quinta-feira, agosto 30, 2007


Casa de Vila Verde Alvarinho (B) 2005


A cor carregada faz adivinhar o estilo... é a fruta madura que domina um nariz pouco complexo. A boca tem textura, uma certa dose de peso faz-se notar (e, por isso, tem de se beber bem fresco), e temos mesmo alguma untuosidade... menos acidez do que espera para um vinho verde, mesmo sabendo que se trata de um alvarinho. A casta está bem definida, mas é pena o impacto da fruta tropical não permitir espaço à mineralidade - não parece ser defeito mas feitio, pelo que cabe provar a colheita de 2006 para tirar as dúvidas (apesar de 2006 ter originado, em regra, verdes menos frescos que 2005). Servido a 10º, servirá bem para acompanhar peixe assado no forno. 14,5

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Próximos textos: espumante Vértice Grande Reserva 1992, Duas Quintas celebração (T) s/data; Vila Santa (T) 2004; Sierra Cantabria Gran Reserva (T) 1996; Mirto (T) 2002; Geol (T) 2003

terça-feira, agosto 28, 2007


Quinta do Alqueve 2 Words (T) 2003


Cor profunda, muito escura. O calor da região está bem presente pois ambas as castas predominantes (touriga e cabernet) encontram-se bem maduras. Nariz com muita fruta, à qual se juntam sensações vegetais intensas, boca larga e final imponente. Está um pouco marcado pelo ardor do álcool o qual, todavia, não destoa e até torna o vinho redondo e aveludado. Bom tinto do Ribatejo, forte e de carácter moderno. Difícil não gostar e acompanhará bem um naco de novilho. 16


Próximos textos: Casa de Vila Verde Alvarinho (B) 2005; espumante Vértice Grande Reserva 1992, Duas Quintas celebração (T) s/data; Vila Santa (T) 2004; Sierra Cantabria Gran Reserva (T) 1996; Mirto (T) 2002; Geol (T) 2003

sábado, agosto 25, 2007


Prova: Quinta do Perdigão (segunda ronda)

Depois da primeira ronda pelos tintos da Quinta do Perdigão (ver post infra), deixamos agora a nossa impressão do estreme touriga e do reserva, ambos de 2004 e num patamar de qualidade superior aos restantes.
Vejamos:

Quinta do Perdigão Touriga (T) 2004: Cor púrpura muito escura, verdadeiramente viniosa. Nariz definido e marcante: é touriga do Dão! Violeta, bergamota, casca de laranja, frutos secos. Sensações a ardor quente e a algum álcool que podem saturar o consumidor regular de vinhos do Dão. Surpreende pela suavidade que já apresenta na boca (digamos que não é preciso esperar 2 ou 3 anos por ele); bom trabalho na madeira que se sente (e sente-se a suavidade que transmite) mas não impõe aromas ou sabores. Belo corpo, redondo e com estrutura moderna. Pena o final (com músculo, mas de média persistência) que pedia mais. Em suma, um tinto sedutor, elaborado a partir de touriga genuína do Dão à qual foi adicionado uma dose certa de modernidade.
17

Quinta do Perdigão Reserva (T) 2004: Muito escuro no copo, quase opaco. Nariz intensamente floral com o aroma dominado pela touriga numa versão floral mas adocicada. Boca com fruta, corpo macio, não está muito diferente do estilo do estreme touriga (ver supra), num estilo marcadamente guloso. Contudo, como é vinho de lote, apresenta-se já mais equilibrado, mais gastronómico, mas não menos sedutor. Curiosamente (ou não), também está com mais fruta (ameixa) do que o irmão touriga. Já se pode beber mas valerá mais se guardado por um par de anos. Um tinto que não cansa, fresco e franco. Final longo, persistente. Um vinho menos musculado que o touriga, mas mais complexo... o nosso palato agradece e dá-lhe preferência. Muito bom tinto do Dão a preço não exagerado (a menos de € 25). 17,5
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Próximos textos: Quinta do Alqueve 2 Words (T) 2004, Casa de Vila Verde (B) 2005; Espumante Vértice Grande Reserva 1992; Duas Quintas celebração (T) s/ ano.

sexta-feira, agosto 17, 2007


Prova: Quinta do Perdigão (primeira ronda)

Não é a mais antiga quinta do Dão mas afirma-se como a mais premiada desde 1999. José Perdigão, arquitecto de formação, é o proprietário desta quinta que leva o seu nome aos 7 ha. de vinha todos plantados a uma altitude superior a 360 metros. A enologia está a cargo de Helena la Pastina que tem vindo a transmitir, a par da tipicidade da região, um carácter mais moderno e frutado aos tintos produzidos nos solos graníticos e argilosos de Silgueiro, localidade onde se encontra a Quinta do Perdigão.

Com as castas que tradicionalmente são trabalhadas no Dão – touriga nacional, jaen, alfrocheiro e tinta roriz – a Quinta do Perdigão tem vindo a acumular prémios e boas referências na imprensa especializada. Recentemente, nós próprios ficámos surpreendidos quando, em prova cega e perante 6 grandes tintos do Dão, elegemos o Quinta do Perdigão Reserva (T) 2004 como um dos nossos favoritos.

As mais recentes produções no mercado são todas de 2004, à excepção de um alfrocheiro de 2005 e do rosé de 2006. A prova da gama disponível foi divida em dois momentos: numa primeira ronda, provaram-se os Quinta do Perdigão Rosé (R) 2006, Quinta do Perdigão Alfrocheiro (T) 2005 e Quinta do Perdigão Colheita (T) 2004; numa segunda ronda, foi a vez dos afamados Quinta do Perdigão Touriga Nacional (T) 2004 e Quinta do Perdigão Reserva (T) 2004.

Para já, vejamos a primeira ronda dos vinhos provados:

Quinta do Perdigão Rosé (R) 2006: Para quem está convencido que a cor dos rosés é toda igual este vinho será um curioso desafio tal é o seu tom groselha repleto de laivos violeta e roxos (flor de pessegueiro japonês, diz-nos o rótulo). Depois surge-nos no nariz e na boca um rosé seco e sério; tão sério que admito ser o menos exuberante que já provei da colheita de 2006. Corpo, estrutura e álcool (13% vol.), este é um rosé gastronómico que poderá, contudo, ser servido de aperitivo dado a sua forte secura. Nariz fechado e fresco de pequena/média intensidade. Com ligeiro aquecimento e forte arejamento no copo surgem as notas aromáticas a fruta madura (papaia, damasco) e um ligeiro funcho (do tipo rebuçado madeirense). A boca é gorda, untuosa mesmo, e não existem por aqui referências soltas a fruta vermelha. Final picante e persistente. Um belo rosé que não tem qualquer razão para ser tão tímido. 15,5

Quinta do Perdigão Alfrocheiro (T) 2005: Cor cereja não muito escura. Como é habitual na casta, começa com muita fruta doce no nariz. A boca está mais fresca e com ligeiro toque floral interessante. Pouco depois, surge um nariz a baunilha e caramelo (do tipo refrigerante cola) guloso que não chega, todavia, a incomodar. Cerca de ½ hora depois encontram-se referências minerais e a "coisa fica mais séria" - nós agradecemos! Final médio com persistência mineral. Se servido bem fresco (perto dos 15º), trata-se de um dos mais complexos e interessantes varietais de alfrocheiro que provámos este ano. 15,5

Quinta do Perdigão Colheita (T) 2004: Cor cereja escura com auréola ligeiramente grená. Nariz de intensidade média marcado pelo cariz floral. Sente-se a touriga e pressente-se a jaen e o alfrocheiro. Corpo cheio, redondo e de interessante complexidade. Boca larga, fruta vermelha (do tipo não doce), final longo picante envolto em especiarias. No final da prova o nariz está mais doce e menos floral - é a vez de amoras e cassis dominarem o aroma. Bom trabalho na madeira a qual já está perfeitamente integrada. Em suma, é um tinto equilibrado, fresco, de forte pendor gastronómico, mas que não deixa de revelar um lado sedutor, infelizmente pouco comum nos pares da região.
16,5


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quinta-feira, agosto 09, 2007


Visita à Quinta da Gricha (Churchill's)

John Graham é a alma e rosto da firma Churchill’s. Aliás, só por razões legais - a marca Graham já estava registada é usado por outra conhecida firma - é que a empresa não tem o seu apelido. No início, em 1981, a empresa não sentiu a necessidade de comprar quintas pois "recebia" as melhores uvas de quintas hoje muito conhecidas. Mas, como todos os gentlement agreements acabam por ruir (nem que seja com a morte de uma das partes), John Grahm deixou de beneficiar dessas uvas e teve que comprar terra com vinha. E foi assim que adquiriu duas quintas: a Quinta do Rio, localizada no rio Torto, e a Quinta da Gricha. Tivemos a oportunidade, e o privilégio, de visitar esta última.

A quinta, com um total de 100 hectares, situa-se num local de difícil acesso, mas, apesar da estrada ser complicada de se percorrer (entre alguns penhascos até), é impossível a viagem correr mal pois o pior cenário é perdermo-nos e correr o risco de ir ao encontro das duas quintas mais próximas, nada menos que a Quinta de Roriz ou a Quinta da Tecedeira… nada mau, portanto.

Após uma breve explicação da história da firma Churchill's (by the way, "Churchill" é o apelido da mulher de John), e de um dedo de conversa com Maria Emília Campos (desde o primeiro momento junto da empresa e actual representante de vinhos estrangeiros), foi tempo de prova e almoço mesmo junto aos antigos lagares da quinta.

Logo depois de um Porto branco, foi tempo de começar por provar um Gricha (T) 2002, vinho produzido a partir de vinha misturada com cerca de 20 anos e touriga nacional. Está pois um vinho interessante, com boa evolução e alguma elegância (pelo menos merece uma nota 16). Depois, foi a vez de um Gricha (T) 2005, preto na cor, com um belo nariz, corpo empactante e muito grastronómico. Esta foi, aliás, uma das melhores surpresas do dia (para este belo Gricha uns belos 17 valores) pelo que importa não esquecer este tinto. Houve tempo (e barriga) para um Churchill’s Estates (T) 2005, mais fresco, complexo e equilibrado que o famigerado (mas muito popular) Churchill’s Estates (T) 2004 (e por isso fica com uns 16).

Finalmente os Portos: um Quinta da Gricha Vintage (P) 1999, um belo single quinta mas absolutamente fechado, e a merecer bom descanço (e por isso não leva nota); e um óptimo Churchill’s Vintage (P) 1997, com um perfil quente, de um ano clássico (e também ele quente), com vários anos pela frente mas já preparado para o consumo, com muitas notas doces a lembrar uva passa e um excelente final (17,5).

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Foi assim…



segunda-feira, agosto 06, 2007


Rótulo "Luz" (B) 2006

São apenas 2500 garrafas desta novidade Luz (o nome oficial é "Rótulo" por questões legais), de Dirk Niepoort em parceria com Pedro Abrunhosa.

Sabe-se pouco da contribuição do conhecido cantor do Porto; se o vinho foi "afinado" ao seu gosto, ou se apenas lhe "deu" o nome. Isso também pouco interessa. Mais interessante é o rótulo de ambos os vinhos (o branco é "Luz", o tinto é "Sombra") que apresenta uma imagem de uma lâmpada de baixo consumo a fazer lembrar campanhas pró-ambientais. Para o lote do branco, segundo se diz, foi desviado um lote do "Redoma Reserva" e, por isso, não é de admirar a qualidade apresentada. O preço, apesar das poucas garrafas disponíveis, deve ser inferior ao do "Redoma Reserva" (o que o torna um bela compra).

E… de facto tudo nos remete para o branco topo de gama de Niepoort, ou seja, tudo nos lembra um Redoma Reserva. O nariz fresquíssimo, genuinamente "verde" nas referências a fruto (não há geleias ou "coisas que o valhe", antes espargos), toque mineral cuidado e madeira no ponto. Curiosamente, sente-se mais a madeira comparado com os Redomas Reservas: será porque está a ser comercializado mais cedo? Será a preferência de Pedro Abrunhosa? Não sabemos. Mas não é essa maior untuosidade que retira o brilho a tanta "Luz", pois o vinho mantém-se alegre na boca com um final longo e muito saboroso.

Passada ½ hora e o nariz mantém-se fechado, apenas notas vegetais (pepino) e minerais (sílex) se fundem em harmonia. Na boca, o vinho ganha complexidade, a fruta é mais madura (é importante conservá-lo abaixo dos 14º) mas não chega a cansar, pelo contrário.
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Grande branco, como se esperava... "vindo de quem vem".

17

Próximos textos: Visita à Quinta da Gricha (Churchill's), prova da colheita 2004 da Quinta do Perdigão, Quinta do Alqueve 2 Worlds (T) 2004, Vértice Grande Res. 1992

sexta-feira, agosto 03, 2007


Projectos Niepoort: Chardonnay e Riesling

"Gritar ao vento" que os brancos da Niepoort são do melhor que se faz por Portugal é absolutamente desnecessário. É uma repetição a evitar...

Como sabemos, vinhos como Redoma ou Redoma Reserva são hoje pleonasmos de grandes vinhos. Mas quis Dirk Niepoort que se conhecesse parte das suas experiências, i.é, parte dos vinhos que faz pela vontade de conhecer mais, de "ir mais longe" (frase feita, bem sabemos) e não numa lógica comercial. Como cobaias que gostamos de ser (no que toca a néctares vínicos), não hesitámos em provar dois recentes projectos do autor: o Projecto Chardonnay (B) 2004 e o Projecto Riesling (B) 2005.

Como seria de esperar, castas e anos diferentes significam vinhos diferentes. Temos, assim, dois brancos bastante diferentes entre si, mas (feita a prova) com um denominador comum: a frescura.

No chardonnay a frescura vem da própria fruta que não cansa e é eficazmente fresca: é o vinho português mais parecido com um chablis que conhecemos. A fruta tropical como que se "transmuta" em notas verdes, e o trabalho da madeira não chega a torná-lo pesado nem meloso. Em suma: notas maduras de fruta que se equilibram em referências vegetais encantadoras. Um vinho absolutamente gastronómico e de muito prazer!

No riesling a frescura é sobretudo acidez. Atenção, não é um branco fácil face a tanta acidez, ao seu nariz reduzido e à (falta de) cor perto da transparência. Mas é um branco francamente refrescante, generosamente seco, profundo nas notas minerais e com um final enigmático e "picante". Muito interessante e bem diferente, como seria de esperar, dos brancos mais comuns em Portugal.
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16,5 ao chardonnay (hum... talvez a acompanhar um peixe assado).
16 ao riesling (hum... porque não com camarão cozido?).

Próximos textos: Luz Niepoort/Abrunhosa (B) 2006, visita à Quinta da Gricha (Churchill's), prova da colheita 2004 da Quinta do Perdigão, Quinta do Alqueve 2 Worlds (T) 2004.