quarta-feira, agosto 12, 2009


Vinhos do Palace Hotel Bussaco

Existem provas de vinhos e existem provas de vinho! Uma daquelas provas que vamos procurar não esquecer realizou-se há bem pouco tempo em plena adega privada do Palácio Real Hotel do Bussaco.

São muitas as estórias a propósito dos vinhos do Bussaco criados por Alexandre de Almeida, fundador dos Hotéis Alexandre de Almeida no início do século passado. E são muitas também as estórias sobre a famosa adega do hotel construída porque o seu fundador entendia que, tal como qualquer castelo (château) europeu, o Bussaco também deveria ter a sua própria adega. São, de facto, muitas as estórias da história deste hotel palácio real, mas acreditem que, na verdade, a realidade consegue suplantar a mais novelesca descrição desse local quase mítico.

Um dos aspectos que mais contribui para o quase mito em redor dos vinhos do Hotel do Bussaco é o facto da tradição na sua elaboração ser levada extremamente a sério. Não admira, por isso, que ao longo de um século de existência se tenha mantido o modo de vinificação, a escolha das melhores uvas das castas regionais típicas da Bairrada e do Dão (dado que o Bussaco se encontra em plena zona de fronteira entre a Bairrada e o Dão), a vinificação em madeira e sem filtragem, o estágio do vinho em madeira, a lavagem manual das garrafas com areia do rio, e mesmo a manutenção do rótulo (lindíssimo, vide foto de cima) durante os últimos 80 anos.

Acresce ao respeito pela tradição, a prática singular da manutenção de uma reserva enorme de garrafas de cada colheita. Por isso, não é difícil imaginar a quantidade vastíssima de garrafas existentes na adega. Aliás, são tantas as garrafas na adega, e esta é tão vasta em dimensão e altitude, que são muitos os vinhos de uma mesma colheita guardados em diferentes locais e em diferentes altitudes. Não é, pois, de espantar verificar-se a excentricidade de se encontrar dois ou mais bons vinhos da mesma colheita com diferenças significativas na prova posto que foram armazenados em locais e altitudes muito diferentes, sujeitos a diferentes níveis de temperatura, de humidade e de luminosidade. Mas essa, mesmo para o viajante-enófilo mais experimentado, é apenas uma de muitas surpresas que o aguardam.

A outra surpresa é a de comprovar que as garrafas mais antigas datam de 1923 e que estas, segundo os responsáveis do hotel, ainda se encontram bebíveis. E igualmente notável é o facto de se encontrar na lista de vinhos do restaurante do hotel quase todos os vinhos brancos e tintos do Bussaco a partir de 1944 e 1945 - algo verdadeiramente único no panorama nacional.

Mas talvez a maior surpresa seja o próprio vinho do Bussaco, ou melhor, os vinhos guardados e provados naquele ambiente único. Vinhos históricos já, com os inevitáveis bouquets tão evoluídos quanto amadeirados, acompanhados de finais de boca intermináveis pelos quais (ainda) suspiramos. Não conseguimos evitar, todavia, a injustiça de elogiar apenas alguns desses néctares em detrimentos de outros, também eles majestosos. Destacamos, assim, o encanto do Bussaco Reserva (B) 1958 com as suas persistentes notas a verniz; mas também as subtis sensações aromáticas a café presentes no delicado Bussaco Reserva (T) 1959; sem, por um momento, olvidar a juventude da prova de boca do impressionante Bussaco Reserva (T) 1983 e, em especial, as suas imponentes referências a couro no nariz; e claro, a fruta gentil da edição especial "Vinha da Mata" do Bussaco Reserva (T) 2001 e, "last but not the least", o inebriante perfume a mel de acácia do Bussaco Reserva (B) 2002. São, enfim, vinhos que não se esquecem. Foi, também e sobretudo por isso, uma prova que não esqueceremos...

PS I: Esta prova inseriu-se num périplo de 3 dias e meio de provas em diversas regiões do país e só foi possível dada a gentileza de Alexandre de Almeida, presidente do grupo Hotéis Alexandre Almeida (AA), e o amável convite - e excelente organização - do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV).
PS II: As fotos foram tiradas e cedidas pela provadora Tamlyn Currin (Jancis Robinson Team) a quem, naturalmente, muito agradecemos.






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