quinta-feira, abril 15, 2010

Ainda há provas assim:


Quando já começávamos a pensar que as provas e apresentações de vinhos tinham esgotado a criatividade e imaginação dos seus promotores, eis que fomos surpreendidos com uma iniciativa que nos encheu todas as medidas...

Os ingredientes eram, à partida, muito interessantes: (i) um local atractivo – um estúdio de fotografia com uma enorme cozinha no meio (em rigor, já conhecíamos o local de refeições memoráveis preparadas pelo Luís Baena); (ii) três chefes conceituados a cozinhar – Fausto Airoli (Spot São Luiz, ex-Pragma), Marco Gomes (Foz Velha) e Henrique Sá Pessoa (Alma, ex-Panorama); (iii) e uma ideia muito bem burilada – a maridagem de vários vinhos com mini-pratos preparados pelos referidos chefes a partir de um mesmo cesto de ingredientes, sendo que cada vinho teria de acasalar sempre com 3 mini-pratos (um de cada chef).

O resultado, ou melhor o "resultadão", foi um evento divertido, formativo e, para a empresa distribuidora em questão (PrimeDrinks), uma oportunidade de mostrar alguns dos melhores produtos que comercializa. Por isso, presentes estavam também os enólogos de cada produtor, óptima oportunidade para trocar experiências.

Ainda que tal não fosse o objectivo confessado, a refeição acabou por se tornar numa amigável competição entre os três conhecidos chefs, cabendo aos comensais convidados o papel de júri num "concurso" no qual o mais relevante era a busca pela melhor combinação possível entre a comida e os vinhos servidos. As premissas foram iguais para todos: quatro vinhos, dois azeites e um cabaz de ingredientes. O desafio: procurar criar ligações perfeitas.

No primeiro flight (de mini-pratos), para emparelhar com um poderoso (e, por ora, com algum excesso da madeira) Herdade dos Grous Reserva (B) 2008 (16-16,5), soube-nos melhor o excelente "aveludado de batata e ovo escalfado durante 45 minutos a 63º, com misto de cogumelos salteados e cebola desidratada" (criação de Marco Gomes). Com o mesmo vinho branco alentejano, também funcionou muito bem - até porque a preparação estava igualmente soberba - o "robalo assado em cama de amêijoas, com cogumelos e cenoura" (criação de Henrique Sá Pessoa).

Já para o segundo flight, o Ermelinda Freitas Alicante Bouchet (T) 2008, um Alicante moderno, quente e saboroso, com as características do terroir de solo de areia em destaque (15,5-16), bateu-se graciosamente com um fantástico "robalo sobre sarrabulho de arroz, rúcula e espargos" (criação de Fausto Airoli), de todas, para nós, a mais didáctica das maridagens testadas.

Para o terceiro vinho, um bairradio Grande Follies (T) 2003, muito bem (para nós, a surpresa vinícola do evento), complexo e gastronómico (17-17,5), foi vez de brilhar a "feijoada de rabo de boi em cesto crocante de massa brick" (criação de Marco Gomes), numa das mais felizes (mas também menos originais) ligações da prova; a comprovação de que, como sabem os amigos espanhóis, vinho tinto e rabo de boi é uma maridagem perfeita...

Por fim, no derradeiro flight, os "lombinhos de porco em vinha d‘alhos com pêra glaciada e morcela de arroz" (criação de Marco Gomes) revelaram-se como o melhor acompanhamento para um sensualíssimo Esporão Touriga Nacional (T) 2007 (16,5-17), talvez um dos melhores monocastas de sempre lançado pela empresa de José Roquette. Ainda para acompanhar o mesmo tinto, também recordamos com saudade a "espuma de batata com rabo de boi estufado em vinho tinto, nabo e chalota caramelizada em vinagre balsâmico" (criação de Fausto Airoli).

Em suma, uma prova vibrante e didáctica, daquelas que quando acabam já temos pena que tenha terminado (repetição à parte). É caso para dizer, ainda há provas assim, e era bom que fossem mais...


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