APRESENTAÇÃO de novos vinhos
José Maria da Fonseca
Foi num ambiente descontraído mas sofisticado, no restaurante "Casa da Dízima" (Paço d’Arcos), que decorreu uma apresentação dos últimos vinhos de mesa da José Maria da Fonseca. O menu estava preparado, a casa quase cheia, e os vinhos a postos. Mais do que o passado grandioso da conhecida produtora de Azeitão, importava, nas palavras de António Soares Franco (administrador da JMF) conhecer os vinhos que marcarão o futuro. Um futuro risonho diga-se, pelo que se provou.
Tudo começou com mais uma edição do DSF Moscatel Roxo Rosé, desta feita da colheita de 2008, revelando-se, uma vez mais, como um dos melhores rosé nacionais (e não só). Complexo no nariz com fruta e matizes florais (rosas) intensas, corpo mediano/encorpado e final saboroso. Uma aposta ganha por Domingos Soares Franco, um rosé que marca pela superioridade sobre os concorrentes e que revela uns nem sempre simpáticos 12.9% de álcool (17).
Depois, já com uma terrina de foie-gras no prato (com compota de figo, maça "grany smith", e "peta zetas", muito bom por sinal) provou-se o Camarate (B) 2008, um branco doce, produzido a partir de uvas Moscatel e Malvasia fina, em iguais proporções. Muito frutado, com pendor pesado para fruta cozida e referências a amêndoa amarga e anona, algo linear. Portou-se bem, todavia, no que respeitou ao "wine paring" com o foie gras (e mostrou ter apenas 11% de álcool), mas foi o vinho em apresentação que menos nos agradou (14,5).
Surgiu então uma boa surpresa, uma nova edição do Pasmados (B) 2007, com um perfil ligeiramente diferente. Mantém-se um branco sério, mas agora sente-se mais um curioso lado duriense (quase 50% de Viosinho, o resto é de Viognier e de Arinto e muito pouco de Esgana). Muito bem no nariz, apesar da evidente madeira, revelou frutos secos, pouca exuberância a fruta e algum mineral. Um óptimo acompanhamento a um belíssimo atum fresco em tataki (sobre arroz de sushi tostado, legumes frios e manteiga de manga). Belo branco, boca ampla mas fresca, à qual só faltou alguma acidez, pelo que sugere ser mais para o Inverno do que propriamente para a época estival (16).
Por fim, serviu-se o topo de gama Hexagon (T) 2005, muito mais vinho que as duas edições anteriores, mais força, mais músculo, mais taninos, enfim mais garra. A acompanhar um medalhão de javali (mimado com trouxa de chévre, maça esmolfe caramelizada e molho frio de moscatel, numa criação culinária que só pecou pela secura e dureza da carne), o Hexagnon mostrou ser dotado de um nariz intenso a fruta preta (amora e mirtilhos), folha de tabaco, e referências a carvalho novo. Boca com muita fruta, boa acidez, complexidade assinalável (são seis castas, com predomínio para a Syrah, Trincadeira e Touriga Franca) e um bom prolongamento de final de boca. Temos vinho (17 – 17,5)!
Em suma, ficou demonstrado que a JMF tem muito para dar, para além dos seus maravilhosos moscatéis. Houve, aliás, oportunidade de provar também o Alambre 20 Anos (muito bom na relação preço-qualidade, e uma óptima entrada nos moscatéis mais sérios) e a Aguardente Espírito, uma belíssima aguardente de moscatel que já não se produz.
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2 comentários:
Paço d'Arcos, não é um passo de gigantóne
Caro "Passito",
Muito obrigado pelo reparo. Por favor, não hesite em escrever um comentário sobre a componente material do post.
Cump.
NOG
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