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Passamos a falar de dois vinhos tintos do Alentejo. À primeira vista (ou seja, à primeira prova), tirando a sua proveniência e o ano de colheita, pouco mais terão em comum. Bom, na verdade, têm mais algo em comum posto que têm boa apresentação e vêm afamados como recomendações na revista Blue Wine. E, precipitando o que seria a conclusão deste pequeno texto, afinal até partilham mais qualquer coisa - a nossa opinião sobre eles: é que sendo ambos tintos com bastante valor, estávamos a espera de outras alegrias. Em rigor, ambos deixaram a sensação que podiam dar mais. Vejamos:
O primeiro que falamos é o Scala Coeli (T) 2005, da reputada casa Fundação Eugénio de Almeida responsável pelo mui famoso Pêra Manca. Pois bem, este tinto logo nos fascinou pela cor no copo, muito bonita com laivos violeta a revelar juventude. No nariz é que foi menos interessante pois o domínio dos aromas provenientes da madeira é muito intenso. Os apreciadores menos atentos esqueçam as referências a fruta pois é madeira e mais madeira, acompanhada de matizes torradas, caramelizadas e a café. Perante este cenário, já era de esperar que na boca se mostrasse "fechado a sete chaves" como que a dizer que temos uma roleta-russa nas mãos: ou beber agora - e será uma má opção pois está muito novo - ou esperar por ele – e isso é uma incógnita pois os taninos estão escondidos com tanto poder e amargura. A boca, pois claro, é poderosa, cheia de volume e passados 30 minutos o vinho melhora e mostra que foi feito com muitos cuidados, que a fruta é compota daquela bem madura, e que a madeira (nova, nova, nova) é de boa qualidade. Mas... lá que se torna aborrecido, disso não temos dúvidas. O lote é bordalês, mas isso não o faz ser um daqueles tintos que não se esquece. E o preço… upa upa, desde €30 até ao dobro. No cômputo final: 16.
O segundo vinho é o Roma Pereira (T) 2005, que se apresenta num estilo oposto ao anterior: onde o primeiro "atira" madeira, neste ela apenas se "sente"; onde o primeiro tem volume desmedido, este comporta elegância; quando o primeiro se torna aborrecido, este testemunha ser gastronómico. É certo que lhe falta algum corpo e isso nota-se bem, podendo afastar alguns consumidores que apreciam tintos mais aguerridos. É certo que a fruta na boca não é absolutamente saborosa, mas isso não quer dizer que não evolua nesse sentido. Este vinho é, aliás, claramente um tinto de evolução, ao contrário do primeiro, pelo que será de esperar mais daqui a um par de anos. O seu único "calcanhar de Aquiles" talvez seja o facto de estarmos sempre à espera de mais força durante a prova e, sobretudo, no final de boca. Efectivamente, começa bem com fruta macia, boca aveluda, mas o final peca por esguio e escasso na intensidade. Da mesma forma, o conjunto começa por acompanhar bem pratos exigentes, porém das duas vezes que o provámos - uma a acompanhar rabo de boi, e uma outra em prova cega com o Pingus que muito gostou dele (ver aqui) - não deixou tantas saudades como desejávamos. É, sem dúvida, um tinto sério, complexo, no qual a tipicidade das castas não é totalmente perceptível. Os 12,5% de álcool agradecem-se e, assim, pode-se beber um golo mais. O preço recomendado gira em torno dos €15, valor sensato e merecido. No cômputo final: 16,5.
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