Fomos longe demais? Levámos a nossa louca predilecção a um nível onde o risco é maior que o prazer? Arriscámos em demasia em troco de um eventual momento de prova da existência de Deus? Sim, fizemos tudo isso, e entrámos em 2011 com a confirmação de uma certeza (e sim, sabemos que é inexoravelmente contraditório confirmar uma certeza).
A certeza essa já aqui foi firmada: a da capacidade de evolução de alguns (poucos, é certo) néctares nacionais. Desta feita, foi caso do Ferreinha Reserva Especial (T) 1977, ou seja mais de 30 anos num vinho tinto não fortificado.
Como estava? A garrafa com nível baixo, preocupante mas não alarmante sobretudo considerando os anos que já decorreram do engarrafamento. O rótulo bastante degradado como a foto atesta. Mas a rolha, essa estava em perfeitas condições apesar de manifestar a vetustez da idade, recheada de vinho. E de que vinho…
Cor ligeira, corpo magro (da idade), ligeiro desvio avinagrado mas sem em nada atrapalhar a prova. De resto, muito bem no nariz ainda com uma ou outra nota a fruta encarnada muito fresca. Os aromas terciários dominam mas não são excessivos e por isso não desconfortam, trazendo apenas um extra na complexidade. A boca é maravilhosa, um vinho fresco, de acidez notável, com sabor subtil e final de elegante prudência.
Melhor que o FRE’84 mas menos impressionante que o BV'85 e, sobretudo, que o colossal FRE’86 (ver aqui), todos da Casa Ferreira, temos aqui um vinho muito especial. Naturalmente, está numa fase descendente (nem poderia ser de outra forma, em sanidade de espírito), mas provem-no se conseguirem por a mão numa garrafa e, se forem como nós, será grande o prazer.
1 comentário:
Boas.
O meu nome é Sérgio Lopes. Criei o blogue http://enofiloprincipiante.blogspot.com/
Por favor passem por lá.
Obrigado!
Saudações vinícolas!
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