sexta-feira, outubro 31, 2008


Altas Quintas (T) 2005

De toda a gama Altas Quintas, este poderá ser, juntamente com o Mensagem Aragonês que trataremos daqui a uns dias, a melhor relação preço-qualidade. Produzido a partir de Trincadeira, Aragones e Alicante Bouschet e com estágio em balseiros de madeira e barricas novas de carvalho francês durante 12 meses, está como que a matriz do projecto Altas Quintas, isto é, demonstra numa assentada, 1. estrutura, 2. frescura e 3. persistência no palato. De resto, na cor está cereja escuro quase opaco. No nariz, começa por revelar madeira teimosa (ainda que equilibrada), mas é o fundo balsâmico e especiado (pimenta, cravinho, canela com baunilha) que mais cativa a par de uma fruta adocicada. Boca com cariz vibrante (mas não de perfil nervoso), carregado nas notas de chocolate preto bem visível na componente amarga e levemente picante no fim de boca.
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Claramente feito, e numa região a isso propícia, para guardar ("build to last" como os americanos dizem dos seus automóveis), vai mostrar todo o seu potencial daqui a dois ou três anos e beber-se bem até 2015. Se conseguir comprar a menos de 18€ e quiser ou puder guardá-lo, vai valer muito a pena. Se for para beber novo, acompanhe com comida pesada.


16,5-17


Próximos vinhos: Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005; Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006

domingo, outubro 26, 2008


NOVIDADE:

Vale de Pios (T) 2005

Absolutamente opaco este tinto, com laivos violeta e ligeira espuma. Muito aroma touriga, podia mesmo ser um monovarietal, mas o rótulo lateral esclarece que além da Touriga Nacional (maioria) tembém entra no lote Touriga Franca e Tinto Cão. Não espanta, portanto, o estilo todo ele "Porto Vintage", daqueles secos como nós gostamos. Mais a mais, existe aqui neste duriense um mão de enologia da equipa da Taylors e... está tudo dito. Em suma, tinta da china, referências florais discretas mas presentes (não está muito "falador"). Na boca é um bloco, a precisar de tempo em garrafa (ainda vai evoluir...), e revela um lindo final seco. Não gostei? Pelo contrário, adorei! A menos de €20 recomenda-se em absoluto a quem o encontrar.


17-17,5
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quarta-feira, outubro 22, 2008


Olho de Mocho (R) 2007

Com este texto iniciamos um périplo em redor dos vinhos da Herdade do Rocim (mas teremos vinhos que se vão intrometer no caminho...). O enófilo mais atento, e leitor assíduo das revistas da especialidade, já saberá que este recente projecto brota da aquisição de uma propriedade alentejana sita nas planícies entre Vidigueira e Cuba. Projecto de significativa dimensão e investimento, conta já, além da vinha plantada, de adega e demais instalações modernas e, quase quase, um turismo rural. À frente do projecto está a Eng. Catarina Vieria, com formação na área.
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Nos vinhos propriamente ditos, a gama é bipolar: por um lado o Olho de Mocho (rosé, branco e tinto) e Olho de Mocho Reserva (branco e tinto); por outro lado, o Rocim (por enquanto apenas tinto) na base da gama. De todos, (só) ainda não provámos o tinto Olho de Mocho Reserva, tanto nas suas edições de 2005 como de 2006.

Comecemos então pelo Olho de Mocho (R) 2007 e… começamos bem. Produzido a partir de Touriga Nacional, Syrah e Aragonês, temos aqui uma bonita cor ruby intensa (entre o cereja maduro e o rosa escuro) praticamente sem laivos salmonados. Nariz exuberante de fruta vermelha (framboesa e cereja) mas também mais madura (amora), com ligeiríssimo apontamento vegetal, num conjunto que faz adivinhar doçura excessiva na prova de boca. Enganem-se! Na boca, não sendo o rosé mais fresco que já provámos de 2007, está felizmente pouco dado a excessos, é bem saboroso e com complexidade acima da média, e mostra acidez indispensável para fugir ao estereótipo do "rosé-alentejano-rebuçado". Acresce um final de boca convincente e, tudo ponderado, a conclusão que estamos perante um belo rosé, que permite combinações gastronómicas tradicionalmente apenas aptas a vinhos tintos.

A menos de €8 não é barato, mas como já desabafámos no passado recente (a propósito desde vinho), infelizmente é cada vez mais raro encontrar rosés que sejam bons e baratos... uma política de preços a mudar urgentemente neste país.

15



Próximos vinhos: Altas Quintas (T) 2005; Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005; Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006

sábado, outubro 18, 2008

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Crasto (T) 2007
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De volta à "análise vinícola", de volta ao Douro, de volta à Quinta do Crasto. Depois da estreia do Crasto (B) 2007, da continuidade tranquila proporcionada pelo Quinta do Crasto Reserva (T) 2006 (também conhecido por "Vinhas Velhas"), eis o mais pequeno Crasto. Esgotado que está o tinto de 2006 é caso para provar já o mais recente 2007.
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Ora, de tudo o que se pode dizer deste tinto sem madeira (unoaked para os anglo-saxónicos), é que, em pequena escala pois claro, revela ter duas das melhores características dos seus irmãos mais velhos. Em primeiro lugar, a "fruta Crasto", quer isto dizer uma calda de frutos vermelhos e outros pretos bem maduros num conjunto sedutor. Depois, o "carácter aveludado" de alguns grandes Crasto também aqui se sente (ou melhor, pressente), o que é algo extraordinário se pensarmos que o vinho, para além de custar menos de €9, foi produzido, pela primeira vez, com uma percentagem de uva de uma nova quinta no Douro Superior recentemente em exploração.
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É, naturalmente, um vinho bem mais simples do que os restantes da gama, muito mais directo e com uma acidez menos domada (lá está a falta da madeira) e corpo de menor concentração. Mas que sabe bem, isso sabe, e acompanhará muito bem uma miríade de pratos de gastronomia portuguesa. Com este tinto não é preciso ter cuidados... é por no copo e já está!
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15,5


Próximos vinhos: Olho de Mocho (R) 2007; Altas Quintas (T) 2005; Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005; Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2006; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006

terça-feira, outubro 14, 2008


Feiras dos vinhos nos hipermercados
- 2 reflexões e meia dúzia de sugestões

Todos os anos a mesma situação ocorre, não importa em qual Feira dos Vinhos pois já aconteceu em todas. Desta feita, é no ECI (pelo menos no da Beloura) que se anuncia um vinho - no caso, o Valle Pradinhos (B) 2007 -, e a um preço interessante, mas nada de o encontrar nas estantes da feira. Lembramo-nos bem de várias feiras passadas em que após ter encontrado no folheto promocional um ou dois desejados vinhos nos quais iríamos investir algumas das nossas poupanças eis que, chegados ao hipermercado, não os conseguíamos encontrar. Por vezes, não era uma apenas questão de ruptura de stock, era mesmo falsa informação! Por outro lado, à excepção do referido branco de Macedo de Cavaleiros, que julgamos não existir na feira do ECI até prova em contrário (ao que parece, pelo que me dizem nos comentários, existiu no de Lisboa), pouca coisa há a registar, talvez o Herdade Grande Colheita Seleccionada (B) 2007 a menos de €5 e pouco mais, o Catarina (B) 2007 pelo mesmo preço e uma ou duas novidades espanholas.

No Continente, para além de dezenas de vinhos abaixo dos €2 (o que motivou aliás o texto de João Paulo Martins na sua crónica no semanário Expresso), o destaque segue inteiro para a promoção dos vinhos da Herdade do Meio (HdM). Com descontos de cartão, redução no preço e tudo mais, é possível, em três visitas a um Continente, comprar três garrafas de Herdade do Meio Garrafeira (T) 2003 (ou 2004) e duas de Herdade do Meio Homenagem (T) 2004, tudo por pouco mais de € 45. O cliente fica satisfeito, mas é de estranhar este tipo de promoção e avisa-nos que o projecto da HdM pode não ir na melhor direcção. É certo que se pode falar na parceria entre a Sonae (Modelo/Continente) e a HdM - vale a pena lembrar que a HdM, do empresário João Pombo, recebeu em tempos um reforço de capital, com a entrada da Investalentejo, participada da Sonae SGPS -, mas não é razão suficiente para desvalorizar o vinho. Sim, porque é de desvalorizar o vinho que se trata. Quem vai comprar a €30 (PVP na maioria das lojas) o Herdade do Meio Garrafeira 2003 ou 2004 nas lojas pelo país fora? Quem vai comprar a €30 as próximas colheitas do Herdade do Meio Garrafeira? Não nos lembramos, efectivamente, de nenhuma descida de preço recente assim tão forte, ainda que motivada por questões de parceria societária. De resto,ainda no Continente e a título de sugestões, talvez sejam boas opções o Entre II Santos (T) a menos de €3,50, o Azamor (T) 2004 a menos de €7 e o Pequeno Pintor (T) 2005 a menos de €8 e (no Jumbo, dizem-me que o Pequeno Pintor está a menos de €6) e o Grou II (T) 2006 a menos de €6.
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segunda-feira, outubro 06, 2008

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Land and Vineyards

Já tínhamos conhecimento deste conceito noutros países produtores do néctar divino, mas em Portugal a empresa Sousa Cunha Turismo e o grupo Lágrimas Hotels & Emotions serão certamente pioneiros no conceito.

Em Montemor, terra de bom vinho (assim de repente, basta lembrar o tinto Vale do Ancho), irá nascer um empreendimento de excelência que consiste em pequenos núcleos de casas que dispõe de vinha própria. De resto, e em sistema do tipo condomínio, haverá ainda uma adega comum, um enólogo comum (Paulo Loureano já se associou ao projecto), sala de armazenagem de barricas comum, winebar, etc… A cereja em cima do bolo é o facto de cada proprietário poder vir a ter "o seu" vinho, com o seu nome na garrafa, enfim com um nome que lhe apetecer… Os núcleos de casas, umas maiores que outras, umas mais isoladas que outras, são projectadas por arquitectos de renome, assim como as demais infra-estruturas.

Em suma, garantem os promotores, todo o prazer de ser um vitivinicultor (ou algo parecido), sem ter que cuidar da vinha, pagar ao caseiro, chatices com o enólogo, investir uma linha de montagem, encomendar e testar barricas, e tudo o mais… Claro está, que quem gosta de fazer as coisas integralmente à sua maneira, e aprecia o facto de se incompatibilizar diariamente com o vizinho, poderá achar pouca piada ao conceito. Para os outros, e depois de visitar o site em http://www.l-and.com/ , diríamos ser quase irresistível.

Ainda não se conhece preços, mas por ora é preciso é juntar um trocos e investir!

PS: Bem sabemos que é um pouco grosseiro reconhecer, mas não tenham dúvida que ter o nosso nome numa garrafa tem muita piada… Já tivemos uma na nossa mão e adorámos, apesar da vitivinicultura não ser um sonho nosso.

quarta-feira, outubro 01, 2008


Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas (T) 2006


Existem poucos vinhos portugueses de topo com estatuto de "neo-clássicos". Falando de tintos, temos, no Alentejo, o Marquês de Borba Reserva e o Mouchão (este mais velhinho), e alguns mais (ver comentários a este texto). Em Alenquer, temos os Quinta de Pancas mas esses, ao que parece, já eram (e não sabemos se voltam...), e o mesmo sucedeu com os reservas da Sogrape um pouco pelo país. No Dão, temos os vinhos da Quinta dos Roques, Carvalhais, e alguns tintos de Álvaro de Castro. No Douro, temos os reservas (especiais) da Ferreirinha (o Barca Velha não conta pois é clássico), o Redoma, talvez o Evel Grande Escolha mais uns e outros, e claro... o Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas (Old Vines).

Este último, na versão de 2006, e mesmo sem as uvas da vinha Maria Teresa, está curiosamente mais de acordo com o seu perfil inicial (pelo menos de acordo com a nossa ideia do seu perfil inicial) do que noutros anos. Ou seja, a fruta é ainda mais madura, com madeira vincada e sedutora na versão aparas de lápis, algum queimado, e já um muito ligeiro aroma a caixa de charutos. De corpo cheio, na boca, é quase pastoso, necessariamente jovem mas já bem equilibrado, sempre na vertente sensual. Há ainda um ligeiro travo rústico (que se repete noutros tintos durienses de 2006), e taninos "espigadotes", que evita um perfil demasiado internacional, e que nós gostamos muito.

O seu preço vai-se mantendo longe da especulação, mas o entusiasmo à volta de cada edição deste tinto faz com que por menos de € 26 seja difícil de o encontrar. Difícil de encontrar talvez, mas nada difícil de gostar. Ainda bem! Muito bem!


17 - 17,5

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Próximos vinhos: Crasto (T) 2007; Olho de Mocho (R) 2007; Altas Quintas (T) 2005; Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005; Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007