TINTOS DE 1996
Não era a primeira vez que os seis nos reuníamos (ver aqui para ocasião anterior). Desta feita o objectivo era (mais) exigente (exigente para nós, exigente para os vinhos): provar tintos de 1996. Dois do Alentejo, dois do Douro e dois do Dão.
Como é sabido, provar vinhos com mais de 10 anos exige atenções redobradas. Em primeiro lugar, é preciso acreditar que estiveram guardados em boas condições (foi o caso, numa cave fria ano inteiro), depois decantá-los com cuidado e ter muita atenção ao arejamento. No restante, as comidas também se adaptaram aos vinhos e pugnou-se por pratos não muitos intensos. Aliás, o nariz também se tem de adaptar… ou melhor, o cérebro tem de se consciencializar que são vinhos com 10 anos. Quer isto dizer, a evolução já fez muito do seu caminho e, ademais, o tipo de vinho de então era um pouco diferente do normal género que se produz actualmente. Uma curiosidade em provar vinhos com mais de 10 anos passa pela análise das várias fases por que os vinhos vão passando durante a refeição. De facto, por vezes, ninguém da mesa está de acordo pois o vinho está em diferentes estádios num determinando momento em cada copo. Apesar dos cuidados todos, um azar: rolha no vinho n.º 6… um Dão… o Quinta dos Carvalhais Reserva (T) 1996.
Como é sabido, provar vinhos em grupo é encontrar diferenças na opinião de cada um. No final, uma média ponderada ditou os resultados. E bom… em primeiro lugar ficou um grande tinto do Alentejo, um nariz calmo, de acidez média, muito perfumado, de grande equilíbrio na boca, complexo e ainda cheio, era um Esporão Reserva (T) 1996 (pensamos que altura não havia ainda o Garrafeira). Depois, veio um tinto mais vegetal no nariz, acre, de média intensidade, boca interessante, mutável no paladar, um belo conjunto este Quinta da Leda Touriga Nacional (T) 1996. Ainda com lugar no pódio ficou sem dúvida o vinho mais sensual da mesa, nariz de alta intensidade, fino e elegante, fruta viva, grande volume na boca e um bom final, parabéns para este Quinta da Pellada T. Roriz–T. Nacional (T) 1996. Mais atrás ficaram o Quinta do Carmo (T) 1996 com um bom nariz mas muito plano na boca, e o Quinta do Côtto (T) 1996 a acusar cansaço mas, ainda assim, a mostrar bom volume na boca.
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Em conclusão, no geral os vinhos apresentaram algum desgaste nem sempre compensado com a complexidade, harmonia e finesse que se esperava. Todavia, os três primeiros classificados - Esporão, Leda e Pellada - deram bem conta de si e muito prazer aos seis convivas.
6 comentários:
Com tanto pensar deviam ter-se lembrado do Esporão Garrafeira 1994, que depois só voltou a ser lançado em 1997.
O Quinta do Carmo 1996 nunca foi dos que mais gostei, lembro com agrado do 1997, isso sim um belo vinho. Curioso que 1996 não foi um grande ano de vinhos, mas para alguns foi ano dourado, lembro o Tapada Coelheiros 1996 ou mesmo o Garrafeira do mesmo produtor e do mesmo ano, nesse mesmo ano não tivemos Pera Manca tinto despromovido em cima da hora para Cartuxa Reserva 1996, quem as tem é um sortudo.
Classificar vinhos por lugares quando os mesmos são completamente diferentes não me parece muito lógico. Ter um vinho de lote a concorrer com um vinho varietal será correcto ?
Sem dúvida alguma, que no painel apresentado a minha aposta seria em peso para o Esporão Reserva 1996, não por Regionalismos mas apenas porque é o vinho mais completo de todos os que entraram na prova.
Em primeiro lugar gostava de saber tudo sobre o grande evento de Vila Viçosa, que só por razões profissionais (como te referi) não consegui ir, com muita pena.
Depois, o ano de 96 foi bom no Dão, nas restantes regiões nem tanto, como dizes.
Isso do garrafeira Esporão 94 é coisa que desconhecia (o 97 conheço bem, um vinhão). Que arquivos o meu amigo tem!
Uma coisa te digo: foi uma bela prova.
Um abraço,
Nuno
Bebi o Esporão 1996 o ano passado e gostei bastante. O ano passado saiu na RV um artigo sobre tintos de 1996.
Abraço
No Dão talvez tenha sido um ano marcante, um ano a par do 1995 em que o Dão ouviu o despertador tocar e começou a acordar... é lembrar os Touriga Nacional 1995 e 1996 de alguns dos melhores produtores da zona. Esse Carvalhais foi uma tentativa da Sogrape lançar o «Barca Velha do Dão» que a meu ver falharam em grande estilo, um vinho com muitas falhas de garrafa para garrafa, muita rolha em má condição, etc. Foi de tal maneira que estiveram quietos durante alguns anos seguidos. Talvez a digerir tão mau resultado.
Nuno, o Garrafeira 1994 do Esporão é uma questão de arquivos, de garrafeira, de notas de prova e de andar nisto das provas faz uns 10 anos.
Convém também lembrar que a Jancis Robinson deu 18 valores ao Pellada 100% Touriga de 1996...
E olhem que 18 para aquela digníssima senhora não é brincadeira....
Meus caros,
Um bom arquivo é fundamental. O problema é que, como se costuma dizer, existe sempre alguém com um melhor/maior do que o nosso... (LOL).
Grande nota essa da J. Robinson!
Nuno
PS: que informativos comentários os vossos. Enriqueceram, como sempre acontece, o texto em muito! Esta é uma das valias dos blogs. Obrigado.
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