quarta-feira, março 18, 2009


NOVIDADE

Casa Cadaval Trincadeira
vinhas velhas (T) 2006

É verdade que não é uma novidade de última hora. Em rigor, o vinho já saiu para o mercado há mais de três meses, mas também é verdade que só nestes últimos tempos tem estado disponível num cada vez maior número de lojas e até hipermercados (eg., no Jumbo das Amoreiras a menos de € 11).

Nariz com um travo vegetal, algum bret. e noções animais. Sem dúvida que existe neste tinto complexidade e ecletismo, sendo que no primeiro impacto a fruta não aparece. Com arejamento, surge a fruta em contornos de cereja madura e framboesa esmagada, muita especiarias, sendo que as sensações animais não largam o copo. Na boca mostra taninos duros, saborosos, mas a precisar muito de tempo em garrafa. Está tudo por afinar ainda.
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Com auxílio de uma bomba de vácuo, guardou-se mais de metade da garrafa e voltou-se a provar no dia seguinte. A tese de que o vinho está muito jovem confirmou-se, e o néctar ribatejano mostrou-se em melhor forma, com a fruta madura mais definida e um final de boca mais poderoso.

A expectativa não era baixa é certo (bem pelo contrário), e o vinho mostrou-se, nesta fase, uns furos abaixo do esperado. No geral, encontra-se demasiado jovem e a precisar, a nosso ver, de muito repouso para se revelar com mais categoria. Não nos admiraríamos, todavia, que daqui saísse um grande vinho no futuro.

16,5++

7 comentários:

João de Carvalho disse...

Não sabia que o aroma animal fazia parte dos vinhos Trincadeira... a não ser que seja defeito, visto que neste caso a sua presença de ligeireza tem pouca.

Pessoalmente não costumo dar grandes elogios a vinhos onde o animal se mostra presente e teima em sair do copo, casos há mesmo vindos de fora onde o animal é pequeno e refina um pouco a complexidade do vinho, neste caso parece que não é bem assim.

O que me leva a perguntar após ler a nota de prova, se a nota atribuída é pela qualidade do relinchar do cavalo.

Pedro Sousa P.T. disse...

No jumbo Cascais também está com um preço muito apelativo o Cabernet Sauvignon da Casa Cadaval de 1999. Há por aí alguma informação sobre este vinho?
Comprei lá o Vinhas Padre Pedro 2004 reserva também por 7€ e qualquer coisa. O J. P. Martins no seu guia dá um 16,5. Suponho que seja uma mais valia, não? O 2005 reserva também está a um bom preço. Este Trincadeira nunca provei, mas vou tomar nota, porem gostei muito do Pinot Noir.

Já agora mais uma questão:
É sobre um vinho que já falámos aqui, o Brunheda Vinhas Velhas. O 2000 a 25€, é uma boa aquisição? Eu julgo que sim, mas estará em pleno com a passagem do tempo?

Abraço

NOG disse...

Caro Pedro,

Já não provo o Casa Cadaval Cabernet Sauvignon (T) 1999 faz algum tempo. O vinho era interessante, mas não sei se a evolução foi a mais favorável. O Padre Pedro é sempre uma boa aposta na relação preço/qualidade.

No que se refere ao Brunheda, já sabe que é dos meus produtores favoritos. Normalmente, os Brunhedas VV só mostram toda a sua qualidade com mais de 5 anos em garrafa (ficando nessa fase super elegantes e menos duros), pelo que tudo indica que o vinho estará num óptimo momento (o 2001, que conheço melhor, está fantástico nesta fase). O preço é bom (quando saiu para o mercado julgo que custava quase o dobro), mas é preciso conhecer quem o vende. Já agora, não é no Jumbo, pois não?

Ab.

NOG

NOG disse...

Caro João,

Lá que cheirava a animal cheirava... mas não desgosto totalmente desse aroma. Poderá ter sido da garrafa, mas também poderá ser estilo, e julgo que vai melhorar.

Forte Ab.

NOG

Pedro Sousa P.T. disse...

Obrigado pelas dicas.
Não é o jumbo, mas é uma garrafeira que deve conhecer bem. Não sei como se chama, mas fica numa ruazinha mesmo ao pé do Hotel Albatroz em Cascais, e que vai ligar com a rua Direita, mesmo no centro.

Abraço

Anónimo disse...

Interessante que se tenha feita uma pesquisa de Brettanomyces sp. e que tenha dado absolutamente negativa, chegou se ao extremo de analisar o vinho para quantificar os níveis de fenois voláteis, tais como o 4-etil-fenol e 4-etil-gaiacol, dando uns miseráveis 40 microg/L, bem abaixo dos limiares de detecção do comum dos mortais... mas sendo vossas excelências provadores " hors norme" admito que possam ter detectado este "bret" como se deleitam de dizer.

Casa Cadaval.

NOG disse...

Ex.mo(a) Sr.(a),

A referência a brett. que utilizo não significa, naturalmente, que exista uma contaminação do vinho com Brettanomyces. Como imagina, as únicas análises que faço são análises sensoriais (quando digo que um branco do Loire cheira a urina de gato, não quero com isso atestar que o vinho acusa urina de gato na sua composição…).

Acresce que não percebo tanto incómodo sempre que se fala de sensação a brett., pois essa referência é associada, quando moderada, a grandes vinhos (eg., basta provar Chateauneuf du Pape novos e outros Rhones, mas também Riojas e alguns Riberas das década de 80 e 90). Aliás, a referência a brett. é utilizada de forma generalizada na crítica de vinhos no estrangeiro mas, estranhamente, a sua referência em Portugal gera sempre tumultos (injustificados a meu ver).

Por fim quero transmitir-lhe que voltei a provar o vinho recentemente junto com críticos internacionais, em prova organizada pelo IVV a que se associou a Cada Cadaval e outros produtores da região, tendo os críticos presentes associado a referência animal ou a brett. ao v. vinho, sem que tal, contudo, tenha sido visto como um aspecto negativo (muito pelo contrário, os críticos ingleses entenderam ser um sinal de genuinidade).

Por fim, escuso mesmo de dizer que gostei do vinho, como resulta aliás expresso no texto que escrevi.

Cordiais cumprimentos,

Saca a Rolha, ou seja, Nuno Oliveira Garcia

PS: No Charme 2007 também pressenti brett. e a nota que dei foi de 18.