sexta-feira, janeiro 29, 2010

Provas


Fiuza Sauvignon (B) 2009

Um texto pequeno, sem derivações, sobre um vinho sem derivações. Um branco, já de 2009, absolutamente focado na procura pelas referências à casta Sauvignon Blanc que países produtores como a Nova Zelândia, a Austrália e a África do Sul nos têm vindo a habituar. Ou seja, um Sauvignon directo, sem nenhuma concessão nem procura por complexidade, aroma a relva cortada de fresco, a ligeiro xixi de gato, a vegetal imberbe e a um maracujá verde.

Um branco que se sugere a acompanhar comida exótica e levemente picante, sobretudo num dia quente. Um Sauvignon, com preço imbatível abaixo dos €4, que não fica atrás do que se vai produzindo em massa por esse (novo) mundo fora, bem longe do Vale de Loire, berço de alguns dos mais minerais e deslumbrantes brancos franceses.

14,5 - 15


Próximas provas: Negreiros (T) 2007; Quinta da Sequeira Reserva (B) 2008; Quinta dos Avidagos Grande Reserva (T) 2007; Apegadas Qta Velha (T) 2007; Apegadas Qta Velha Grande Reserva (T) 2007; Altas Quintas (B) 2008; Esporão (Esp.) 2007

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Provas



Quinta do Francês (T) 2007

O enófilo mais atento já estaria à espera que o que se segue viesse, mais tarde ou mais cedo, a acontecer: a erupção de um belo tinto argarvio. Na verdade, o Algarve, apesar da longa ausência na produção de vinhos de categoria cimeira, não tem estado propriamente alheio à modernização vitivinícola, e são vários os sinais: (i) em primeiro lugar, cada vez existem mais vinhos feitos de forma séria e com o auxílio de enólogos competentes, (ii) depois, existem já duas ou três casas produtoras que, mesmo em tempos de crise, não têm tido qualquer problema com o escoamento dos seus vinhos (esgotam com frequência sobretudo os brancos e os rosés), (iii) por fim, a construção recente de um par de adegas modernas e vistosas capazes de atrair muitos visitantes (essencialmente turistas veraneantes, mas visitantes são visitantes), tantos já que fazem (ou deveriam fazer) inveja a outras regiões ditas com mais notoriedade.

Pois bem, a nosso ver, só faltava mesmo esta novidade para confirmar o renascimento da região, a da produção de um belo tinto algarvio - é certo que já existiam outros interessantes na região, mas este está, decididamente, um furo acima. É certo também que este tinto da colheita de 2007 não nos faz recordar a região mais solarenga do país (em prova cega, está entre o Douro e Alto Alentejo), até porque tem frescura, alguma acidez, e muita - mas mesmo muita - garra. Mas, talvez a qualidade que mais apreciámos neste tinto seja outra ainda - a notável simultaneidade entre o estilo novo-mundista que adoptou e algumas "não concessões" que pratica com os seus taninos sérios e ausência de sobre-maturação.

A partir das castas Trincadeira, Aragonês, Cabernet Sauvignon e Syrah, plantadas em encostas xistosas do Rio Odelouca (Silves), e com 20 meses em barricas de carvalho francês, apresenta-se com uns equilibrados 14% (hoje em dia 14% é uma cifra razoável, comparado com o que se pratica um pouco por todo o país). No copo apresenta-se encarnado muito escuro, quase ruby, com transparência ligeira.
+
Nariz com estilo guloso mas sem revelar fruta excessiva, aqui e ali ligeiramente austero e fechado (como gostamos) quase rústico, a madeira ampara mas não está, felizmente, exuberante. A prova de boca confirma os melhores auspícios, larga/ampla, taninos saborosos e impecáveis no desenho com tanto de garra como de cetim. Final médio, mas em construção, poderá melhorar.

A cerca de €18 a garrafa, está um conjunto muito afinado, tudo óptimas indicações para o que o futuro pode reservar, enfim um nome a não esquecer este da Quinta do Francês. E sim, o produtor é francês (!), Patrick Agostini de seu nome.

16,5-17


Próximas provas: Fiuza Sauvignon (B) 2009; Negreiros (T) 2007; Quinta da Sequeira Reserva (B) 2008; Quinta dos Avidagos Grande Reserva (T) 2007; Apegadas Qta Velha (T) 2007; Apegadas Qta Velha Grande Reserva (T) 2007; Altas Quintas (B) 2008; Esporão (Esp.) 2007

quarta-feira, janeiro 13, 2010

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Arundel (T) 2007

Regional Alentejano, produzido por Joaquim Pedro Arnaud em terras de Pavia, distrito de Évora entre Mora e Cabeção (as mesmas terras que produzem um excelente azeite também engarrafado pelo produtor). Em 2007, o lote, praticamente opaco na cor, foi constituído por Aragonês, Trincadeira e as cada vez mais inevitáveis (pelo menos em solos alentejanos) Syrah e Alicante Bouchet.

Aroma muito limpo e intenso, com fruta madura – mais preta que encarnada – e directa, com as castas Aragonês e Syrah a muito bom nível, ligeiro chocolate que agrada por não ser impositivo e madeira sem baunilha. Em suma, uma prova de nariz com fruto muito bonito, boa complexidade e sem exageros.

Na boca, a entrada apresenta-se mais macia que robusta, mas a meio do palato surge um veio mais rude a revelar carácter (certamente do Alicante) potência e taninos - tudo muito bem! Acidez mediana e final muito interessante, longo e saboroso, em crescendo.

Uma bela surpresa! Um tinto equilibrado, prazenteiro e a menos de €20. O que pedir mais?

16,5-17


Próximas provas: Quinta do Francês (T) 2007; Fiuza Sauvignon (B) 2009; Negreiros (T) 2007; Quinta da Sequeira Reserva (B) 2008; Quinta dos Avidagos Grande Reserva (T) 2007; Apegadas Qta Velha (T) 2007; Apegadas Qta Velha Grande Reserva (T) 2007

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Provas comparadas


Verdelho

Dois brancos em prova produzidos a partir de uma mesma casta, cada vez mais em voga, Verdelho. Dois terroirs, a ilha da Madeira e o Azeitão (Setúbal).

O Primeira Paixão (B) 2007, directamente da Pérola do Atlântico, apresenta um estilo seco, muito seco. Subtil e tímido no nariz, com notas vegetais a comandar as hostes, secundadas por uma panóplia delicada de frutas tropicais exóticas como ananás-banana. A boca mantém o registo, ligeiramente "crispy", nuances amargas no fim de boca, e muita competência na hora de acompanhar comida. 16,5

O Colecção Privada DSF Verdelho (B) 2008 é, em comparação com o anterior, mais exuberante, desde logo mais "evidente" na vertente da fruta tropical no nariz. É também mais gordo, menos seco portanto, com um final de boca cativante mas menos fino. Um verdelho para quem gosta de emoções fortes, muito ao estilo de alguns "bestsellers" verdejos de Rueda (Espanha), mas nem por isso menos interessante. 16,5

Inevitavelmente parecidos - porque ambos produzidos a partir de uma casta que, por norma, é facilmente identificável na prova de nariz -, têm, todavia, perfis diferentes: mais austero o madeirense, mais emotivo o continental. Ambos os vinhos revelam belíssima acidez e boa capacidade gastronómica. Uma coisa é certa, temos casta! O preço de ambos ronda os €15 por garrafa, talvez um pouco menos.