quarta-feira, abril 30, 2008


Vinium Callipole 2008
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Organizado - e bem organizado - pelo Copo d' 3, foi o evento do passado fim-de-semana em Vila Viçosa. Num espaço pequeno mas deveras aprumado, estiveram presentes vários vinhos e vários produtores que prometem muito no futuro próximo (eg., Zambojeiro, Herdade das Servas), e outros que já são confirmações. Quanto a nós, de tudo um pouco se provou...
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Porém, como o calor teimou - e ainda bem! - em aparecer, fomos "obrigados" a procurar abrigo num belíssimo espumante bruto da Casa de Cello (da colheita de 2002), num Quinta dos Roques Encruzado (B) 2007 e, claro está, nos brancos da Niepoort. Nestes últimos, o destaque é merecido para as amostras de casco do Tiara (B) 2007 e do Redoma Reserva (B) 2007, ambos fantásticos - o primeiro mais mineral, o segundo ainda preso na madeira mas mostrar que será bem melhor do que o 2006 -, a confirmar as melhores expectativas para a colheita. Tempo também para trocar palavras amigas com o Eng. Hernâni Verdelho (e provar um interessante Dona Berta Sousão (T) pensamos que de 2005) e com o Tiago na reprova de vários vinhos do produtor (seu pai) Domingos Alves de Sousa. Nestes, em especial, um inesquecível Quinta da Gaivosa (T) 2003, num momento de forma imbatível - para nós, o melhor Gaivosa de sempre (sim... mesmo sem as uvas das vinhas do Abandonado e do Lordelo).
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Depois houve ainda tempo e muita vontade para confraternizar com o amigo Rui (Pingas no Copo) e para um jantar, tipicamente alentejano - com um Niepoort Colheita (P) 1983 a brilhar nas sobremesas - a encerrar o evento... E fica daqui um abraço ao João pelo sucesso da iniciativa!
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segunda-feira, abril 28, 2008

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A certeza do engano
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Antes foi o Syrah da casa Ermelinda Freitas, agora o Herdade das Barras. Ambos premiados em concursos. O primeiro nunca o provámos. O segundo sim, num painel com 16 tintos e ficou muito bem posicionado. Contudo, em ambos os casos, a mesma certeza – se há notícias que fazem vinhos "de um dia para o outro" (é o caso da especulação medíocre a que se assistiu nas últimas semanas), há notícias que desfazem vinhos com a mesma rapidez (já se sabe, a exigência sobe e a qualidade não). Nós, se alguma vez nos apetecer um dos referidos vinhos num restaurante, teremos certamente de perguntar três, não pelo menos quatro vezes, o seu preço para saber se nos estão a enganar, e qual o quilate do engano. E a certeza desse facto (ou seja, a certeza do engano), por mais ténue e breve, é muito desagradável!
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sábado, abril 26, 2008


Quinta da Atela (T) 2004

Moderno, quente, bem aparado pela madeira e por um corpo cheio. Macio de boca, amplo, complexidade no nariz acima do que espera nesta gama de preço. Tudo no ponto. Mostra bem como o Ribatejo pode, com um bom trabalho de enologia, criar bons vinhos para todas as ocasiões. Porventura, a apetência da região é mesmo essa, e não topos de gama.

Voltamos ao que dele dissemos em Janeiro de 2007 (ver aqui). Hoje, está com menos fruta, menos exuberante, mas mantém-se boa companhia. Uma aposta cada vez mais segura abaixo dos € 12. No nosso caso, deu boa réplica a um arroz caseiro de bocados de perdizes (as ditas tinham sido comidas quase por inteiro na véspera com outro tinto...).

15,5 - 16


Quinta da Sequeira (R) 2006; Burmester Reserva (T) 2004; Ferreirinha Colheita (T) 1998

terça-feira, abril 22, 2008


Porta Velha (T) 2005

Começa a ser difícil não reparar que este produtor de Trás-os-Montes produz óptimos vinhos. Além dos vinhos que levam o nome da casa - Valle Pradinhos -, e de um recente topo de gama (ver aqui), temos na gama mais baixa um óptimo produto pronto a agradar.

Diferentemente dos antigos vinhos da região que, em anos chuvosos, originavam tintos demasiado ácidos e, em anos muito quentes, originavam tintos brutos e excessivamente madurões, já este Porta Velha está muito equilibrado e, porque não dizê-lo moderno.

Fruta no ponto, mais vermelha que preta, ligeiro toque floral no nariz. Boca ampla, macia, mas com taninos que permitem esperar por ele um par de anos e uma frescura que há muito não provávamos nesta gama de preço. No final de boca, saboroso mas muito fininho, é que peca um pouco. Mas não se pode pedir tudo a € 5. Pois não?

15


Próximos vinhos: Quinta da Atela (T) 2004; Quinta da Sequeira (R) 2006; Burmester Reserva (T) 2004; Ferreirinha Colheita (T) 1998

sábado, abril 19, 2008


Vale de Rotais (T) 2004


O homem por detrás deste tinto está habituado a produzir boas uvas e, por isso, não se espanta quando enólogos e freelancers lhe vêm bater à porta da sua quinta querendo comprá-las. Quase sempre as vende, por motivos que nos são alheios, mas, de quando em vez, resolve guardar umas uvas para si e engarrafar um ou outro vinho. Por vezes, engarrafa autênticas pérolas como um original vintage (P) 2003 feito apenas a partir de touriga nacional (conseguem imaginar?).

Mas é nos tintos de mesa que talvez consiga o melhor equilíbrio; sobretudo com este Vale de Rotais. É um tinto do douro, e isso nota-se logo na côr violeta e no nariz: fresco, com muita esteva, algum mentol, cravinho e fruta vermelha (nada de "compotas de ameixa" por aqui). A madeira só ajuda e quase não se nota. Intenso, por vezes quase bruto, agradece um decante para ser vazado. Boca cheia, taninos secos mas não indomáveis, tudo muito equilibrado, e um final muito bom, saboroso e longo.

É um tinto de primeira cepa, disso não temos dúvidas, e a um preço a menos de € 30. Num mundo perfeito, poderíamos levá-lo ao "Recanto do Ti Pedro" (Vila Franca de Xira) para acompanhar umas petingas estufadas em tomate e cebola, e, de seguida, uns linguadinhos fritos com açorda de sável e ovas… isso, num mundo perfeito.

17,5
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Próximos vinhos: Porta Velha (T) 2005; Quinta da Atela (T) 2004; Quinta da Sequeira (R) 2006; Burmester Reserva (T) 2004

domingo, abril 13, 2008


Um grande branco

Temos para nós, que um grande branco só o é verdadeiramente, se sobreviver ao teste da passagem dos anos.
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Este é de 2003 e tem vindo a evoluir com a graça de Deus. A continuar assim (e já o tínhamos provado faz tempo, aqui), será um grande, mas mesmo grande, branco. Em breve!
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Para aqueles que já não têm umas garrafinhas, ou para aqueles que nunca as tiveram, podem prová-lo no simpático restaurante da praia da Adraga, por menos de € 25.
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Uma delícia!
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segunda-feira, abril 07, 2008


Apegadas Qta Velha (T) 2005

Cândida e António Marques de Amorim têm uma bela quinta no Cima Corgo (Quinta Velha), mas acima de tudo têm nesta colheita de 2005 um belo tinto. Quem conhece a edição de 2004 (ver o reserva aqui), já sabe ao que vai: perfil clássico do Douro, taninos rijos, e uma fruta cativante. É possível não gostar? Nós achamos que não é.
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Mas nesta edição de 2005, e note-se que não vai haver reserva desse ano por decisão do produtor, assistimos a algumas diferenças. Sobretudo na fruta - mais e mais fruta - preta muito madura, quase irresistível. Depois, taninos menos bravos, um vinho mais redondo na boca, guloso e bastante encorpado (neste aspecto muito acima do 2004). Enfim, um perfil moderno e equilibrado (até no grau do álcool), perfil este que julgamos ser a opção acertada nesta gama e faixa de preço.
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Em suma, um tinto muito atraente ainda que linear no ataque da fruta. Por menos de € 10 será certamente muito bem-vindo a juntar-se a um bife alto de lombo de vaca.
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16

PS: Hoje em dia, no Douro ainda se encontram apegadas no rio (apegada é o nome da varanda alta, à ré, dos barcos rabelo). Este tinto é lhes uma bonita homenagem.
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Próximos vinhos: Porta Velha (T) 2005; Vale de Rotais (T) 2004; Quinta da Atela (T) 2004; Quinta da Sequeira (R) 2006; Burmester Reserva (T) 2004
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quinta-feira, abril 03, 2008

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Icon d' Azamor (T) 2004

Faz hoje exactamente uma semana que estivemos na apresentação do topo de gama do produtor Azamor no novo espaço da "Galeria Gemelli". Foi a nossa primeira vez nas novas instalações deste conhecido restaurante da capital e gostámos bastante: mais luz e mais espaço, a mesma criatividade. Antes do muito esperado Icon d’ Azamor houve tempo para outros tintos do produtor alentejano, dos quais daremos conta em posteriores posts, sempre acompanhados de pratos bem preparados e em pouca quantidade como convém nestas ocasiões.

Mas vamos ao ícone do produtor, exactamente o Icon d’ Azamor (T) 2004. Concentradíssimo na cor, esperava-se portanto um nariz demolidor e uma boca superabundante. Mas não: bem melhor que isso… Tudo em elegância, revelando desde a primeira impressão que se trata de um vinho gastronómico e repleto de pattine. Complexo, denota muitas referências como grafite, as notas vidradas e outras terrosas mais delicadas. Uma boca cheia, já arredondada, mas com a fruta pouco doce. Curiosamente, pouca tosta, pouca baunilha, poucos torrados. Ah… em cheio! Esperemos, todavia, que a evolução lhe traga um final mais vistoso pois é no prolongamento na boca que este tinto mostra, ainda que sem excesso, o seu lado frutado de carácter alentejano.
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Um vinho que, para primeira edição, posiciona-se num nível muito alto e só esperamos e desejamos que os consumidores esqueçam, nem que seja por breves momentos, o vulgar "estilo compota" e se rendam, como nós, a este tinto fresco e profundo. Faz lembrar os grandes tintos de Estremoz? Faz pois! Lembra alguns tintos de Portalegre? Lembra, sim senhor! Ah… em cheio, mais uma vez. Um grande tinto a um preço (entre os €45 - €50) que, sendo eventualmente justificado, poderá contudo afastar alguns consumidores.
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17,5
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PS: Faltou falar do prato que acompanhou o vinho, foi um "mil folhas" de polenta preta e vitela estufada com cogumelos, redução de trufa branca. Muito bom.

terça-feira, abril 01, 2008


Versus (T) 2004

Quem diria que este tinto era capaz de tornar-se tão amigável após dois anos em garrafa! Quando o provámos pela primeira vez era duro (em excesso talvez), agora não mais. Será que saiu a força e levou atrás o fruto? Não, pelo contrário, agora sente-se melhor um fruto vermelho, levemente especiado, que já não está encoberto por taninos rijos e tosta marota. Talvez esteja na melhor fase de consumo, pois pela rapidez que mostra ao amansar é bem capaz de chegar a meados de 2009 já muito embrandecido.

Em suma: franco, fresco, rústico. Está tudo certinho neste belo tinto (um "belo das Beiras"), acompanha bem um paio do lombo (na foto) e o preço, a menos de € 7, é mais que justo.


15,5-16
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Próximos vinhos: Apegadas Quinta Velha (T) 2005; Porta Velha (T) 2005; Vale de Rotais (T) 2004