quinta-feira, abril 27, 2006

Château Cap de Faugères (T) 2001


Os vinhos franceses têm destas coisas...quando compramos a garrafa pensamos que são bons, depois guardamos e por vezes esquecemos que os temos, mas quando finalmente os abrimos, constatamos ao primeiro trago que são ainda melhor do que pensávamos. Este Château Cap de Faugères vem de uma casa bordalesa em ascensão com vinhas em Saint-Emilion solos "grand cru", bem como numa região contígua denominada Côtes-de-Castillon. O vinho ora provado vem de um lote desta última região.
Um bouquet trasbordante, profundamente confitado e sedutor, e uma cor terrivelmente viniosa, abre o caminho para uma fantástica descoberta, deu-nos mesmo a sensação que o vinho podia ter esperado mais uns anos.
Na boca, sabores intensos a fruta silvestre muito madura, madeira que não se impõem – tudo no sítio! Sensações a bombons, ginja, todo guloso mas não sendo demasiado doce nem quente. Enfim, nada maçador...
Acabamos como começamos: os vinhos franceses têm destas coisas... são, muitas vezes, fantásticos.

sexta-feira, abril 21, 2006

Vinhos da Malhadinha Nova na Venha à Vinha

Na passada quarta-feira a garrafeira Venha à Vinha celebrou mais um aniversário. Como é costume da casa, que só sabe servir bem, a festa foi enobrecida com convidados e vinhos especiais. Quem fez as honras foi o Paulo Soares, um dos proprietários da Herdade da Malhadinha Nova, da simpática família Soares.
O primeiro vinho servido foi o Monte da Peceguina (B) 2004, um branco da nova geração do Alentejo, no qual as castas Arinto e o Roupeiro são adicionadas à Antão Vaz para atribuir ao vinho um carácter mais aromático. Todavia, foi mesmo o Antão Vaz que mais sobressaiu na prova (deve ser maioritário no lote), com o temperamento pesado e áspero que o torna apto para acompanhar comidas. Está um belo branco, com uma frescura considerável (sobretudo tendo em conta o ano quente de 2004), madeira bem doseada (como é necessário quanto se trabalha com o Antão Vaz). Enfim, um branco a rivalizar com alguns dos melhores da região.
Depois seguiu-se o Rosé da Peceguinha (R) 2004, com uma imagem comercial muito persuasiva e cuidada, tal como sucede, aliás, com os restantes vinhos desta casa. A característica que mais marcou a proa foi o travo doce (xarope de groselha) proeminente. A fruta é de qualidade, mas tem de ser bebido muito fresco e de preferência como aperitivo, senão pode-se tornar enjoativo.
Mas vamos então aos tintos... e que tintos! Tudo começou com o Monte da Peceguina (T) 2004: No nariz esteve muito bem, a mostrar-se um alentejano com garra, notas quentes ao Aragonês, tudo no nariz é Alentejo... Na boca, curiosamente, mudou um pouco o estilo, sente-se mais o Alicant(e), que lhe dá também uma bela cor, com notas vegetais elegantes, e a Syrah com nuances ora doces ora apimentadas. A madeira sente-se pouco e não está (ainda) integrada com a fruta do Aragonês, o que não nos desagradou, pelo contrário.
Seguiu-se o Aragonês da Peceguinha (T) 2004, uma aragonês típico da região, muito bem feito. A madeira sentiu-se mais do que nos vinhos anteriores (alguma baunilha, tosta menos evidente), com aromas a banana e noz moscada. Um aragonês não pesado, com bastante fruta, óptimo para consumo sem comida.
Abriu-se ainda o Pequeño João (T) 2004, vinho concebido a partir de um limitado lote que agradou muito os produtores, mas que tem desagradado alguma crítica. Percebe-se imediatamente que é não um vinho fácil (o Cabernet com o Arogonês tem destas coisas...), mas não deixa de ser interessante. Escuro na cor, sobressai um Cabernet escaldado pelo sol, poderosíssimo mas ligeiramente agre. De todos os vinhos provados, este foi aquele que achei com mais capacidade para acompanhar gastronomia robusta.
Por fim, veio o Madalhadinha (T) 2004 – numa das suas primeiras apresentações – mostrando-se bastante complexo, ainda jovem (quero prová-lo daqui a 6 meses), muito denso na boca. O Alicant(e) está em grande nível, fresco mas longe das notas verdes habituais. A madeira está bem marcada (bela madeira, by the way) mas toda em elegância, e um final longo que, daqui a alguns meses, será certamente longo e... guloso.
Enfim, vinhos do Alentejo feitos com trabalho e investimento, como a zona merece e retribui. Simpatia dos proprietários a provar que estão no negócio para durar. Ainda bem.

quinta-feira, abril 20, 2006

Breves notas: brancos

  • Neethlingshof Chardonnay (B) 2004: Vinho da região do Cabo (África do Sul) com notas próximas do estilo acídulo de alguns chablis menos equilibrados, longe por isso daqueles onde predominam notas amanteigadas. Muito fresco, algumas notas florais, para se beber com marisco. A menos de € 10. Suficiente +.
  • Três Bagos (B) 2004: Bastante acidez (demasiada mesmo!), mostra-se muito vivo, sem se notar que parte estagiou em madeira. A acidez da região (Douro) confere-se alguma complexidade e estrutura, mas está bem longe do que marca faz em relação ao Sauvignon Blanc. Abaixo dos € 6. Suficiente.

segunda-feira, abril 17, 2006

Jantar com a Montez Champallimaud


Não foi apenas mais um jantar o realizado no restaurante À Volta do Vinho, na penúltima sexta-feira, ali para os lados da Praça das Flores. De facto, esta iniciativa de Filipe d' Orey Gaivão contou com a colaboração da conhecida casa Montez Champallimaud e, mais importante, com a presença dos seus vinhos, incluindo o Quinta do Côtto Grande Escolha (T) 2001.
Com as entradas, começou por se provar o recente Paço de Teixeiró (B) 2005, branco com alguma complexidade, de cor pouco brilhante, mostrou uma frescura agradável na boca, embora fosse algo seco. Nuances ainda não totalmente evidentes (por ser tão novo), mas ainda assim notou-se algum ananás e, mais escondido, um pouco de maracujá.
Depois, já com o folhado de coelho servido (bastante bom, aliás), serviu-se o Quinta do Côtto (T) 2003. Revelou-se um tinto jovem, com um estilo mais moderno do que faria supor (para quem conhece os vinhos desta casa). Bastante agradável com fruta de qualidade (ao que parece não vai existir Grande Escolha de 2003, pelo que alguma uva de vinha velha deve ter vindo aqui parar), traço de uva madura mas sem qualquer excesso, taninos todos em elegância, e algum carácter mineral e metálico que contribuiu, em nossa opinião, para uma frescura e complexidade bastante interessantes. Belo final, médio/longo.
Com o novilho no forno (mal passado, como gostamos) serviu-se então o homenageado da noite... o Grande Escolha (T) 2001: este mostrou-se, desde logo, muito bonito na cor de um rubi profundo, não fosse já alguma evolução. No nariz sobressaltaram as notas a fruta bem casadas com a madeira, esta delicada mas presente. Tudo bem equilibrado, mas o futuro o dirá melhor. Na boca esteve, de início, menos fácil que o tinto de 2003, mas sempre com fruta encarnada elegante (morango silvestre) e referências frescas e piques de verdor correctos (orvalho e erva molhada). Tem alguns bons anos pela frente, o que negligencia uma prova para já... existem vinhos assim, preparados para envelhecer e, por isso, menos sedutores quando novos. Estão contra a corrente do mercado actual, disso temos a certeza!
Quanto ao Champallimaud Vintage (P) 2001 mostrou-se um Porto ao nível do que a casa nos habituou. Doce, muito doce, e pouca película na cor. Alguma silhueta feminina determinada pelo pouco álcool a piscar o olho ao mercado inglês não especializado. Em todo o caso, casou bem com um queijo da serra (este também algo mortiço, sem a força habitual).
Um bom jantar, com vinhos muito bem feitos, aos quais falta apenas um pouco mais de alma. Neste jantar estiveram presentes muitos daqueles convivas que costumam encher as provas na garrafeiras Coisas do Arco do Vinho, bem como alguns colegas de ofício do blog Vinho a Copo, aos quais redobramos votos para um futuro encontro.

segunda-feira, abril 10, 2006

Quinta de Roriz (T) 1999


A oportunidade de beber um Quinta de Roriz 1999 é algo que não costumo evitar, tanto mais que a sua produção foi muito limitada (cerca de 1000 caixas). A garrafa que abri faz poucos dias foi-me oferecida pelo meu amigo Almeida Fernandes na altura em que tinha o feliz hábito de me presentear com vinhos... hoje, prefere tentar vender e a preços destituídos de amizade.
Mas vamos então escrever sobre o vinho... a cor esteve um espanto, num rubi escuro retinto a mostrar uma evolução lenta para a idade. No cheiro, a conversa foi outra pois um odor a rolha manifestou-se durante quase toda a prova (embora o arejamento o tivesse diminuído). Bouquet evoluído com notas a resina, algum couro, e uma fruta ainda madura por detrás de uma capa de tabaco.
A boca confirmou o nariz, apresentando-se vinioso e elegante, com aromas muito subtis a cassis, e uma madeira bem estruturada com os sabores (e aromas) secundários.
Venham mais destas...
Nota ainda para o belíssimo rótulo da autoria de José Guimarães.

quinta-feira, abril 06, 2006

Nota Breve: tinto douriense

  • Quinta do Infantado (T) 2002: Com tanta cor nem parece um Douro da colheita de 2002 ... concentração média/alta, muita fruta madura e madeira equilibrada. Um belo tinto, a merecer mais dois ou três anos de garrafa. Se o futuro passar pela utilização de madeira nova no estágio, e pelas uvas de 2003, então teremos certamente um vinhão. Ficamos à espera, até porque o preço é bastante agradável - a menos € 10.

segunda-feira, abril 03, 2006

Verdes Majestosos

Faz vários anos que Anselmo Mendes tem vindo a dinamizar o mercado dos vinhos verdes brancos. Não hesitamos em considerar o lançamento dos rótulos “Muros de Melgaço” e “Muros Antigos” (bem como o “Espumante Muros Antigos”), como o maior salto qualitativo dos últimos anos vivido nos vinhos verdes. Tanto no que respeita ao cuidado na sua elaboração, quer no renovar de uma imagem que se encontrava um pouco gasta.
Surgiu assim o conceito de um Alvarinho com o caracter fresco da região, mas com mimos na produção nunca antes utilizados. A utilização de madeira nova, que já se vinha fazendo nos melhores Albarinhos galegos (Rias Bajas), mostrou-se mais um trunfo de Anselmo Mendes.
Com poucos dias de diferença, provámos ambos os rótulos da colheita de 2004. Vejamos:
Temos assim o “Muros Antigos”, super refrescante, com efervescência potente, traço citrino forte e uma espécie de sensação de terroir. Não é um Alvarinho fácil nem comum (quase omissas as referências a fruta tropical), é mesmo difícil de o esquecer, tem aquilo que só conseguimos descrever como uma “frescura complexa”.
Quanto ao “Muros de Melgaço” (um pouco mais caro do que o anterior, e com um ligeiro estágio em barrica) sente-se a mesma fruta de qualidade, mas tudo mais domado, o citrino evolui bem para a manga e o maracujá. Algumas notas doces finais contribuem para um conjunto guloso. Uma impressionante cor amarela ajuda a embelezar todo o conjunto, sentindo-se uma agulha menos potente do que o irmão mais novo.
Dois grandes Alvarinhos com algumas diferenças, mas iguais no que realmente importa: a qualidade do fruto, e o estilo personalizado do produtor.