quinta-feira, agosto 31, 2006

Herdade do Peso Reserva (T) 2003


Provado no restaurante "Veneza", em Paderne, perdido no interior do concelho de Albufeira. Este Veneza tem uma particularidade curiosa, posto que é garrafeira (com mais de 1500 propostas entre vinhos nacionais e estrangeiros) enquanto serve manjares tradicionais algarvios e de influência alentejana. Tem, está bem de ver, uma enorme selecção de vinhos!
Mas, voltando ao vinho... provou-se a "porta estandarte" da Sogrape no Alentejo, produzido numa herdade colada à Cortes de Cima (na Vidigueira, portanto). No copo, cereja escura. Nariz interessante, forte, vivo, trata-se de um vinho jovem sem qualquer dúvida! Na boca é todo Aragonês, embora partilhe a sua composição com Alfrocheiro e Alicante (que mal se notam). Ameixa preta, madeira presente, breves notas florais. Final gostoso, jovem, mas esperava-se outra persistência. Um vinho muito alentejano, a acompanhar com interesse as próximas colheitas.
Bom + (17). A menos de € 25.

PS - O clube de vinhos wine.pt propõe este Peso Reserva (T) 2003 na sua escolha mensal de Agosto por € 23,50.

domingo, agosto 27, 2006

Mauro (T) 2000


Opaco no copo, mas não preto. Cor cereja escura muito bonita... evolução é algo que não nos passa pela cabeça quando miramos este vino de mesa. No nariz é um deleite, fruta madura esmagada (mas não doce) e muita especiaria. Na boca é fresco, com grande cumprimento, muito redondo e taninos macios. Lembra-nos o "Alion" que bebemos faz pouco (ver prova Alion 1995 aqui), e não lhe fica muito atrás. Retronasal profundo, balsâmico e muito sedutor. Final médio mas muito saboroso.
Num ano de muita chuva em Ribera del Duero, sobretudo na Primavera, o mago Mariano García (sob a capa mais versátil de "Castilla León") consegue oferecer com este Mauro mais um grande vinho, com a fórmula já célebre de tempranillo (na maioria), syrah e umas "pingas" de garnacha.
Tudo isto à mesa de um belo restaurante, e por menos de € 30.
Bom ++ (17,5)

terça-feira, agosto 22, 2006

Vinhos entre críticos e "treinadores de bancada"


É sabido que uma das características mais interessantes nos "enoblogs" é o carácter pessoal dos relatos escritos sobre as provas dos vinhos. Ao invés das criticas especializadas das revistas sobre vinhos, os blogs são mais intimistas e, não raras vezes, surgem discrepâncias entre o gosto do crítico provador e a apreciação do blogger enófilo. Mas atenção, a opinião que conta é, sem dúvida, a da imprensa especializada, é essa que faz e desfaz preços (e assim se deve manter), é essa imprensa que todos os meses tem de provar dezenas/centenas de vinhos, é essa imprensa que tem os melhores provadores nacionais como redactores.
Em todo o caso, um bom exemplo da saudável discórdia que se vem escrevendo pode ser encontrado na comparação entre as pontuações atribuídas pela Revista de Vinhos (RV) na edição n.º 194 (Janeiro, 2006, pp. 62 e ss) e as nossas notas publicadas neste blog. O objecto de estudo: "Brancos com madeira".
Ora, no top da RV não existem discrepâncias com a minha opinião – tanto o "Conde de Ervideira 2004", como o "JPR Antão Vaz 2004" (nossa prova aqui), passando pelo "Cova da Ursa" da mesma colheita (nossa prova aqui), são todos vinhos que merecem o meu total, e sincero, aplauso.
As diferenças surgem, todavia, no ponto extremo, exactamente nos vinhos com menores pontuações: é que considero o "Gouvyas Reserva 2003" (nossa prova aqui) um dos melhores brancos do mercado e, no entanto, a RV atribuiu 15 pontos e coloca-o atrás de brancos que (já os tendo provado também) não merecem, em nossa opinião, esse feito. O mesmo se diga dos 14,5 pontos oferecidos ao "Castello d’ Alba Vinhas Velhas 2004", um dos vinhos que mais me cativou em provas recentes. Outra diferença: a acidez que tanto apreciei no "Herdade do Meio 2004" (nossa prova aqui) é considerada agressiva pela RV e, talvez por isso, "catrapum"... meros 13,5 pontos.
Ao longos de mais de dez anos que sigo as pontuações da RV, e aconselho todos a fazer o mesmo! Mas, por vezes, as nossas provas (com ou sem rótulo à vista) dizem-nos coisas diferentes. O que fazer?
O consumidor que decida!

domingo, agosto 20, 2006

Redoma, Crasto, Chocapalha - Trio de Tintos

Tantas foram as vezes que escrevi sobre apenas um vinho dito “normal”, em alguns casos, já de si muito bom... bem, hoje escrevo sobre três belos vinhos. São vinhos que, pelo cuidado na elaboração, pela qualidade da matéria prima e do saber enológico que demostram, e até pelo preço que exibem, pouco têm de normal. Vejamos então mais de perto este trio de tintos:
  • Redoma (T) 2001 – O único decantado pois verifiquei a existência de forte resíduo. O que mais me agradou neste vinho foi, sem dúvida, a sua elegância. Tem um porte aristocrático, verdadeiramente cheio mas sempre elegante. Contido no nariz, reduzido, aromático e especiado contudo. Na boca é fino, estruturado, e muitíssimo equilibrado – é difícil notar as castas, apontar a madeira ou acusar a mão do enólogo. Taninos potentes (a boca não tardou a ficar seca!) mas não agrestes. Um belo vinho, seguro e fino, para muitas (mas selectas) ocasiões. Bom ++ (17,5).
  • Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas (T) 2002 – Paira álcool mal o colocamos no copo, mas é um álcool guloso. Imediatamente depois, surge um perfil sedutor de grande categoria. Na boca, solta-se os apontamentos a bergamota, flores (um carácter floral intenso, mas não enjoativo), e um fundo mineral que parece não ter fim. No final de boca – que grande final (pensei em contar os segundos, seriam certamente pelo menos uma dezena)! – arrebata novamente a sensação a álcool, desta feita acompanhada de canela e sensações lácteas, doces e quentes, misturadas com fumo (quem sabe se um açúcar queimado em leite creme). Enfim, tudo demonstração de frescura e vitalidade. Grande vinho, o mais sedutor dos três, mesmo em ano difícil. Bom ++ (18).
  • Chocapalha (T) 2003 – Não é a primeira vez que escrevemos sobre os vinhos desta quinta próxima de Alenquer. Na verdade, provámos, e o que provámos relatámos, o "Quinta da Chocapalha (T) 2003" (ver link), o vinho de entrada na gama desta quinta. Pois bem, tudo aquilo que admirámos no "Quinta da Chocapalha" também encontramos neste topo de gama. Reside aqui, aliás, um dos poucos óbices que encontrámos neste Chocapalha. É que, a nosso ver, ambos os vinhos são muito similares, ficando o "Chocapalha" a dever pouco mais ao seu "irmão mais novo", mas sendo bem mais dispendioso. Nas notas de prova, mostrou cor negrita profunda não opaca. No nariz foi a vez das referências a chocolate branco, baunilha da madeira, enfim, tudo um pouco adocicado. Aqui não há vegetal, apenas bagas vermelhas e um toque floral (gerânio, pareceu-nos). Mais dissimuladas, aparecem notas a cacau, madeira de qualidade, fruta (mais fresca do que no “irmão mais novo”) e algum dado químico à mistura num palato que enche bem a boca. Final agradável, médio/longo, tudo muito próximo do estilo "novo mundo". Bom + (17).

quinta-feira, agosto 17, 2006

Legaris Crianza (T) 2001


Já depois de muita gente se ter apercebido da qualidade dos vinhos "del Duero", foi tempo de alguns grandes grupos bodegueros aí se instalarem. Foi o que sucedeu com o grupo Cordorniú, que criou em 2000, de raiz, a bonita e moderna bodega Legaris, a poucos quilómetros entre Peñafiel e Pesquera. A garrafa aberta foi comprada na própria bodega, depois de uma simpática visita às instalações seguida de "catas" (provas).
Uma vez que parte das vinhas só foram plantadas em 2000, a colheita de 2001 só foi conseguida com recurso a uvas de outros produtores. Ora, segundo o conhecido crítico espanhol José Peñín, as colheitas de 2002 e 2003 estão bem melhores.
A cor não impressiona, tons de cereja escura. O bouquet sim, é poderoso, sedutor e confitado. Notas de madeira muito agradáveis num nariz que promete, embora falte a fruta madura e delicadeza que procurávamos. Na boca, confirma-se o carácter para já indeciso do vinho, e o equilíbrio entre a madeira e a fruto ainda não é o melhor. Por outo lado, falta-lhe também corpo e estrutura, e o final é médio/curto.
Um projecto que promete bons dias, mas que, na colheita de 2001, ainda não logrou brilhar.
Suficiente + (14,5). A menos de € 15 na bodega.

quarta-feira, agosto 16, 2006

(Mais) Revisitações:



  • Adega de Pegões Colheita Seleccionada (T) 2001 - Após uma prova (já em 2006) que desagradou - excesso de evolução, ou "coisa que o valha" - não descansei até o provar novamente. É que se tratava de um dos meus predilectos, no que respeita às "Terras do Sado". Abriu-se a garrafa e ... afinal tudo voltou a ser como eu esperava: um vinho ainda quente, seguro, com estrutura, taninos absolutamente macios e ainda muita fruta. O que se pode pedir mais? Adivinha-se o seu definar, por isso toca a beber até 2008. Bom + (16,5).

terça-feira, agosto 08, 2006

Revisitações:

  • Quinta dos Carvalhais Encruzado (B) 2003 - Foi decantado e novamente introduzido na garrafa. Mantém-se muito interessante (ver prova anterior aqui), um branco de referência. O primeiro impacto olfactivo é de calda de ananás, está mais doce do que a prova anterior. Só depois surge o toque mineral que aguardávamos. Mantém-se fresco, mas o nível de acidez da prova anterior é coisa quase do passado, por isso não hesite em bebê-lo já, ou durante 2007. Bom (16).
  • Quinta do Infantado (T) 2002 - Vinho bom de um ano mau... Continua a mostrar uma bonita cor e mantém-se fácil de beber (ver referência anterior aqui): tem complexidade, não sendo hesitante nem tímido. Notas a bagas vermelhas e alguma especiaria no final (merecia, aliás, um final mais longo e incisivo). Na minha opinião, ainda pode evoluir favoravelmente mais um ou dois anos. Bom - (15,5)
  • Adega de Pegões Trincadeira (T) 2004 - Este tinto ainda está "para durar" mais uns 3-5 anos, mas já se encontra pronto a beber (ver sugestão anterior aqui). Apesar de ser monocasta, a Trincadeira está "marcada" pelo terroir das "Terras do Sado". É um vinho jovem, quente, com singelas notas florais e a fruta vermelha. A madeira continua demasiado evidente. Bom - (15)

segunda-feira, agosto 07, 2006

Post Scriptum (T) 2004


Não constitui novidade que se trata do "baby-Chryseia". Ora, é de boas uvas - já se sabe - que se fazem bons vinhos. E este PS de 2004 está bastante bom! Aliás, quanto mais provo vinhos de 2004, maiores são as expectativas para os topos de gama da colheita.
Cor bonita, ainda rubi-lilás, e logo um nariz poderoso, amaciado pela madeira, coloca-nos de sentido.
Na boca, surgem as imediatas referências a geleia de morango, e alguma cereja. Mas depois, depois vem a madeira, a resina e o carvalho, mas tudo ainda muito novo e nada integrado.
Todavia é o final, ainda que de média intensidade e menos evoluído e elegante, que nos faz lembrar do irmão mais velho... é aquele final láctico com notas de baunilha e chucutre que, paulatinamente, se transforma num "bom-bom" (de chocolate de leite com recheio de licor), muito guloso! Por este preço, melhor é quase impossível.
A menos de € 13. Bom + (16,5).

Dicas de restauração:

  • Casa da Dízima - Edifício antigo, mas restaurado, mesmo à entrada de Paço de Arços (para quem vem de Lisboa). Provou-se, entre outros, a salada de coelho (este desfiado, um pouco mais de vinagre tinha sido o ideal), o medalhão de vitela com molho de trufas acompanhado de risotto de pleurotes e trouxa de legumes e as codornizes recheadas de alheira de Mirandela. Tudo muito bom. Também boa a carta de vinhos, bons copos e temperaturas adequadas, aliás todo o serviço de vinhos é óptimo graças ao escanção da casa. Bebeu-se Meandro (T) 2003: muito bom, só falta mais presença e corpo, tem muitos taninos, boa fruta fresca, e alguma moka no final; e Molino Real 2003: muito refrescante, ananás, banana, melão... A menos de € 50 por pessoa (com vinho).
  • O Migas - No centro histórico de Sines. Já jantei n’ "O Migas" dezenas vezes, e sempre muito bem. Não se pode dizer melhor de um restaurante, pois não..? Maçã com farinheira de entrada e depois galinhola em cama de patés (por encomenda). Divinal! Bebeu-se um Lagoalva (T) Syrah 2000: no ponto óptimo de consumo, penetrante com notas de enxofre de início, depois foi seco com notas de chá, tabaco e cacau, final interminável. Óptima relação preço/qualidade, mesmo nos vinhos. A menos de € 25 por pessoa (com vinho).

sexta-feira, agosto 04, 2006

Coisas do Arco do Vinho


Procurava dois vinhos brancos. A saber, "Três Bagos Sauvignon" e "Muros Antigos Loureiro", ambos de 2005. Procurava-os mesmo!
Na verdade, tenho vários brancos em casa para ir bebendo. Também conheço outros vinhos brancos que não tenho, apenas por que não os quero. Mas aqueles dois... queria mesmo comprar, e de imediato.
Sucede, que não estava a ser fácil a tarefa de encontrá-los nos sítios mais vulgares. Bem sei que não são raridades, mas a verdade é que os supermercados, "hipers", e mesmo algumas garrafeiras perto de casa não conseguiam satisfazer o meu capricho.
Mas esta história tem um final feliz. Andava afinal burro, eu! Fui, finalmente, a uma das minhas garrafeiras predilectas, talvez a primeira garrafeira onde comprei vinho em Lisboa, e lá estavam as garrafas a olhar para mim, e a preços muito simpáticos! Pedi umas tantas botelhas e diz-me, de forma convincente, um dos sócios:
- "Isto tem tido muita procura, sabe."
Claro que sei... e se eu os procurei! Que parvo fui em não ter ido "in the first place" àquela garrafeirra. Logo eu, depois do que já passámos juntos.
É por isto que nos devemos lembrar que certas garrafeiras merecem a nossa confiança total. É que têm aquilo que queremos. Ao Francisco Barão da Cunha, e ao José Azevedo, asseguro lembrar-me (ainda) mais vezes.