Confessamos já que estes dois tintos italianos estavam na nossa lista (todos temos uma, ainda que não escrita, certo?) dos vinhos do Mundo que mais queríamos provar...
O Sassicaia dispensa apresentações, mas sempre se dirá se trata de um dos pioneiros da revolução toscana, apresentando um blend de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Mais propriamente, neste caso específico, da revolução dos vinhedos à volta de Bolgheri, pequena vila na costa do Mediterrâneo. É um vinho com uma história rica em pormenores fascinantes, como seja a atribulada vinda dos primeiros clones bordaleses e a muito contestada criação de uma micro-região demarcada apenas para albergar este famoso tinto da casa "Tenuta San Guido". Uma dica: a visita a Bolgheri é um marco para qualquer enófilo, uma vila antiga cheia de charme, com bons restaurantes e enotecas (todas com vinho a copo), rodeada por pinheiros mansos e, claro, vinhas.
O Altero é um vinho também ele especial. Vinho de elite, foi criado em 1983 pela casa "Poggio Antico" com o propósito de demonstrar toda a potencialidade da casta Sangiovese, sobretudo na variante clonal típica dos Brunello di Montalcino. A par de outros vinhos toscanos, um ou outro mais vetusto e famoso, Altero foi uma das principais faces do movimento "super-tuscan", caracterizado pela produção de vinhos muito concentrados, de perfil internacional e nem sempre 100% Sangiovese (apesar da casta dominar tendencialmente os lotes). A composição dos solos de Montalcino, diferente dos das colinas centrais da Toscânia, tem fama de atribuir grande longevidade aos tintos que produz e a variante Brunello di Montalcino tem vindo a ganhar reputação com os seus tintos profundos e expressivos.
Quanto à prova destes dois colheitas de 1988, demonstrou-nos a vitalidade de ambos os vinhos. Com mais de 20 anos em garrafa, ambos mostraram uma vivacidade plena. Necessariamente, as diferenças logo se notaram, com o Sassicaia a lembrar um tinto bordalês, com um bouquet muito bonito, apesar do Cabernet Sauvignon estar ligeiramente dominador, ou, pelo menos, não tão polido quanto nos topos de gama da margem esquerda de Gironde nos melhores anos. Revelou, todavia, uma fantástica prova de boca, complexa, com garra mas plena de elegância - um vinho feito para a mesa. Um grande tinto, sem dúvida, e de grande aptidão gastronómica (17,5).
Com o Altero, foi necessário mudar o chip, tanta foi a diferença de perfil: bouquet de enorme expressividade, cheio de fruta – incrível (!) para a idade – e madeira discreta (em Montalcino existe o hábito de envelhecer os tintos em balseiros generosos, neste caso em pipas de 500l. de carvalho francês). Na boca… verdadeiramente explosivo! Manteve o enfoque frutado, sensual, por vezes quase quente - mas com equilíbrio e seriedade -, autêntico cuore italiano com taninos perfeitamente integrados e muito saborosos. E que fantástico o final de boca com matizes minerais... que grande monovarietal de Sangiovese! Belíssimo (18-18,5).
Uma conclusão? Para quê?
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