimo-nos a projecto pessoal por contraposição ao projecto familiar da conhecida Casa de Santa Eufémia). Uma surpresa, isso sim, pela casta escolhida para este tinto estreme, nem mais nem menos que a cada vez menos privilegiada Tinta Roriz. E uma surpresa também pelo registo: fino e elegante (que nos lembrou, por vezes, um Pinot Noir menos complexo), bem longe do perfil concentrado do Compota (T) 2005, produzido também no Douro mas a partir da mediática Touriga Nacional.

No copo, a cor, como deixámos antever, revela concentração mediana, com transparência bastante assinalável. A prova de nariz é muito agradável, contribuindo para isso as matizes de fruta silvestre encarnada fresca, notas tostadas sem excesso, e um toque mineral persistente, tudo num conjunto directo, bonito e (parece-nos) bem trabalhado na vinha onde é preciso ter cuidado com a casta que amadurece cedo.

Na boca, mantém o registo refrescante, de tinto fino e com bom recorte, com fruta saborosa apesar do final de boca algo curto. A madeira quase não se sente (poucos meses de barrica, certamente) deixando a fruta encarnada dominar o palco e a prova - e ainda bem! Precisa somente de maior complexidade, e quem sabe se de um par de anos em garrafa, para voos mais altos.

No mercado, devem contar-se pelos dedos das mãos os monocastas de Tinta Roriz/Aragonês, independentemente da região do país, numa tendência que se tem intensificado nos últimos anos. Neste tinto estreme, encontramos um duriense personalizado, apostado na elegância sóbria. A acidez capaz, e a frescura vincada, colocam-no como um bom companheiro à mesa, jogando na maridagem com saladas, carnes simples, e mesmo peixes assados. A menos de €14, é então uma surpresa que merece ser provada.

16,5
***

3 comentários:

Pedro Sousa P.T. disse...

Gosto destas surpresas a menos de 15€. E andam por aí muitas no mercado, temos é de andar atento. Dou já um exemplo também, Herdade do Pinheiro reserva 2004, a menos de 14€ no Pingo Doce.

Abraço.

ps: Muito boa aparição diante das câmaras da TVI, acompanhado com uma explicação claríssima sobre o IRS. Muito bem...

NOG disse...

Caro Pedro,

É mesmo uma surpresa a provar, mas admito que seja preciso procurá-lo, pois julgo que não está na grande distribuição.

Obrigado pela dica, efectivamente os vinhos da Her. do Pinheiro tem vindo a revelar-se um porto seguro no que toca a qualidade e, sobretudo, preço.

Um ab.

NOG

PS: obrigado novamente, a vida não é só vinhos, e temos que contar com os inevitáveis impostos...

Pedro Sousa P.T. disse...

Sim, o Imposto sobre o álcool, no nosso caso o vinho, está à mão de semear de qualquer PEC :)