domingo, dezembro 31, 2006

2006 em revista


O que segue não se trata de uma lista dos melhores vinhos provados em 2006. Muito menos de uma selecção rigorosa das novidades ou estreias que viram luz neste ano que finda. Em rigor, nem se trata sequer de uma lista… mas antes de um apanhado de boas coisas nacionais – sobretudo surpresas e estreias, mas também algumas confirmações – com que nos deparámos em 2006 e nos lembrámos de escrever. Como é natural, os preços são meramente indicativos.

Comecemos pelas surpresas. O ano de 2006 foi o ano da afirmação do Vértice (T) 2003 (€ 12), um dos melhores e mais acessíveis tintos do Douro. Elegante, sem problemas ou dilemas de estilo, directo e frutado qb foi, sem dúvida, uma das melhores surpresas do ano que está prestes a terminar; a crítica internacional muito favorável tornou-se, por isso, inevitável. Outra surpresa acessível foi o Ermelinda Freitas Touriga Nacional (T) 2003 (€10), que já conta com uma edição de 2004 na mesma linha. Forte e carnudo, mas fresco e revigorante também, é um tinto que merece ser guardado por uns alguns anos na garrafeira.
Mais dispendioso do que os anteriores, mas nem por isso caro, o Quinta da Vegia Reserva (T) 2003 (€ 20) foi um dos vários vinhos do Dão que saltaram para a ribalta em 2006. A par dos nomes mais conhecidos da região (eg., Roques, Perdigão, Pellada), a Quinta da Vegia e o produtor "Casa de Cello" são já um marco no Dão graças aos seus vinhos prazenteiros e com muita "patine".
Do Alentejo, o Grou (T) 2004 (€ 25) foi uma das novidades que mais nos deu prazer beber. Um tinto cheio de cor, incisivo e inesquecível, perfeitamente apto para devaneios gastronómicos de forte impacto. Os tintos alentejanos do produtor "Dão Sul" também surpreenderam: o complexo Monte da Cal Reserva (T) 2003 (€ 9) e o sedutor Monte da Cal Aragonês (T) 2004 (€ 6).
Da Bairrada, o projecto de Manuel Campolargo parece arrastar toda uma região aparentemente parada para as prateleiras das garrafeiras e supermercados. A hiper-criatividade trouxe belos tintos como o Termeão Pássaro Ver. (T) 2004 (€ 17) e o Diga? (T) 2004 (€ 25).
Das Beiras, o pódio é ocupado pelo fantástico Casa de Aguiar (T) 2004 (€ 10), uma marca em ascensão no universo das "Caves Aliança", e que, na colheita de 2004, atingiu um nível elevadíssimo. Menção honrosa também para o Versus (T) 2004 (€ 6), um tinto forte e duro que deu muito de falar na imprensa escrita e na blogosfera, ainda que nem sempre de forma unânime.
Mas o ano de 2006 também foi um ano da confirmação dos tintos da Estremadura. O lançamento dos vinhos da "Quinta de Pancas" - o nem sempre consensual Reserva Especial (T) 2003 (€ 25) e o magnífico Pancas Premium (T) 2003 (€ 45) -, os da "Quinta da Monte d’Oiro" com a estreia do day-to-day Lybra (T) 2004 (€ 12), e os topos de gama dos projectos pessoais dos enólogos José Neiva [Francos Reserva (T) 2003 (€ 25)] e de João Melícias [Fonte das Moças Reserva (T) 2003 (€ 10)], são hoje confirmações mais do que certas, redundância à parte.
Do Ribatejo, e na sequência do melhor vinho de sempre da "Casa Cadaval", mostrou a sua raça um novo tinto de gama média/alta com elevado aprumo e estilo “novo mundista”: o Mythos (T) 2003 ( € 15): néctar escuro e muito poderoso cabaz de ombrear com tintos de outras paragens mais a sul.
Das várias "segundas marcas" que proporcionam muito prazer, os durienses Prazo de Roriz (T) 2003 e Post Scriptum (T) 2004, e o Quinta da Chocapalha (T) 2004 de Alenquer, são três sólidos destaques de 2006 (€ 7 - € 9).
No Douro, sempre o Douro, merece uma palavra de elogio os projectos que começaram a consolidar-se e deram luz ao poderoso Quinta da Touriga-Chã (T) 2004 (€ 30), ao distinto Quinta da Sequeira Grande Escolha (T) 2002 (€ 20) e ao concentradíssimo Odisseia Touriga (T) 2004 (€ 22), entre outros exemplos. Ainda no Douro, para além de várias marcas com tintos ainda não provados - CV 2004, Quinta de Macedos 2003, Gouvyas 2004, Vallado Reserva 2004, Poeira 2004, VT 2004 -, tivémos a confirmação do La Rosa Reserve (T) 2004 (€ 22), talvez o melhor de sempre da casa centenária, bem como dos Quinta de Roriz (T) 2004 (€ 30) e Quinta de Vale Meão (T) 2004 (€ 48).
Nos brancos, o ano de 2006 deu a provar a óptima colheita de 2005 da qual foram lançados vinhos verdadeiramente surpreendentes. Se em 2004/2005 o mercado notou o surgimento de um conjunto selecto de vinhos com muita qualidade, já em 2006 a diferença foi a maior quantidade de propostas cativantes. A par das confirmações do untuoso Esporão Private Selection (B) 2005 (€ 17) e do delicado Soalheiro (B) 2005 (€ 10), ficámos com sede para o floral Tiara (B) 2005 (€ 15) da Niepoort e para o citrino Muros Antigos Loureiro (B) 2005 (€ 6). Isto claro, para não falar de voos mais altos (leia-se Redoma Reserva 2005 a € 30).
Finalmente, nos generosos, o Quinta do Noval Vintage (P) 2004 (€ 60) encheu-nos as medidas. Não é original, mas também não se amam os Portos pela originalidade.
Fica por aqui este périplo de alguns destaques pessoais provados em 2006, com a certeza que muito ficou por escrever, e com o desejo de um 2007 com muito mais para provar e divulgar.
Votos de um fantástico 2007 para todos.
NOG
PS - Ah... já me esquecia, 2006 também foi ano de nova edição de Barca Velha (1999) mas, por motivos vários, só o provarei para o ano.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Reserva Especial Ferreirinha (T) 1986

Abertas mas não decantadas. A decisão pareceu-nos acertada tanto mais que as "borras" foram muito reduzidas. Desta feita, ao contrário do que tem sido a regra com estas reservas, a rolha mostrou-se perfeita em ambas as garrafas.
A cor é um autêntico assombro; pode mesmo dizer-se que nos enganava totalmente. Pela cor o vinho tem cinco, oito anos no máximo... vermelho intenso, quase vibrante! O nariz inicial está muito reduzido com notas menos agradáveis típicas do estágio em garrafa. Após arejamento mostra aromas terceários nobres como madeira antiga (armários), tabaco e couro. A boca está imperial, com uma acidez pouco vulgar e uma óptima vivacidade. O que peca é mesmo a fruta: com tantas indicações que estaria em plena forma (cor, acidez, como já referimos) sentimos falta dos elegantes morangos e cassis que os "irmãos ferreirinhas", mesmo "velhos", nos habituam. Não somos loucos por fruta, mas este reserva especial deixa água na boca. Mesmo sabendo que já lá vão mais de vinte anos, o palato ficou algo pobre e o final quase mediano. É morrer na praia...

domingo, dezembro 24, 2006

Feliz Consoada

Para aqueles que têm dúvidas de última hora a respeito dos vinhos a beber na Consoada, aqui fica a sugestão para um repasto bem regado.
À vossa!
NOG
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Quinta dos Minotes (BV) 2005
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Chardonnay Projectos Niepoort (B) 2004
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Numanthia (T) 2003
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Esporão Private Selection Garrafeira (T) 2001
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Reserva Ferreirinha (T) 1996
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Quinta do Noval vintage (P) 2003

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Um bom ano


Russell Crowe aos gritos em pleno Coliseu de Roma de espada em punho é uma imagem difícil de esquecer. Talvez pela maneira impressionante como se vestiu de Maximus (também pela mão de Scott), seja difícil agora convencer-nos que pode ser um "broker" da bolsa de Londres que, paulatinamente, descobre uma paixão antiga por uma vinha algures em França herdada de um tio (a localização exacta da vinha não é revelada para não ferir susceptibilidades...). Também por isto, o mais recente filme de Ridley Scott e Russell Crowe não deverá esperar o mesmo sucesso de "The Gladiator" (2000). Mas "A Good Year" fala de uma vinha…
A ideia central do filme gira em torno do dilema moderno do Homem que vive numa metrópole e vive para o seu trabalho e sucesso. Como é endinheirado, julga ter conquistado tudo na sua vida mesmo que o contacto com a natureza, e, já agora, com o amor e família, estejam totalmente ausentes do seu quotidiano. Depois, descobre que herdou uma vinha em França e vai visitá-la a fim de conhecer o seu potencial de venda. O resto já imaginam.
De Ridley Scott estou sempre à espera de um pouco mais, pois ainda revejo com muito agrado as suas primeiras e auspiciosas películas. Em todo o caso, para quem está a descansar (como é o meu caso) ou está de férias, é uma boa distracção de hora e meia que, ainda por cima, fala um pouco de vinhas, pisca o olho a Mondavi e dá dicas sobre "vinhos de garagem". Mas atenção, tem pouco que ver com "Sideways" (2004) e muito menos com "Mondovino" (2004).

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Esporão Trincadeira (T) 2004


Os monocastas da Herdade do Esporão têm vindo a melhorar significativamente. Este é talvez o melhor Trincadeira produzido pelo Esporão (Finagra) que provámos. A cor esteve correcta num vermelho escuro discreto. O nariz impecável, com notas florais quentes e mesmo alguma esteva. Complexidade média, concentração elevada e corpo elegante. Fruta madura em camadas e um toque ligeiro balsâmico tornam o conjunto muito sedutor. Tudo afinado, a madeira quase não se sente. Um vinho de laboratório para ser consumido já. Pena o final, apenas médio/curto.
Bom (16). A menos de € 12.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Quinta da Pedra (B) Alvarinho 2004


É verdade que o Inverno não pede sempre por um branco verde fresco. Mas quando nos deparamos com camarão frito e uma dourada escalada (escalada mas conservando o suco do bicho) é difícil resistir. A colheita de 2004 não foi das melhores para os verdes e os Alvarinhos da Quinta da Pedra teimam em apostar na vertente vegetal. Este que se provou veio atestar tudo isso. Cor marcada e amarela, bouquet pouco evidente. Na boca a fruta andou desaparecida, só muito ao longe se sentia um pouco de melão picante. Falta-lhe garra mas pode ser do ano. Já as notas vegetais, ainda que não exuberantes, foram constantes e bem blendadas com uma acidez fina e elegante. É um daqueles Alvarinhos que "aproveita" a fama da casta e que pouco acrescenta, nesta colheita de 2004, ao panorama existente. Em todo o caso, mostrou se um branco eficaz na hora de atacar o marisco e peixe.
Suficiente (13). A menos de € 10.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Dica de restauração: Néctar

Nem dez dias da inauguração tinham decorrido e já estávamos sentados numa das bonitas mesas do mais recente winebar de Lisboa. O "Néctar" abriu portas no final de Novembro em plena R. dos Douradores na Baixa (uma paralela à R. Augusta). A decoração é simples, valorizando os arcos de pedra de um bonito rés-do-chão pombalino. Fazia frio no interior (pedimos para ligar o aquecimento), sensação infelizmente comum na restauração em Portugal que teima em não investir em bons caloríferos.
Existe uma carta para jantar e outra, mais interessante, para petiscar à base de queijos, saladas e enchidos. A carta de vinhos não é monumental mas tem uma escolha criteriosa e nota-se a preocupação em disponibilizar alguns vinhos que se encontram na berra. Todos os vinhos podem ser consumidos a copo pois decidiu-se investir - e bem! - no sistema “Le Verre du vin” (na versão simples). O serviço esteve eficiente e os copos eram de boa qualidade. Um dos vinhos foi provado a uma temperatura que não a adequada mas foi rectificada aquando do serviço. Provámos o "Quinta dos Roques Encruzado (B) 2005" e o "Azamor (T) 2003". O primeiro confirmou ser um dos vinhos brancos mais minerais de Portugal, e o segundo primou por um estilo Novo Mundo que vem sendo habitual em alguns (cada vez mais...) produtores do Alentejo.
Uma visita com um saldo muito positivo. Sem dúvida uma experiência a repetir no coração da Baixa lisboeta.

domingo, dezembro 10, 2006

K(olheita) (T) 2002


Fim-de-semana grande no Algarve: não o Algarve da praia, do calor e das filas no Verão, mas da calma fortificante e das águas santas das Caldas de Monchique. Após banhos retemperantes, foi tempo de revisitar o "Veneza", restaurante/garrafeira perto de Paderne em Ferreiras (para a primeira visita ver aqui). As comidas – próprias do Inverno – estiveram óptimas com destaque para o ensopado de javali (com um toque de alecrim). Nos vinhos a escolha é obra demorada, pois a variedade é próxima do infinito. Escolhemos um "K 2002" do projecto "Kolheita de Ideias" (que belo nome!) dos três amigos Rui Moreira, Luís Soares Duarte (eg., "Gouvyas", "Infantado"), Francisco Ferreira ("Vallado"). No copo mostrou-se bonito, cor acertada entre o cereja escuro e o vermelho purpurino. Corpo cheio, muito elegante no nariz, bom balanço entre o álcool e a fruta. A madeira está totalmente integrada, tudo em harmonia. Guloso q.b., com frescura vibrante (típica do ano), tem fruta com realce para a bergamota, também evidente no final médio/longo. Belo tinto do Douro a provar que a colheita de 2002 (ou, pelo menos, este Kolheita) esteve e está a um bom nível.
Bom + (17). A menos de € 20.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Adega Coop. Borba Reserva (T) 2001


A colheita de 2001 tem trazido altivos momentos com tintos alentejanos (ver aqui e ali). Este, também conhecido por “rótulo de cortiça”, acompanhou bem um entrecosto à Mestre d’Avis no "Grémio" (Évora), mas não passou disso. Na cor nota-se a evolução com um ligeiro tom laranja desmaiado, mas não em demasia: bem feitas as contas o vermelho cereja ainda impera. No nariz está certinho, a fruta já quase não tem garra, mas o que ainda persiste faz aguentar bem o vinho que está naturalmente macio e com notas a especiarias. Na boca já domina a madeira com sensações a carvalho queimado e algum balsâmico, a fruta está sisuda, e pouco mais. Se existe alguma garrafa por abrir deste alentejano de 2001 é altura de a beber sem saudosismos. E rapidamente.
Suficiente + (14,5).

PS – Faz dias, no Hotel Ritz, foram apresentados os novos Adega Coop. de Borba, de estilo mais moderno e com cara lavada. O "Reserva (T) 2004" mostrou-se em forma e continua a apostar no rótulo de cortiça, agora com dimensão mais pequena contribuindo para um resultado gráfico final menos rústico.
PS 2 - Outras provas a este vinho podem ser encontradas no Copo d' 3 e nas Krónicas Vinicolas.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Vértice (T) 2003



Já íamos avisados – é inegável que a opinião dos outros nos pode influenciar, mas neste caso a qualidade do vinho é uma evidência. A todos.
A cor está rubi escura, profunda e bem bonita com laivos e tons arroxeados. Nada de opacidades! O nariz revela-se muito afinado e sedutor. As notas a baunilha derretem-se (literalmente) na fruta vermelha macia e quente – que intenso prazer... Na boca atesta a sensualidade do nariz, fácil de se beber (elogio), muito acetinado. Peca apenas o final, guloso mas curto (ou curto demais para tanta gulodice).
Uma única divergência de opinião parece residir num eventual estágio em garrafa: alguns juram que se deverá bebê-lo num vértice até 2008, outros pregoam que a cave será o mais indicado para o néctar. Eu? Eu alinho, quase sem dúvidas, pela primeira tese: beber já pois não vejo como o vinho possa melhorar mais (a não ser que fosse outro o vinho e de uma qualidade ainda superior). Um belo tinto do Douro a um belíssimo preço.
Bom + (17). A menos de € 12.

sábado, dezembro 02, 2006

Quinta da Sequeira GE (T) 2002



Respondendo ao desafio lançado pelo Vinho da Casa - ie., uma prova a um vinho de 2002 -, o vinho ora provado é uma grande escolha. E é mesmo! Este "Quinta da Sequeira Grande Escolha (T) 2002" mostra-se perto do negrito no copo e o aroma é marcadamente vegetal com nuances simpáticas de madeira de qualidade (10 meses em barricas de carvalho Allier e Limousin).
Na boca mantém um certo estilo da casa, entre o carácter terroso e notas a fruta muito madura. Já está pronto para consumo mas eu esperaria por ele mais um ano. Final elegante com notas frescas a esteva e um fundo animal que pode, aqui e ali, assustar os mais desprevenidos.
Bom (16). A menos de € 20.
PS: Aqui está um tinto douriense de 2002 bem acima da média. Daqui a um ano estará provavelmente melhor. Uma imagem cuidada e consistência na gama (dos tintos aos brancos, passando pelos rosés) a Quinta da Sequeira é um projecto a ter em muita atenção.