terça-feira, julho 31, 2007


Quinta do Vale Meão (T) 2002

Quando surgiu no final da década de ´90 apareceu como um furacão e arrecadou, de imediato, elogios de toda a parte. Naturalmente, quando o provei aconteceu-me o mesmo: na altura, com o Vale Meão 1999, fiquei perdido com tanta "força tranquila".

Colheita após colheita, o elevado standard mantém-se imperturbável. Por isso, e a par de dúvidas que vêm sendo levantadas sobre a longevidade das primeiras colheitas, importa conhecer, a título de desafio, como se porta o Vale Meão no pior ano do Douro desde que surgiu no mercado.

Belíssima cor cereja muito escura com ligeiros laivos violeta. Auréola ligeiramente acastanhada a revelar cuidada evolução.

No nariz começa com fruto em geleia em grande intensidade mas sem se tornar monótono ou excessivamente doce… enfim tudo começa com qualidade excelsa e, nesta fase, é um tinto de puro prazer. Depois, ½ hora volvida, revela-se um lado floral proveniente da touriga nacional que marca (e de que maneira!) o lote. Passada mais outra metade de hora, e é notar uma nova mudança de perfil… agora mais químico onde referências a tinta-da-china se impõem.

De resto, é um tinto muito cheio, boca larga, com final muito saboroso. Por mim (e para mim) pode aguardar mais 3 anos em garrafa.
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Sugestão de acompanhamento? Poucos – mas bons – acepipes (ver foto). É um filho grande de um ano menor!

18


Próximos textos: Projectos Niepoort, visita à Quinta da Gricha (Churchill's), prova da colheita 2004 da Quinta do Perdigão, Quinta do Alqueve 2 Worlds (T) 2004.

quinta-feira, julho 26, 2007


Redoma (T) 2003

Cor assertiva – está confiante este Redoma (T) 2003!
Nariz fresco de alta intensidade. Não evitamos pensar como deve ser difícil fazer um vinho com tanta frescura num ano quente como o 2003...

Na boca é Douro, Douro e mais Douro: i.é, fruta elegante, sem excessos, postura fina e séria, alguma rusticidade. Mais 5 anos em garrafa não lhe trarão mal algum. Madeira integrada, final longo e a denotar mais e mais frescura (que alegria!).

A antítese de um vinho monótono e previsível que nos acompanha faz várias colheitas (para o ' 2001 ver aqui). Mais palavras para quê?

17,5

Próximos textos: Quinta do Vale Meão (T) 2002, Projectos Niepoort, visita à Quinta da Gricha (Churchill's), prova da colheita 2004 da Quinta do Perdigão.

terça-feira, julho 24, 2007


Quinta do Vallado Reserva (T) 2004

Lembramo-nos com muito prazer dos primeiros Vallados Reserva que bebemos. Lembramo-nos até com exactidão onde tal sucedeu, qual o "local do crime". Na altura, bebeu-se o belíssimo ‘1999 – que surpresa naqueles tempos... -; um ano depois foi a vez de provar o igualmente fantástico ‘2000. No copo de prova, desta feita e vários anos volvidos, temos a colheita de 2004, também ela merecedora de prémios e elogios internacionais.

Pois bem, a cor é cereja escura, longe de se mostrar opaca. A maior qualidade deste tinto (nesta fase) revela ser o seu nariz: marcado por aromas a verniz e acetona, está muito fresco, abundantemente balsâmico e com um feliz mix composto pela madeira predominante e pela fruta vermelha à procura de mais espaço.

Na boca, está igualmente jovem mas já polido: muita intensidade, largo e cheio, todo do tipo sedutor todavia com pequenas nuances terrosas. Final amargo (café, chocolate preto) de bom porte. É a madeira que novamente mais se sente.
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Está um belo Douro, sem dúvida. Para já, talvez o melhor seja deixar repousar na garrafeira cerca de dois anos com esperança de mais complexidade. Mas é inevitável sentirmos nostalgia da prova das primeiras colheitas.

17

Próximos textos: Redoma (T) 2003, Quinta do Vale Meão (T) 2002, Projectos Niepoort, visita à Quinta da Gricha (Churchill’s) e muito mais…

segunda-feira, julho 23, 2007


Valle Pradinhos Reserva (T) 2004

Desta feita é mesmo novidade… depois de nos termos referido (ver aqui) à gama Valle Pradinhos como uma das melhores no mercado – falamos de qualidade, originalidade, e preço – surge agora a cereja no cimo do bolo.

Por algum tempo cogitámos sobre a razão de não existir um produto no topo da gama desta casa de Macedo de Cavaleiros, um vinho que beneficiasse daquele cabernet "maduro e adulto" (SIC) plantado em altitude. Ora bem, aí está ele agora (ou melhor em breve…), o Valle Pradinhos Reserva (T) 2004. Uma nota preliminar: quem prova tintos deste produtor conhece bem a força do terroir, e sabe que é necessária alguma cave para o vinho arredondar. Ora bem, neste Reserva tudo é ainda mais bruto, mais inacessível, pelo que a guarda deixa de ser necessária para passar a ser verdadeiramente indispensável.

Pois bem, com todos os luxos de hoje – desengace total, suaves remontagens diárias, longa maceração pós-fermentativa, 16 meses em barrica – surge-nos no copo um tinto de cor vermelha granada; perdidos que andamos nos monótonos tons "quase-pretos" e "cereja escura", este Valle Pradinhos começa por nos surpreender com um vermelho lindíssimo e reflexos violáceos e outros mais acastanhados.

Ab initio, o aroma é marcado pela madeira - Não há nada a fazer dada a sua juventude, é mesmo assim! Só depois (5 a 10m depois), vem a fruta, o tal cabernet maduro que se resume a uma combinação muito feliz de fruto negro e sensações frescas e florais. Já mais calmo no decanter (i.é, ½h depois) e na boca revela um morango silvestre cativante, em suma um fruto vermelho de invejável qualidade. Boca cheia, mantêm-se fresco, de cariz profundo e demonstrando um final amplo. Mesmo perto do fim da prova (já lá vão mais de hora e ½), o nariz atinge o seu auge com uma finesse demolidora e a boca finalmente "arredonda-se".

Para já está pujante, talvez demasiado para os padrões actuais. Mas os taninos finos permitem perspectivar que não será preciso uma década para o beber em deleite.
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Aqui vai uma banalidade do autor para quem leu o texto: é o melhor Valle Pradinho que bebemos até hoje! À venda a partir de Novembro de 2007, por menos de € 25.

17,5

Próximos textos: Quinta do Vallado Reserva (T) 2004, Redoma (T) 2003, Vale Meão 2002, Luz (B) 2006 Projectos Niepoort

quarta-feira, julho 18, 2007

Mini-vertical de Evel Grande Escolha

A ideia de uma mini-vertical de Evel Grande Escolha andava a matutar na nossa cabeça faz tempo. Lembro-me mesmo de ter conversado com o Rui sobre isso, mas desta foi mesmo de vez! Este topo de gama da Real Companhia Velha surgiu na segunda metade da década de ' 90, mas em jogo apenas estavam as colheitas de 2000, 2001 e 2003. O que havia de 1999 já era (ver aqui), e o de ' 2004 pensamos que se encontra ainda muito novo.
A conclusão principal que podemos tirar é que se trata de um vinho com uma belíssima qualidade (sobretudo para o preço em causa), mas também consistente ao nível das três colheitas provadas. Como sempre acontece nestas coisas, é evidente que os vinhos foram o espelho da colheita, e por isso o ' 2001 mostrou um registo bem diferente dos irmãos, mas sem ficar furos abaixo. Para mais, tratam-se de vinhos de relativa longevidade, posto que o ' 2000 já leva uns anos e portou-se muito… vejamos:

Evel Grande Escolha (T) 2003: confirmou-se o que se esperava dele, e confirmou também as provas anteriores (ver aqui). Jovem no nariz, de cariz frutado e com final balsâmico. Não é daqueles tintos que nos fazem perdem horas a contemplá-lo, mas é "focado" e vai direito ao assunto. Esteve muito bem, boca totalmente redonda e já pronto para consumo, faltando-lhe apenas alguma complexidade no final de boca que talvez a idade lhe pode proporcionar. 17

Evel Grande Escolha (T) 2001: o ano não foi de fruta mas antes de "vinho", e este Evel Grande Escolha revelou isso mesmo. Mais seco que os irmãos, nariz distante mas muito cativante, profundo mesmo. Complexo na boca – é um tinto que dá séria luta – fresco, com toques de menta e chocolate amargo. Perfil gastronómico (neste aspecto, muito acima dos 2000 e 2003), final médio, taninoso, e (novamente) a sensação que ainda pode durar alguns anos na garrafeira. 17

Evel Grande Escolha (T) 2000: quem pensou que o ano quente o podia marcar com pouca longevidade engane-se! Está de boa saúde (e existem muitos ' 2000 do Douro que já não estão…), com camadas de fruta preta madura mas sem qualquer "pico" de sobrematuração. A evolução está no auge – é bebê-lo já – com a madeira perfeitamente integrada. Final elegante, longo e quente, enfim um conjunto muito sedutor. Um vinho de puro prazer em perfeito estado de evolução. 17,5
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domingo, julho 15, 2007


Final de tarde na CASA de SANTA EUFÉMIA (CSE)


Depois de saímos da Quinta S. Luís (ver aqui), foi pegar no jipe, e andar poucos mais quilómetros na mesma margem do Douro em direcção a Oeste. De caminho em caminho, subida em subida, e lá chegámos à Casa de Santa Eufémia (CSE). Fomos então recebidos – e bem recebidos! – por Pedro Carvalho.
O dia que tinha amanhecido veraneante estava agora quase chuvoso e foi com "medo" da dita chuva que, com rapidez redobrada, visitámos as vinhas ao redor da quinta. Não nos livrámos, ainda assim, de um breve aguaceiro, muito desejado pelas gentes daquelas bandas dado a seca que se faz sentir. Houve, em todo o caso, tempo para perceber que o produtor está repleto de novas ideias, como, por exemplo, plantar syrah no Douro...
Depois (ainda molhados) fomos convidados para uma prova fantástica, conduzida pelo próprio enólogo. By the way, Pedro Carvalho também assiste outras casas como o projecto "Brites Aguiar" e o seu mediato tinto Bafarela Grande Escolha.
Começámos então por um vinho que nada tem que ver com a zona nem com a CSE, mas era uma estreia acarinhada pelo enólogo (produzido por uma amiga sua na região dos vinhos verdes), tratava-se de um alvarinho, o Poema (B) 2005. Um bom verde, com excesso de agulha, e uma boca muito (demasiado) madura para o nosso gosto (a atribuir uma nota seria um 14).
Depois, entrámos nos tintos e logo por cima: por um Viseu de Carvalho (T) Grande Escolha 2003, um vinho que conhecemos bem e gostamos bastante, com carácter, nariz potente e boca cheia e redonda, aliás significativamente mais redonda do que quando o provámos pela primeira vez faz mais de um ano (um 17 é uma nota que lhe assenta muito bem).
A seguir foi a vez do Casa Santa Eufémia (T) Reserva 2004, uma novidade, com um nariz óptimo, fresco e bruto, mas simultaneamente com a inconfundível marca da casa: fruta muito madura. Por estar repleto de taninos tem ainda que se esperar por ele, mas será certamente um belo vinho (certamente uns 16).
Por fim, duas grandes "pomadas" a não esquecer:
Primeiro, o recentíssimo topo de gama de Pedro Carvalho e o seu projecto pessoal, o Compota Touriga Nacional (T) 2005: um grande touriga do Douro, com um nariz fantástico marcado ainda pela madeira nova. Na boca é doce, prazenteiro, com notas a chocolate de leite. É muito sedutor (tem o estilo de alguns Crastos), internacional, e demonstra um final já em grande estilo (17-17,5).
Finalmente, um Casa Santa Eufémia Special Reserve White (P) 1973: um vinho de balseiro a partir do qual são engarrafadas algumas garrafas todos os anos, um grande Porto envelhecido em madeira e um verdadeiro "murro no estômago" a mostrar que um Porto branco, quando "velho", é capaz de apagar qualquer registo do paladar de um vinho anterior (uns merecidos 17,5).

Foi assim...

Foto no canto superior direito: vinha da Casa Santa Enfémia virada a norte.

quinta-feira, julho 12, 2007


Muxagat (B) 2005

Provado na própria região de produção - Foz Côa - no cenário magnífico da Quinta da Ervamoira, este branco de rabigato (90%), gouveio, códega e viosinho portou-se bastante bem.

Pouco evidente a parte do lote que é envelhecida em barricas novas. Incidência na fruta fresca, acídula, em espécie de "citrinomania". Final agradável mas curto. Grande apetência gastronómica e sem defeitos este vinho de Mateus Nicolau de Almeida.
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É muito bom sinal que os brancos portugueses estejam a virar para a frescura e acidez...

15,5

terça-feira, julho 10, 2007


TINTOS DE 1996

Não era a primeira vez que os seis nos reuníamos (ver aqui para ocasião anterior). Desta feita o objectivo era (mais) exigente (exigente para nós, exigente para os vinhos): provar tintos de 1996. Dois do Alentejo, dois do Douro e dois do Dão.

Como é sabido, provar vinhos com mais de 10 anos exige atenções redobradas. Em primeiro lugar, é preciso acreditar que estiveram guardados em boas condições (foi o caso, numa cave fria ano inteiro), depois decantá-los com cuidado e ter muita atenção ao arejamento. No restante, as comidas também se adaptaram aos vinhos e pugnou-se por pratos não muitos intensos. Aliás, o nariz também se tem de adaptar… ou melhor, o cérebro tem de se consciencializar que são vinhos com 10 anos. Quer isto dizer, a evolução já fez muito do seu caminho e, ademais, o tipo de vinho de então era um pouco diferente do normal género que se produz actualmente. Uma curiosidade em provar vinhos com mais de 10 anos passa pela análise das várias fases por que os vinhos vão passando durante a refeição. De facto, por vezes, ninguém da mesa está de acordo pois o vinho está em diferentes estádios num determinando momento em cada copo. Apesar dos cuidados todos, um azar: rolha no vinho n.º 6… um Dão… o Quinta dos Carvalhais Reserva (T) 1996.

Como é sabido, provar vinhos em grupo é encontrar diferenças na opinião de cada um. No final, uma média ponderada ditou os resultados. E bom… em primeiro lugar ficou um grande tinto do Alentejo, um nariz calmo, de acidez média, muito perfumado, de grande equilíbrio na boca, complexo e ainda cheio, era um Esporão Reserva (T) 1996 (pensamos que altura não havia ainda o Garrafeira). Depois, veio um tinto mais vegetal no nariz, acre, de média intensidade, boca interessante, mutável no paladar, um belo conjunto este Quinta da Leda Touriga Nacional (T) 1996. Ainda com lugar no pódio ficou sem dúvida o vinho mais sensual da mesa, nariz de alta intensidade, fino e elegante, fruta viva, grande volume na boca e um bom final, parabéns para este Quinta da Pellada T. Roriz–T. Nacional (T) 1996. Mais atrás ficaram o Quinta do Carmo (T) 1996 com um bom nariz mas muito plano na boca, e o Quinta do Côtto (T) 1996 a acusar cansaço mas, ainda assim, a mostrar bom volume na boca.
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Em conclusão, no geral os vinhos apresentaram algum desgaste nem sempre compensado com a complexidade, harmonia e finesse que se esperava. Todavia, os três primeiros classificados - Esporão, Leda e Pellada - deram bem conta de si e muito prazer aos seis convivas.

domingo, julho 08, 2007


Quinta dos Cozinheiros Maria Gomes (B) 2005

Não me cansa nem maça o imenso calor. Cansa e já me maça o imenso calor e não haver mais brancos como este. Fresco, muito fresco. A cor semi-carregada não faz jus a tanta acidez. Maracujá, outros tantos frutos tropicais ácidos, este branco pode acompanhar qualquer coisa pois não é pesado nem "madeiroso" e tem um final curto mas persistente.
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Houvesse mais assim…

15,5

quarta-feira, julho 04, 2007

Um dia na Quinta S. Luís

Ao Douro voltamos todos os anos. Existem sempre novos lugares a descobrir, quintas, vinhos. Amigos que ficam. Tudo no Douro parece mágico, e tem outro tempo, outro sabor, outra intensidade. Passear no Douro, sobretudo com amigos, é daquelas tarefas que não cansam e cujas memórias não desaparecem. Ir ao Douro é saber que vamos voltar em breve. Que vamos fazer tudo para, em breve, lá voltar. Por isso, também nós lá voltámos...

Ainda meio acordados saltámos para o jipe e, pouco depois de passar a ponte no Pinhão (vínhamos de Sabrosa), curvámos à esquerda e subimos a primeira rampa da Quinta S. Luís. Propriedade do grupo "Sogevinus" que passou a deter, com a aquisição no ano passado da "Barros, Almeida & Ca", as marcas Cálem, Kopke, Barros (além de outras que já detinha como a Burmester), esta é uma quinta de grande dimensão e com abundância de micro-climas.


Após uma apresentação às vinhas (sempre indispensável nestas ocasiões), e sob um sol fantástico, foi ocasião para algum resguardo ao fresco e muitas provas na adega:
Primeiro um Cálem LBV (P) 2003, opaco, repleto de fruta e um carácter lácteo impregnado, fácil e acessível (na altura pensei num 15,5).
Depois (e eram ainda onze da manhã!), um Kopke Vintage (P) 2005, também opaco, misterioso no início, maior acidez e taninos do que o LBV e um carácter próximo da sobrematuração que me lembrou o 2003 (o campeonato dos vintages é, como sabemos, difícil e este Kopke é para se beber novo, pensei num 17).
Veio então um Burmester Tawny (P) 30 Anos, sublime com notas a laranjeiro, muito fino e marcante, mas com um final menos persistente do que esperávamos (16,5 pareceu-me acertado).
Depois, um Barros Colheita (P) 1978, ligeiramente mais escuro que o anterior, com um nariz completamente exótico, boca cheia e untuosa, final interminável (17,5 sem qualquer exagero).
Depois de tudo isto (batia quase o meio dia e meia) era de tempo de descansar... enjoy the view num terraço maravilhoso (e a view é para a Quinta do Crasto e para a Quinta Nova!). Tempo (temos sempre tempo) para provar um Curva Reserva (B) 2006, um branco com nariz interessante, delicado e muito subtil, boca citrina mas muito curta (um belo mouthwash diria John Graham… talvez 15).
Com o almoço já servido (um arroz de pato bem consistente) tivemos um dueto curioso. Lado a lado um Kopke Reserva (T) 2003 – seguro de si, muita fruta, moderno, pronto a beber com taninos moldados – e um Burmester Reserva (T) 2004 – mais fresco que anterior, vinioso, rústico, é um vinho sério que merece garrafa (16,5 aos dois e "não se fala mais nisso").
Mas o melhor ainda estava para vir… um Burmester Colheita (P) 1955… palavras para quê? Para dizer final interminável? Boca de veludo? Acidez perfeita? Nota? 18.
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Tudo isto só foi possível graças ao António Montenegro e à sua equipa que nos receberam muito bem. A eles muito e muito obrigado.
Quanto a nós, vamos voltar ao Douro claro. E quem sabe ainda este ano...


Fotos (de acordo com os ponteiros do relógio): Burmester 1955 e vista do terraço; caminho para a Quinta; adega equipada; Francisco (um dos enólogos da empresa).







terça-feira, julho 03, 2007



Quinta do Couquinho (T) 2003

Este foi um daqueles tintos que sempre agraciou alguma fama entre os novos vinhos do Douro. Certamente pelo facto de ter sido uma das quintas inseridas no projecto "Lavradores da Feitoria". Certamente porque a enologia é de João Brito e Cunha.

A colheita é de 2003 e pensámos que o tempo de garrafa que levava já era suficiente. E neste aspecto acertámos! O calor daquela "terra longe" marca o vinho com notas intensas a fruto no nariz. Mas, ao invés da maior parte dos tintos do Douro Superior, este está macio e calmo. Casca de árvore, móvel antigo, referências num bouquet quase apaixonante e de clara tendência hedonística.

Pena não se poder dizer o mesmo da boca. Interessante, redondo, por vezes cheio, mas não estimula o palato, e no meio da boca (como que) já terminou. Quase plano este tinto, que tanto prometia no nariz...
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Em todo o caso, um vinho interessante e curioso, que se destaca dos seus congéneres do Douro Superior (em prova cega diríamos ser do Cima Corgo), mas nem sempre pelas melhores razões. Cabe estar atento à colheita de 2004 e a um novo reserva.

15,5

domingo, julho 01, 2007


Quinta do Mouro Touriga Nacional (T) 2003

Cor magnífica, nariz interminável e boca explosiva. É assim este Mouro touriga...

Se na cor apenas importa notar que é escuro quase opaco, já no nariz são precisas mais palavras para o descrever. Como os grandes vinhos, começa tímido o bouquet (a fera está trancada na garrafa), e mesmo alguns minutos passados no decanter não o fazem respirar. Mais de 30m depois (e já o vinho estava nos copos), um perfume interminável e misterioso se solta. É evidente que tem bergamota, tangerina, amêndoas e tudo o mais - é afinal um touriga, embora do Alentejo. Mas tem mais: é um nariz – numa palavra – viciante... tem certamente dos aromas mais viciantes de que nos lembramos. É verdade que por vezes ficamos presos a um nariz harmonioso e sedutor que nos apetece cheirar sempre mais um pouco, mas este não é bem assim. Ao invés, é uma curiosidade permanente (mais do que sedução) que nos leva a não deixar este tinto pousado na mesa. É, enfim, uma incapacidade de caracterizar o bouquet em poucas palavras...

A boca é uma total surpresa e um caminho sem fim. Começa leve, aveludada, tem uma entrada de boca majestosa e elegante. Depois – já a meio do palato – como que explode e é, nesse momento ténue, que toda a boca fica cheia por este tinto. É um vinho gordo e cheio, é evidente. Mas é mais do que isso... a explosão é apenas a preparação para um final inacreditável, fresco e floral. Um paladar contraditório e que exige atenção redobrada.
*
Por tudo isto, e é só pena a componente gastronómica que tanto gostamos nos outros Quinta do Mouro (ver aqui) fique um pouco relegada por tanto exotismo, é um grande vinho. Um grande touriga do Alentejo!

17,5