segunda-feira, agosto 24, 2009

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Prova de tintos topos de gama do Alentejo

Não se recusa uma prova aos tintos topos de gama do Alentejo... é algo que não se faz, é um convite que não merece um "voltar costas", é uma proposta que não pode ser ignorada. Não recusámos, pois claro.

As regras eram simples: 12 tintos alentejanos topos de gama ou "super premium" de colheitas relativamente recentes (a grande maioria de 2004 e 2005), e três momentos diferentes de prova - o primeiro, imediatamente após abertos; o segundo, após uma hora sem decantar; e o terceiro, após duas horas e a acompanhar comida típica da região. Notas telegráficas, como se impõem:

Quinta do Mouro Rótulo Dourado (T) 2005: Fruta madura e muito mineral no nariz, tudo com muita potência e intensidade aromática. Boca jovem, com muita fruta mas não excessivamente madura, cheio, pleno de complexidade e de sabor. Um vinho enorme, de taninos de ferro e com um grande futuro – foi o vencedor inequívoco da prova.18++

D. Maria Reserva (T) 2005: Muito bem no nariz, complexo e sedutor, com muitos laivos florais e fruta definida. Boca acetinada, taninos doces, fruta gulosa mas não enjoativa. Ganhou ritmo durante a prova, e o tempo no copo só lhe fez bem. Acabou em grande forma!17,5+

Herdade do Esporão Garrafeira (T) 2005: Belo nariz, mesclando fruta e mineral, madeira e notas vidradas. Complexo e saboroso na boca, mais fino e elegante no estilo do que algumas bombas em prova. Melhorou muito no copo, sobretudo a acompanhar refeição onde mostra ter vocação. 17,5+

Zambujeiro (T) 2004: Muito intenso no nariz, com a Touriga em grande forma e fruto muito maduro em camadas, com creme de leite e chocolate à mistura. Grande boca, intensa mas curiosamente aveludada e de taninos doceis. Uma bomba muito sedutora, quase demolidor no sabor, para os amantes dos super-charges! 17,5

Cortes de Cima Reserva (T) 2004: Complexo e muito sedutor no nariz com fruta negra de excelsa qualidade e fumados da madeira. Mantém o perfil na boca, muito saboroso, taninos perfeitos que não se impõem, cheio e largo no copo. Só não foi perfeito por não ter melhorado com o passar do tempo. 17,5

Mouchão (T) 2003: Começa verde no nariz, com notas a couro à mistura e fruta encarnada tímida. Na boca está fresco, com boa complexidade e a fruta mostra-se mais. Melhorou muito no copo - foi o vinho que mais melhorou durante a prova -, com cambiantes mentoladas e fruta quase madura. Grande evolução durante toda a prova e fantástica aptidão gastronómica. 17++

Vale do Ancho (T) 2004: Bom nariz, mineral e vidrado, algum grafite também. Saboroso na boca, potente com taninos bravos, mas não cheio nem opulento. Óptimo final de boca com matizes mentoladas e grande apidão gastronómica. 17

Paulo Laureano Alicante Bouchet (T) 2005: Nariz original e diferente, mas algo "complicado" por ser verde e pouco expressivo, ao qual parece faltar precisão no ataque. Muito fresco e taninoso na boca, está contudo de difícil harmonização com comida. Irá evoluir bem em garrafa e agradará, por certo, aos fãs da casta. 16,5+

Casa de Santa Vitória Reserva (T) 2005: Muito floral no nariz, com fruto doce doce ligeiramente enjoativo. Na boca mostra fruta madura, taninos correctos, mas não ganhou com o passar do tempo. Evidenciou-se pouco face os restantes vinhos em prova e não marcou a diferença apesar da qualidade mostrada sobretudo na boca e na componente frutada. 16,5
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Malhadinha (T) 2006: Nariz típico da casa, com notas a rebuçado "floco de neve", floral e fruta derivados da Touriga e da Syrah (quase não se nota o Alicante). Boca bem construída, elegante, cheia e sem falhas, mas algo monótona. Boa qualidade apresentada pelo conjunto, mas falta chama. 16,5

Monte da Cal Vinha Saturno (T) 2004
: Muitas notas a verniz e alguma frescura balsâmica no nariz. De resto, muito couro, notas animais em abundância e sensação de fruta algo "queimada". Um vinho com um registo diferente, talvez num momento de forma pouco feliz, sendo certo que ambas as garrafas em prova estiveram exactamente iguais. 16

Quinta do Carmo Reserva (T) 2004
: Sensações imediatas a madeira no nariz, e alguma percepção a acidez e a etanol. Boca algo "dura", com taninos secos e pouca fruta. Final de boca inexpressivo. Sem chama, e muito abaixo do esperado. 16


PS I: Esta prova inseriu-se num périplo de 3 dias e meio de provas em diversas regiões do país e só foi possível graças à Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, com destaque para a presidente Dora Simões e manager Tiago Caravana, e ao amável convite - e excelente organização - do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV).
PS II: As fotos foram tiradas e cedidas pela provadora Tamlyn Currin (Jancis Robinson Team) a quem, naturalmente, muito agradecemos.


quarta-feira, agosto 12, 2009


Vinhos do Palace Hotel Bussaco

Existem provas de vinhos e existem provas de vinho! Uma daquelas provas que vamos procurar não esquecer realizou-se há bem pouco tempo em plena adega privada do Palácio Real Hotel do Bussaco.

São muitas as estórias a propósito dos vinhos do Bussaco criados por Alexandre de Almeida, fundador dos Hotéis Alexandre de Almeida no início do século passado. E são muitas também as estórias sobre a famosa adega do hotel construída porque o seu fundador entendia que, tal como qualquer castelo (château) europeu, o Bussaco também deveria ter a sua própria adega. São, de facto, muitas as estórias da história deste hotel palácio real, mas acreditem que, na verdade, a realidade consegue suplantar a mais novelesca descrição desse local quase mítico.

Um dos aspectos que mais contribui para o quase mito em redor dos vinhos do Hotel do Bussaco é o facto da tradição na sua elaboração ser levada extremamente a sério. Não admira, por isso, que ao longo de um século de existência se tenha mantido o modo de vinificação, a escolha das melhores uvas das castas regionais típicas da Bairrada e do Dão (dado que o Bussaco se encontra em plena zona de fronteira entre a Bairrada e o Dão), a vinificação em madeira e sem filtragem, o estágio do vinho em madeira, a lavagem manual das garrafas com areia do rio, e mesmo a manutenção do rótulo (lindíssimo, vide foto de cima) durante os últimos 80 anos.

Acresce ao respeito pela tradição, a prática singular da manutenção de uma reserva enorme de garrafas de cada colheita. Por isso, não é difícil imaginar a quantidade vastíssima de garrafas existentes na adega. Aliás, são tantas as garrafas na adega, e esta é tão vasta em dimensão e altitude, que são muitos os vinhos de uma mesma colheita guardados em diferentes locais e em diferentes altitudes. Não é, pois, de espantar verificar-se a excentricidade de se encontrar dois ou mais bons vinhos da mesma colheita com diferenças significativas na prova posto que foram armazenados em locais e altitudes muito diferentes, sujeitos a diferentes níveis de temperatura, de humidade e de luminosidade. Mas essa, mesmo para o viajante-enófilo mais experimentado, é apenas uma de muitas surpresas que o aguardam.

A outra surpresa é a de comprovar que as garrafas mais antigas datam de 1923 e que estas, segundo os responsáveis do hotel, ainda se encontram bebíveis. E igualmente notável é o facto de se encontrar na lista de vinhos do restaurante do hotel quase todos os vinhos brancos e tintos do Bussaco a partir de 1944 e 1945 - algo verdadeiramente único no panorama nacional.

Mas talvez a maior surpresa seja o próprio vinho do Bussaco, ou melhor, os vinhos guardados e provados naquele ambiente único. Vinhos históricos já, com os inevitáveis bouquets tão evoluídos quanto amadeirados, acompanhados de finais de boca intermináveis pelos quais (ainda) suspiramos. Não conseguimos evitar, todavia, a injustiça de elogiar apenas alguns desses néctares em detrimentos de outros, também eles majestosos. Destacamos, assim, o encanto do Bussaco Reserva (B) 1958 com as suas persistentes notas a verniz; mas também as subtis sensações aromáticas a café presentes no delicado Bussaco Reserva (T) 1959; sem, por um momento, olvidar a juventude da prova de boca do impressionante Bussaco Reserva (T) 1983 e, em especial, as suas imponentes referências a couro no nariz; e claro, a fruta gentil da edição especial "Vinha da Mata" do Bussaco Reserva (T) 2001 e, "last but not the least", o inebriante perfume a mel de acácia do Bussaco Reserva (B) 2002. São, enfim, vinhos que não se esquecem. Foi, também e sobretudo por isso, uma prova que não esqueceremos...

PS I: Esta prova inseriu-se num périplo de 3 dias e meio de provas em diversas regiões do país e só foi possível dada a gentileza de Alexandre de Almeida, presidente do grupo Hotéis Alexandre Almeida (AA), e o amável convite - e excelente organização - do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV).
PS II: As fotos foram tiradas e cedidas pela provadora Tamlyn Currin (Jancis Robinson Team) a quem, naturalmente, muito agradecemos.






quarta-feira, agosto 05, 2009


Vale d’ Algares

Projecto relativamente recente mas já com significativa projecção mediática, sito na região denominada hoje de Tejo, mais propriamente em Vila Chã de Ourique. Em poucos anos, Vale d’ Algares afirmou-se em diversos campos, quer através de uma gama de vinhos relativamente diversificada, quer como uma referência de design a respeito da sua adega, quer ainda no seio do desporto equestre (actividade paralela à produção de vinhos). Em prova temos o segmento Guarda Rios, todos da colheita de 2007, o colheita tardia também de 2007, e ainda duas novidades o Vale D’Algares Selection (B) 2008 e o Vale D’Algares Selection (T) 2008.

Guarda Rios (R) 2007
Feito a partir de Syrah, Touriga Nacional e Aragonês, mostra um nariz reservado com referência a fruta madura. Todavia, falta, ao conjunto, maior intensidade aromática. Na boca, apresenta-se com corpo, e nota-se que tem um cariz sério sem tiques de maturação excessiva ou de inadequado açúcar residual. No todo, temos aqui um rosé sério e capaz, com alguma vocação gastronómica. 15,5

Guarda Rios (B) 2007
No nariz, e à semelhança do rosé, está pouco exuberante, a fruta aparece mas só timidamente – não parece ser defeito, antes feitio. Boca de entrada agradável, fresca, com acidez franca, mas final curto. Um branco com um perfil menos pesado em relação a alguns concorrentes da região e, por isso, a merecer destaque positivo. Junte-se o preço atractivo – 6,5€ por garrafa – e percebe-se o sucesso de vendas. 15,5

Guarda Rios (T) 2007
Ao contrário dos brancos, este tinto revela grande pujança aromática, com impacto jovem, algum etanol e muito balsâmico da madeira. Algum verniz, pomada "vip vapor up" e acetona. Especiarias também, sobretudo com o passar do tempo no copo. A boca mantém um perfil quente, de fruta muito madura, quase doce, de final composto e saboroso. Pode ainda crescer com mais um ano em garrafa. Um vinho próximo de outros tantos do denominado Novo Mundo, muito sedutor na boca, mas a necessitar de ligeira afinação no nariz. 15,5-16

Vale D’Algares Selection (B) 2008
Como não vai haver em 2008 os topos de gama da casa (branco e tinto "Vale D’Algares"), surge este novo segmento - branco e tinto selection - a 8,5€ a garrafa (ou seja, um pouco mais caro que o Guarda Rios, mas mais barato que o Vale D'Algares). Muito mais aromático que a versão branca Guarda Rios 2007, com fruta tropical e fruta branca cozida, mas com frescura. A boca parece precisar de tempo em garrafa, está tensa, directa, mas com um final de boca mais preciso e focado. Boa acidez, é um vinho bem desenhado que será de agrado generalizado. 16

Vale D’Algares Selection (T) 2008
Opaco no copo, muito retinto. Trata-se de um vinho cheio de juventude, etanol em evidência, nariz "em construção" com predomínio na fruta muito madura mas com tiques da madeira nova à mistura (eg., sensações queimadas). A boca mostra outra realidade, revela um vinho mais polido, com típicos taninos ribatejanos, ou seja redondos e doces. É incrível como um vinho de 2008 pode já dar esta prova de boca... Moderno, pronto a beber e a mostrar enologia capaz, está muito ao gosto dos consumidores ingleses. Pode ainda crescer, na prova de nariz sobretudo, com mais um ano em garrafa.15,5-16
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Vale D’Algares (CT) 2007
Colheita tardia, produzida a partida de 100% de Viognier (a casta da famosa Condrieu AOC). Nariz com notas subtis a fruta branca, pouco intenso (parece ser uma marca na casa relativamente às castas brancas), quase despercebido. Melhora muito na boca, pouco untuosa e nada aborrecida, antes com notas frescas a alperce e óptima acidez. A antítese de um vinho de sobremesa pesado e gordo – uma bela surpresa (e uma bela estreia) esta colheita tardia. 16,5-17
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Próximos vinhos: Conventual Reserva (B) 2007; Valle Pradinhos (B) 2008; Athayde Grande Escolha (T) 2007; Vallado Moscatel Galego (B) 2008; Quinta do Tedo vintage (P) 2007; Quinta das Marias TN (T) 2006; Altas Quintas Reserva (T) 2005